A vila que eu vou mostrar nesse post é a única favela de Porto Alegre que eu já entrei propriamente. Estou falando da Vila Keddie, localizada na Av. Nilo Peçanha, entre os bairros Três Figueiras e Boa Vista. Na verdade, a Vila Keddie é a única favela (mesmo sendo apenas um beco) de POA que se localiza entre os bairros de classe alta. As outras vilinhas da "área nobre" da cidade ficam mais próximas aos bairros antigos e às grandes avenidas.
Como se pode ver na imagem, a vila percorre um beco junto ao muro do Country Club (clube de golfe), e é quase oculta pelas árvores. Localiza-se ao lado da concessionária Savarauto, da Mercedes-Benz, na frente de um Mc Donalds, e a uma quadra do Colégio Anchieta, um dos mais tradicionais colégios privados da cidade (e onde eu estudei).
Visitei a vila no ano 2000, época em que eu estudava no Anchieta e estava mais ligado a compromissos religiosos (como a Crisma). Fui lá com alguns colegas e padres do colégio para entregar alimentos para a associação de moradores do local. Me lembro que, quando eu entrei lá, fiquei bastante assustado não pela miséria ou pela violência do local, mais comuns quando cidadãos de classe média imaginam em uma favela, mas sim com a sujeira. O lixo e o esgoto se misturavam ao chão do beco e aos barracos, crianças brincavam na rua com seus corpos cobertos de moscas (e elas não pareciam se importar em nada com isso), e o cheiro do ambiente era quase insuportável.
A vila, desde aquela época, sempre esteve para ser removida para COABs. Contudo, nunca vi nenhuma obra a respeito. E já vi muitas teorias sobre isso: a vila seria uma reserva indígena, ou então um quilombo (tal como o terreno na Nilo Peçanha na sua frente era, antes de ser vendido), ou mesmo um terreno comprado por algum supermercado que estaria negociando a remoção com os moradores. Acompanhando o mapa da cidade, aquela região parece ser terreno municipal, de uma certa "Avenida Frei Caneca", irregularmente ocupada pelos barracos.
A visita à Vila Keddie a quase oito anos atrás iniciou minha preocupação com as condições das favelas de Porto Alegre. E isso não tanto por questões meramente urbanísticas, já que a maioria das vilas, mesmo as localizadas dentro da cidade, encontra-se escondida em vilas, morros e vales. Mas sim por preocupação com as condições de higiene e de saúde de seus moradores (principalmente as crianças), com conseqüências profundamente negativas para suas vidas. As cenas que eu vi lá me marcaram para sempre.
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2 comentários:
Oi, boa tarde!
Gostei muito de ler tua pesquisa. Me ajuda a trabalhar dois pequenos projetos aos quais participo. Um deles, diz respeito a uma situação em pequena vila de 42 casas (Porto Alegre/bairro Ipanema), que originalmente era habitada por população negra (há 70anos). Hoje a maioria é morador relativamente novo. Vivem na margem do riacho que corta o bairro sob sob a constante ameaça/promessa de serem transferidos não se sabe prá onde.
Estou próxima deles e tenho procurado reforçar a associação e o espírito de solidariedade e responsabilidade em melhorar a forma de viver naquele local, preservando o riacho/natureza e enfrentando a situação de pressão a que estão submetidos tanto pelos moradores ao redor quanto pelo poder público.
É difícil, pois existe nas pessoas uma cultura/atitude de submissão, que tem por base a ignorância dos próprios direitos e o autoritarismo dos que fazem a pressão.
Norma Souza
Porto Alegre/Ipanema
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