O Símbolo Perdido é o mais novo livro de Dan Brown, autor do best-seller O Código Da Vinci. O livro é a terceira aventura de Robert Langdon, professor de simbologia em Harvard, envolvendo mistérios, misticismo, seitas secretas, códigos para serem resolvidos, perseguições policiais, vilões megalomaníacos psicóticos, e todo o mesmo esquema de sempre. Agora, comparando-se com o Código da Vinci, a luta entre o Protetorado de Sião e a Opus-Dei se transforma em uma luta entre a Maçonaria e o Satanismo, os quadros de Leonardo da Vinci se transformam nas pirâmides maçônicas, Paris e Londres e transformam em Washington, e o antagonista monge extremista albino se transforma em um antagonista fisioculturista, fã de tatuagens e de sacrifícios aos demônios.
A princípio, essas semelhanças estruturais com o Código da Vinci não são um problema para o presente romance, e até mesmo são esperados, dado o sucesso de vendas do anterior. Isto é, era previsível que o autor mantivesse a fórmula de seu sucesso. Contudo, nesse livro a repetição da fórmula foi longe de mais, é praticamente o mesmo enredo do anterior, com menos viagens e menos assassinatos. E ainda, os próprios mistérios descritos, e revelados, no decorrer do enredo são muito mais fracos, previsíveis e superficiais do que no anterior. Os segredos são tão mal fundamentados que não sinto nenhum rancor de revelá-los todos para os leitores do blog. A palavra mágica da Maçonaria é a Bíblia. O símbolo perdido é a letra O com um pontinho no meio, que é o símbolo do deus egípcio Amon Rá. O poder mágico que a maçonaria, e também o antagonista satânico, conhecem é uma espécie de cera que o cérebro humano produz quando entra em um processo de grande concentração, e que possui grandes propriedades terapêuticas. A pirâmide sagrada da maçonaria não é uma construção habitacional, mas sim um objeto de pedra de 30 centímetros de altura, e que revela seus segredos mediante procedimentos totalmente infantis, tal como pelo aquecimento, ou pela raspagem de uma camada de cera em seu fundo. O "plano macabro" do antagonista, que é descrito pelos demais personagens como uma grande ameaça à humanidade, é a revelação pela internet de um vídeo que mostra influentes políticos norte-americanos bebendo vinho em um crânio humano, durante um ritual maçônico. Ou seja, nada que realmente impressione, ou mesmo desperte curiosidade, tal como o mistério do Santo Graal do livro anterior.
Contudo, o maior problema do livro, e que é muito comum em outros romances do gênero, e também em filmes, é a conturbada relação entre o personagem principal (Robert Langdon) e o antagonista (o satânico Mal'Ach) no que se refere à condução do enredo. Em O Símbolo Perdido, é Mal'Ach quem toma as principais decisões, que vão afetar a ação dos demais personagens, e quem elabora e divulga os mistérios que serão resolvidas pelo professor Langdon. Além disso, sua história é melhor descrita - é quase um livro dentro do livro, mas com enredo muito mais interessante - do que a de qualquer outro personagem, ainda que sua "identidade secreta" é facilmente previsível desde logo o início da história. Por esses motivos, é fácil desenvolver uma empatia pelo antagonista, isto é, esperar que seus planos dêem certo no final das contas, dado todo o esforço do personagem em atingir seus objetivos. Pessoalmente, eu achei que se Mal'Ach enfim conseguisse obter a "palavra mágica" para se transformar em um demônio, o livro teria mais graça. Contudo, esse personagem cometeu dois erros muito toscos, que poderiam ser melhor pensados pelo autor. Em primeiro lugar, a idéia de destruir a ordem política mundial pela divulgação de políticos bebendo vinho em crânios me parece implausível. Se isso ocorresse, haveria um choque inicial na opinião público, mas logo todos esqueceriam e voltariam a viver suas vidas como se nada tivesse acontecido. Um vídeo desses não poderia ter impacto maior do que o de políticos escondendo dinheiro em suas meias, por exemplo. Em segundo lugar, quando teve a chance de matar o personagem principal (Langdon), Mal'Ach escolheu o bizarro método de trancá-lo em uma câmara de privação sensorial e esperar que ele morresse de fome, facilitando muito o trabalho da polícia no resgate que, inclusive, já tinha o seu endereço. Por que será que os super-vilões tem tanto preconceito com o eficiente tiro na testa, afinal?
Os livros de 2024
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Um comentário:
Bela resenha, ontem assisti, mais uam vez, ao primeiro filme do autor. Creio que não tenho tempo para ler a obra por enquanto, mas gostei dos comentários.
Abraços.
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