É notável a tendência, nos últimos séculos, que os escritores de ficção têm de buscar lugares mágicos para ambientar suas histórias, como forma de fugir do ambiente monótono e racionalístico em que o autor e os leitores vivem. Nas últimas décadas do século XX, o lugar preferido dos autores de ficção, seja de livros, seja de cinema, é o espaço sideral, um infinito longe da realidade social humana. Já no final do século XIX, enquanto que a Europa se consolidava ao mesmo tempo a Segunda Revolução Industrial, tornando as paisagens urbanas cinzentas, frias e artificiais (no sentido de ser algo fora da natureza) e o processo que Max Weber denominou de "desencantamento do mundo", isto é, a racionalização e a burocratização de todas as relações humanas, os autores de ficção "escapavam" de suas realidades para o mundo selvagem, não-europeu, não-industrial.
Fugir da realidade. Fugir da racionalização excessiva das instituições humanas. Buscar o mágico, o inexplicável, o fantástico que povoa as mentes humanas desde os tempos imemoriáveis. Chega de determinismos superficiais, análises psicológicas e generalizações patológicas, que tanto povoaram a literatura real-naturalista internacional na segunda metade do século XIX. Vamos buscar a natureza, nos encontrarmos como os bons selvagens, em completa liberdade, que éramos antes de sermos dominados por esta prisão chamada de civilização. Esta é uma síntese do pensamento romântico, que influenciou diretamente os contos fantásticos do final do mesmo século.
As Minas do Rei Salomão, de Henry Haggard têm como principais personagens figuras idealizadas no melhor estilo primeira geração romântica: um explorador destemido, exemplo de força e de coragem (Allan Quatermain), um lorde inglês, herói nacional (barão Curtis), um perfeito gentleman vitoriano (capitão John), e um misterioso príncipe africano. Porém, mais importante que todos essas figuras, o principal personagem do livro é a África, o continente selvagem, misterioso, algo como puro, em relação à civilização. Todas as descrições ambientais, com a exceção do deserto que os personagens têm que atravessar logo no início da narrativa, tem algo de paradisíaco: oásis, savanas, animais colossais, aventuras, enfim, a liberdade.
A história central do livro, diga-se de passagem, é totalmente fantasiosa. O barão Curtis e o capitão John contratam o caçador de elefantes Allan Quatermain para explorar as montanhas do centro da África, com o objetivo de encontrar uma arcaica colônia fenícia onde o rei Salomão, de Israel, havia guardado os seus tesouros, incluindo diamantes gigantes. É algo tão absurdo que não vale a pena nem tentar explicar. Além disso, para leitores do século XXI acostumados com a febre do politicamente correto, a narrativa parece preconceituosa com os costumes dos nativos africanos, descritos como superticiosos, arrogantes e indolentes. Contudo, não se pode esquecer que a história foi escrita por um inglês da época vitoriana, o auge do Imperialismo Britânico e do orgulho que acarretou para os cidadãos. Ou seja, na verdade, não há uma rejeição do caráter africano, mas sim uma super-estimação dos personagens britânicos.
O livro, em suma, é uma boa recomendação para quem quer deixar de lado os problemas da vida por um momento e sonhar, viajar para uma terra distante e fantástica.
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Há uma hora
Um comentário:
Oii! :P
Aaaaaaaaa.. mto tri o que tu escreve!
Te adicionei no MSN, tu não entra nunca? =/
Beijos
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