O ACM, coronel caudilho da Bahia, morreu na semana passada. Me lembro que, quando vivo, ACM era o inimigo número 1 da esquerda brasileira, e até mesmo dos liberais do sul, devido a sua postura política paternalista, patrimonialista e autoritária. Muitos dos próprios conceitos utilizados pelos intelectuais para descrever o sistema político brasileiro, principalmente aquele predominante durante a República Velha e, na atualidade, presente em muitas regiões do Brasil, remetiam diretamente a sua figura: "coronelismo", "jogos de interesses", "apoio ao governo federal movido por interesses regionais", "patrimonialismo". Me lembro vivamente desses conceitos, e dos artigos que os explicavam, desde o meu tempo de pesquisador sobre Federalismo Fiscal no Brasil.
Contudo, mesmo sendo o elemento mais exibido, mais presente na mídia e na opinião pública sobre o atraso do sistema político brasileiro, é verdade que ACM foi apenas uma peça na engrenagem do sistema. Em metafora, pode-se dizer que o ACM era uma cereja sobre o bolo estragado que é a política brasileira, em seu momento atual. Assim, nem de longe pode-se esperar que o falecimento de ACM possa ter qualquer influência, seja positiva, seja negativa, sobre a situação política no Brasil, já que temos ainda milhares de pequenos ACMs, de menor exposição, mas de mesma mentalidade, agindo livremente, e com apoio de suas comunidades, por todo o país.
Principalmente, foi a popularidade de ACM nas comunidades em que atuava que foi a sua característica mais marcante, e mais odiada, pelos seus opositores. É bem verdade que, para os grupos sociais de maior grau de instrução localizados nos grandes e modernos centros urbanos brasileiros, e cujo senso comum no que diz respeito à política é que "todos os políticos são ladrões, salvo alguns poucos de elevada ética individual", a simples existência de um indíviduo da clesse política que vê a si mesmo como o pai de um povo, e não como o seu representante, sem uma opinião ideológica definida, voltado quase que inteiramente a beliscar recursos deferais para suas regiões de base, e, para os quais a ética e o respeito às instituições democráticas são meras formalidades diante do fantasma da "vontade política", que seria o único determinante para a administração pública e ao desenvolvimento do país, signifique a ilustração de um grande atraso, e com certas doses de ridículo. Contudo, para as bases eleitorais dessa classe política, a opinião é certamente diferente. Talvez, para essas pessoas, o político deve mesmo ser um "pai" carismático e autoritário, deve mesmo tomar as rédeas, personalisticamente, do desenvolvimento sócio-econômico regional, deve mesmo administrar o público como se fosse sua propriedade privada, e deve mesmo passar por cima de bandeiras morais e democráticas quando a "vontade política" lhe exigir.
Daí pode-se concluir que o sistema político brasileiro tem sua ineficiência pautada pelas preferências dos eleitores, que se traduzem nos resultados das eleições, o que dá espaço para toda uma nova série de debates e estudos sobre o tema.
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3 comentários:
Tá, chega de postar, hehehehehehe
qual é a boa da semana??????
Até que dia tu fica aqui???
segunda nos vemos dinovo então? A juliana disse que nao vai pq tem outros compromissos. :P
Já falei com a Carolina. É só combinar o local e chamar quem mais quiser e puder ir.
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