Na Economia da Educação, há a teoria da existência de um trade-off entre quantidade e qualidade, para políticas educacionais. O mecanismo é o seguinte: se o governo investir na qualidade, as escolas exigirão mais tempo de estudo dos alunos, o que afastará os de menor dotação de tempo livre (ou os menos interessados no estudo). E, se o governo investir na quantidade de alunos matriculados, deverá baixar o nível de exigência no ensino de modo que a maioria dos alunos tenha condições de acompanhar o ritmo da escola.
Eric Hanushek (o bam-bam-bam da Economia da Educação) em um artifo de 1992, criou uma teoria segundo a qual fenômeno semelhante ocorre em nível familiar. Segundo essa teoria, as famílias maximizam uma função de utilidade envolvendo a quantidade e a qualidade do ensino dos filhos, sob a restrição da função de aprendizado de cada filho, uma restrição orçamentária e uma restrição temporal.
O trade-off entre quantidade e qualidade da educação das crianças decorre exatamente da limitação da dotação de tempo e de recursos pelos pais. O tempo dos pais pode ser dividido entre um "tempo público", em que atende todos os filhos ao mesmo tempo (como o ensino da linguagem, e de motivação aos estudos), e um "tempo privado", em que atende cada filho separadamente (como ajudar a fazer a lição de casa). Nesse caso, quanto maior for o número de filhos, menor será o "tempo privado" destinado a cada um, e, por isso, a qualidade da educação será menor para as famílias grandes.
Segundo o autor, os pais podem assumir três comportamentos distintos ao alocar seu "tempo privado" no estudo dos filhos:
1 - Alocação Não-Discriminatória: os pais dedicam a mesma quantidade de tempo ajudando o estudo de cada filho;
2 - Maximização do Ensino: os pais se preocupam que pelo menos um dos filhos tenha um ensino de qualidade, e, por isso, se dedicam mais aos filhos mais habilidosos (ou interessados) no aprendizado;
3 - Alocação Compensatória: os pais se preocupam tanto com a qualidade do ensino dos filhos como com a desigualdade entre eles. Por isso, acabam ajudando mais as crianças com maior dificuldade. Porém, em famílias muito grandes, isso acaba significando em uma menor ajuda para cada filho.
Testando empiricamente, Hanushek aceitou a hipótese de que os pais (em uma amostra norte-americana) têm um comportamento de Alocação Compensatória. Além disso, para dados níveis de renda permantente, o autor verificou que nem o trabalho das mães, e nem a estrutura familiar afetam a qualidade da educação dos filhos. Por fim, em famílias com poucos filhos (mais especificamente, até 4), a ordem do nascimento não afeta a qualidade da educação; por outro lado, em famílias grandes, os filhos mais jovens têm mais vantagem, já que tendem a receber maior atenção dos pais. Já os filhos mais velhos, recebem maior volume de atenção em seus primeiros anos de vida, porque a competição entre as crianças é menor. Por isso, os filhos de mais difícil aprendizado são os do meio.
Em resumo, é um paper muito interessante, e me ajudou muito no referencial teórico de demanda por educação, no meu artigo de Modelos Hierárquicos.
domingo, outubro 05, 2008
O Trade-Off entre Quantidade e Qualidade da Educação, para as Famílias
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