2007 acabou. E esse foi o ano mais marcante, provavelmente, da minha vida, já que toda a minha até então eterna rotina foi quebrada, quando me mudei para Belo Horizonte no dia 13 de janeiro. Se não fosse pela ANPEC, e pela bolsa de estudos garantida no Cedeplar-UFMG, certamente nada disso que eu passei teria acontecido.
Como eu já disse, 13 de janeiro foi o dia que mudou tudo. Após passar quase duas semanas em festas, despedindo-me de todos os meus amigos, embarquei para Belo Horizonte nesse dia. Eu não conhecia nada do que me esperava. Tudo o que eu sabia de BH vinha de (bons) comentários de colegas e professores da faculdade (UFRGS) e de mapas enviados pelo correio pela minha amiga virtual Izabela. Também sabia que três ex-colegas da UFRGS estavam fazendo mestrado no Cedeplar (inclusive, foi um deles, o Rubens, com quem divido república, me indicou o curso, no início de 2006).
Cheguei na cidade pelo minúsculo, e agora aposentado, aeroporto da Pampulha, sob uma forte chuva. Peguei um taxi para ir até o hotel no qual eu tinha reserva, e, pelo caminho, uma agradável conversa com o taxista já me deu uma boa noção sobre o povo local. O taxi me deixou no Centro de BH (Praça Sete), já que a rua do hotel estava fechada para obras. Me lembro que tive que pegar minhas duas enormes malas (a de roupas e a de livros), minha mochila e a pasta do DAECA, e correr cambaleando até a porta do hotel, quando fui ajudado pelos seus funcionários.
O hotel Normandy, no qual eu morei de janeiro a março, ficava muito perto da faculdade, era relativamente barato em termos de diárias. Contudo, era muito velho, e isso me fez estranhar minha nova habitação. Peguei um quarto pequeno (júnior), com uma cama, uma escrivaninha, um abajur, um guarda-roupas meio apodrecido, um frigobar barulhento e que vazava água no carpete encardido do quarto, uma pia, um box com chuveiro, o outro box com vaso sanitário. Arrumei minhas coisas e fui procurar um lugar para jantar (eram nove horas da noite, eu acho). O pessoal da recepção me indicou uma pizzaria barata na mesma quadra do hotel, e para lá eu fui (promoção: dois pedaços mais um refri, por 5 reais).
No dia seguinte, um domingo, fui dar umas voltas pela cidade a pé, para me situar melhor. Encontrei um shopping a duas quadras do hotel (Shopping Cidade), localizei a sede da Face-UFMG, onde se localiza o Cedeplar (e, conforme já citei em posts remotos, estranhei a frieza do prédio), e conheci algumas atrações da cidade, como a "Feira Hippie" e a praça da Liberdade. Me lembro que a solidão do Centro de BH em um domingo de verão, em que boa parte da cidade está viajando de férias, assim como sua sujeira intrínseca de Centro Comercial de metrópole, me deu uma impressão um tanto triste da cidade, a qual foi lentamente superada pela minha vivência.
O encontro do Cedeplar foi na segunda-feira, e as aulas começaram na terça. Nesses dois dias, encontrei e conheci meus colegas de pós-graduação, e fiquei animado de não ser o único "perdido" na cidade. Da UFMG, tem o Ulisses, a Sibelle e a Aline; da PUC-MG, tem a Carla; de Uberlândia, vinham o Fabrício e a Fernanda; de Viçosa, tem o Thiago (originário de São Paulo); de Juiz de Fora, veio o Weslem; de Brasília, veio o Tiago; de São Paulo, veio o Eder (originário do Pará) e o Ramón (originário de Vitória-ES); de Maringá-PR, veio o Luiz (originário do interior de MG); de Salvador-BA, veio a Clarissa. Eu, de Porto Alegre, parecia ser o mais distante do grupo, até chegar na reunião, um pouco atrasado, o Alejandro, que veio de Bogotá (Colômbia). Contudo, como o Alejandro já tinha parentes vivendo no Brasil, e em Minas Gerais, eu, com meu sotaque cantado de gaúcho, fui considerado o "mais difícil de entender o que se fala".
Nas primeiras semanas, mais do que o Mestrado em si, o que mais me estressou foi procurar um apartamento em BH. As poucas imobiliárias que tinham opções baratas de apartamentos de um quarto perto do Centro, me emprestavam a chave do imóvel (em troca da minha Carteira de Identidade) e me diziam o endereço, e eu, com meu mapa enviado pelo correio, tinha que procurar por minha conta (e a pé) os prédios. Resultado: eu não conseguia ver mais do que três apartamentos por dia, e todos, sem exceção, eram muito deteriorados, alguns até mesmo de maneira assustadora! Felizmente, em fevereiro, o Bruno, um dos gaúchos cedeplarianos, me avisou que iria abrir vaga na república estudantil dele em breve, e eu aguardei até primeiro de abril, quando me mudei para meu atual endereço, no bairro Cidade Nova.
Minha vida social em BH teve uma explosão, um pico e uma queda. Durante um bom período do primeiro semestre, eu saía para conhecer os famosos bares e botecos da cidade com minha amiga (já não virtual) Izabela, quase todos os fins-de-semana. Contudo, a partir de abril, quando meu "inferno acadêmico" começou, acabei perdendo toda a minha disposição para sair, e acabei me tornando recluso em meu estudo. Eu senti que muitas pessoas começaram a me achar antipático e rabugento, inclusive eu próprio (!). Mas sei que isso foi uma conseqüência natural do acúmulo de compromissos acadêmicos, que se estenderam até julho, no final do semestre. Eu postei alguns detalhes mais curiosos sobre os botecos de BH anteriormente.
Minha bolsa (fundo estadual, a FAPEMIG) só foi sair em maio. Pelo menos, sei que vai durar até maio de 2009, ou seja, mais tempo para acabar a dissertação! Quando saiu a bolsa, imediatamente, fui jantar em um restaurante bom em um shopping perto de casa. E, a partir daí, comecei a gradualmente mobiliar meu quarto, com móveis usados comprados em lojas do "cluster" localizado na Av. Silviano Brandão. Primeiro uma escrivaninha, depois uma cadeira, depois a cama, e em agosto, comprei a estante de livros. A bolsa aliviou bastante meu "stress financeiro".
Agora, falando do Cedeplar. Em uma primeira impressão, achei o curso bastante corrido e complicado. No nivelamento, tive uma cadeira de Estatística, utilizando o manual vigente na Universidade de Illinois, e Economia Matemática, utilizando o livro de Análise Real (do Elon) e o Simon & Blume de Cálculo quase inteiros! Tive muita dificuldade na parte de Análise Real (e recebi um post desaforado sobre isso, no início do ano) e na estatística de máxima verossimilhança. Contudo, consegui superar e fiquei com A nas duas cadeiras. No início do semestre, em março, tive cinco cadeiras, sendo que as três principais eram bastante puxadas (Micro, Macro e Econometria). Mas o meu "inferno acadêmico" começou uma semana depois da Páscoa, a partir da qual tive uma prova por semana, todas as semanas até o final do semestre! E o conteúdo de cada prova era de um tamanho tal que eu conseguia tirar, no máximo, uma noite ou duas por semanas para dormir um pouco mais, já que nos outros dias, minha jornada de estudos passava das duas da manhã (sendo que eu acordava todo dia às 7 e 20), e nas vésperas das provas, não ía para a cama antes das 4 da madrugada. E as provas eram intercaladas com relatórios de Econometria e resenhas de Macroeconomia, além de listas de exercícios, o que potencializava a pressão. Mas, felizmente, e o melhor, surpreendentemente, fui bem em quase todas as cadeiras que eu fiz (menos Econometria, que ainda não acabou!).
No segundo semestre, só tive uma prova. Isso me deu tranqüilidade nos primeiros dois meses de curso. Mas, a partir de outubro, começaram a estourar os prazos de entrega de trabalhos, e eu senti a pressão novamente. Contudo, nada que se compare ao semestre anterior, e boa parte do acúmulo de tarefas vem do fato de eu ter me matriculado em 7 cadeiras (equanto que alguns colegas meus só pegaram umas 3). Mas, ainda estou levando, já que os prazos são bastante longos, e eu tenho até o final de fevereiro para entregar os últimos trabalhos. Escrevi dois artigos, um sobre o uso de modelos hierárquicos para investigar o impacto de políticas de assistência social sobre a freqüência à escola por parte das crianças das famílias beneficiadas, a partir de dados do POF, e o outro sobre a contribuição de Imre Lakatos para a metodologia da economia neoclássica. E o meu terceiro artigo, sobre o uso de dados em painel para estimar a lei de Thirwall na América Latina, virá em breve, eu espero. Tomara que me rendam benefícios acadêmicos futuros.
Como esse ano foi de muito estudo, acabei não conhecendo novas cervejas e charutos, dos quais eu sou apreciador. Nos botecos de BH, a cerveja é ou Skol, ou Brahma. Em alguns lugares mais refinados servem Bohemia. Charutos, ninguém fuma por lá, e é quase impossível encontrar lugares que vendem. Apreciei só os Phillies Titan (folhados com Chocolate) que eu levei de POA para lá. Discos de rock baratos são igualmente difíceis de encontrar por lá. A cidade tem uma galeria só de artigos de rock (discos, comisetas e tudo mais), mas os seus preços não são nada animadores. Fiz algumas aquisições interessantes (como o "Nightfall in Middle Earth", do Blind Guardian, por 10 reais), mas todas nas Lojas Americanas. O melhor disco do ano, para mim, foi o Technical Ecstasy, do Black Sabbath, que eu comprei na Multisom do Iguatemi (POA) nas férias de julho.
Aliás, se o meu primeiro semestre foi um dos mais estressantes da minha vida, as férias de julho foram ótimas. A minha turma do Cedeplar fez um churrasco muito legal de despedida, e os reencontros que eu fiz em Porto Alegre foram muito (mas muito mesmo) divertidos.
Sobre o segundo semestre, ainda não posso tomar conclusões simplesmente porque ainda não acabou. Tenho uma lista de exercícios, um "parecer" e um artigo para entregar. Mas, pelo menos, 5 das 7 cadeiras já acabaram.
Vamos ver o que 2008 me (ou nos) reserva!
PS. Em breve, faço um post mais acadêmico sobre os meus aprendizados em 2007.
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