sexta-feira, dezembro 18, 2009

Lembrando os Tempos de Início de Faculdade

Um dos blogs que eu acompanho publicou um texto que me fez lembrar os primeiros semestres da faculdade.

a quantidade de disciplina completamente sem sentido é preocupante. Por exemplo, no primeiro período eu deveria ter estudado Comunicação e Artes. Cheguei imaginando que teríamos história da arte, linhas da arte e tal e o que tivemos? Um semestre inteiro de videoarte! O que isso acrescentou em minha vida (acadêmica)? NADA! PORRA NENHUMA! Isso sem contar com a Teoria da Comunicação que a professora passa textos onde filósofos discutem universos paralelos, professor de Marketing que, quando resolve aparecer, diz que "aula presencial com aluno e professor em sala de aula é coisa do passado" ou que se estivesse no lugar de nós, alunos, "estaria na praia surfando", isso sem contar com outros exemplos...


Nós todos chegamos à tão sonhada Universidade Federal, após enfrentar a pressão do Vestibular, esperando que o ensino seja algo como as aulas dos melhores colégios particulares, com os melhores profissionais do ramo ministrando cada matéria. Mas, o que encontramos, muitas vezes, é uma combinação de descaso por parte de alguns professores e de muitos alunos. Vários professores se acomodam na estabilidade do serviço público e não preparam aulas, transformam o semestre letivo em organização de seminários (em que os próprios alunos dão as aulas, sem nenhum conhecimento sobre o tema), e muitas vezes matam suas próprias aulas. Para que os alunos não reclamem, esses profesores costumam manter métodos de avaliação frouxos, tais como a auto-avaliação, a repetição das mesmas provas dos semestres passados, a tolerância à cola, etc. Os alunos, que em sua grande maioria pouco se importam com o aprendizado, têm uma preferência inata por obter a aprovação (e o diploma) fazendo o menor esforço possível. Por isso, na maioria dos casos, é o aluno que faz o próprio curso.

Felizmente no curso de Economia, uma minoria de professores se comporta assim. Meu contato com os "picaretas" foi exatamente durante o que o autor do blog chamou de ciclo básico, isto é, os primeiros semestres do curso em que temos predominantemente disciplinas de outros departamentos (como administração, sociologia, direito, ciência política, etc.). Felizmente, no meu caso, não cheguei a passar por uma situação tão constrangedora quanto essa aula de marketing descrita no texto do blog. Na economia, as principais "falhas didáticas" que certos professores têm são outras.

Em primeiro lugar, alguns professores radicais de esquerda transformam a sala de aula em palanque político, e se ofendem pessoalmente quando algum aluno questiona suas posições. Eu já presenciei a situação de um colega meu ser xingado por isso. Em segundo lugar, outros professores (predominantemente heterodoxos) fazem da disciplina uma oficina de leitura dos seus autores favoritos, mesmo que estejam desatualizados, ou mesmo que de utilidade duvidosa em termos acadêmicos (me lembro de ter lido artigos de autores da União Soviética discutindo o desenvolvimento das relações capitalistas no campo). Nesse caso, a análise econômica se transforma na aplicação direta dos conceitos desenvolvidos por esses autores à realidade atual. Se não bater, pior para a realidade atual, é claro. Por último, alguns professores (agora, predominantemente ortodoxos) transformam a sua disciplina em algo muito mais complicado do que realmente é, tornam-se incompreensíveis meio que de propósito, já que tem a necessidade psicológica de serem vistos como "gênios incompreendidos" pelos seus alunos e colegas.

Acho sempre bom prestar atenção nas falhas dos professores para que, quando estivermos no lugar deles, evitemos repeti-las.

3 comentários:

J.P. Flores disse...

"(...) para que (...) EVITEMOS" ou "para evitarmos repeti-las quando estivermos (...)"

desculpa, sou mala hehe mas a verdade é quis comentar porque realmente gostei de ler isso. E percebi no primeiro semestre algumas dessas falhas. Em parte, concordo com alguns professores sobre a falta de necessidade de aula presencial, já que boa parte de alguns cursos é realmente uma série de referências. Mas isso varia de acordo com a área, claro. Estudando Letras me deparei com muito do que foi mencionado no post, especialmente no primeiro semestre.

Ainda não decidi qual curso tentarei na próxima vez, mas espero não perder tempo (e demais investimentos) com disciplinas desnecessárias ou métodos letivos vãos.

Ricardo Agostini Martini disse...

JP,

Corrigi o erro. Também cacei outros "deslizes" ao longo do texto. Obrigado pela revisão, hehe.

Está te formando em letras?

Em relação à necessidade de aulas presenciais, no caso das disciplinas de Economia, elas são importantes, sim. A teoria econômica é fundamentada em raciocínio lógico, que é desenvolvido ao longo de todo o curso de graduação. Assim, se um professor picareta (ou fraco) não conseguir ensinar o que deveria em um semestre, os alunos passarão para a etapa seguinte meio que com um "buraco" em seus cérebros, o que atrapalha em muito o aprendizado nas cadeiras mais avançadas. No final das contas, tudo o que deixamos de aprender no devido momento acabamos tendo que aprender por conta e por pressão no futuro...

Eu fui professor na UFMG esse ano, e ministrei as aulas bem no estilo colégio mesmo (mas sem cobrar chamada): provas sem consulta, aulas expositivas, listas de exercícios, etc. Pode parecer antiquado e chato, mas ainda acho que isso é o que melhor funciona.

Abraço, e muito sucesso nas tuas ecolhas acadêmicas!

J.P. Flores disse...

Só o 'não cobrar chamada' já me parece justo. Um dos motivos que me obrigou a largar a faculdade era a indisposição a aulas 'desnecessárias' (não necessariamente por culpa do professor, mas pelo meu hábito de preferir ter 5 minutos de aula e 45 de leitura). E se for pra aplicar prova, em certos casos não faz sentido que haja consulta - em outros, também, acho válido, desde que as questões exijam esforço do aluno em desenvolver no tópico proposto, e não simplesmente reescrever o que leu no material de consulta.

E, sim, imagino que no curso de Economia a aula presencial faça muito mais sentido do que no estudo das Letras. Seria ingenuidade minha achar que minhas impressões sobre uma faculdade no sul do país se aplicaria em geral; seria como imaginar que a minha facilidade para línguas me torne um potencial laureado com honras em megatrônica, por exemplo.

Abraço, e continue exigindo resultados dos teus alunos. Não quero mais graduados em Economia como a atual governadora do meu estado.