Sábado passado, tirei o dia de folga para conhecer a cidade, o que eu não fazia desde abril, e procurar, enfim, olhar o horizonte de Belo Horizonte. Conforme já me haviam informado, havia um posto mirante perto da Praça do Papa, no extremo sul da cidade, em cima de um morro. E para lá eu fui.
Peguei um ônibus da Cidade Nova, bairro no qual eu moro, na região nordeste de BH, e desci no extremo sul da Avenida Contorno, que, como o próprio nome diz, contorna o Centro. A partir daí, segui a pé pela avenida Afonso Pena (a principal da cidade), rumo ao sul.
Os bairros da região sul de Belo Horizonte (Sion, Anchieta, Cruzeiro, Mangabeiras)são os mais ricos que eu já vi numa cidade (comparando com Porto Alegre e a zona sul do Rio de Janeiro). O ambiente do local combina ruas largas, com prédios e casas de arquitetura moderna, um aspecto bucólico causado pelas ruas mais arborizadas, e uma calma sem comparação com o resto da cidade. Noto que a zona sul de BH é como se fosse uma outra cidade, um pedaço do Mundo Desenvolvido no coração do Brasil. Eu me lembro das minhas primeiras impressões sobre a cidade, logo que me mudei para cá, e inclusive postei no blog, quando eu achava Belo Horizonte uma cidade grande, e, fora do centro planejado, um tanto desorganizada, com obras públicas e barulho de britadeiras por todo lado, e uma alternância sem lógica entre bairros residenciais mais calmos, bairros comerciais com ruas estreitas atolhadas de ônibus, calçadas apertadas e falta de árvores, e periferias imundas.
O bairro das Mangabeiras, que circunda a praça de mesmo nome, é composto por casarões e mansões que só se vêem em filmes americanos, e, em Porto Alegre, nos condomínios fechados da zona sul. As ruas são muito mais arborizadas do que no resto da cidade, proporcionando o prazer de caminhar na sombra, sob o canto dos pássaros. O parque, por sua vez, consiste em duas quadras de gramado muito bem cuidado, onde crianças brincam e empinam pandorgas, madames levam seus pequenos poodles para pasear, jovens andam de bicicleta e de skate, e os maridões bebem cerveja na sombra. O clima de tranqüilidade e de paz do lugar não parece compatível com o de uma cidade de 3 milhões de habitantes, em um país marcado pela violência. Porém, é verdade que Belo Horizonte nem de longe apresenta os mesmos sinais da criminalidade de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre ou Recife, o que dá um clima de segurança e confiança entre as pessoas; aqui, não há o medo de andar pelas ruas, ou de esperar na parada de ônibus ao anoitecer.
Além disso, o nível de educação (educação informal, não necessariamente aprendido nas escolas) das pessoas daqui é muito superior ao do Sul. Aqui, palavras como "por favor", "com licença" e "muito obrigado" são a regra, e não a exceção, no vocabulário das pessoas, é comum desconhecidos se cumprimentarem, ou mesmo falarem sobre assuntos cotidianos em lugares públicos. Ao contrário de Porto Alegre, os habitantes daqui não têm como hábito externalizar seu mau-humor sobre os outros, e pessoas com dor de garganta não gospem em público.
Voltando ao passeio, a Praça do Papafica no extremo sul da cidade, como já disse, e à frente dele, localiza-se mais uma fila de casas e, enfim, uma cordilheira de montanhas de cor vermelho-sangue (cor das rochas locais, bastante diferente da terra fofa e escura que Porto Alegre apresenta), não totalmente cobertos por gramíneas, e totalmente deserta, pelo menos a minha vista. É realmente instigante, caminhar durante mais de duas horas e chegar ao "limite da civilização": um parque, mais algumas casas, e o ermo, o bucolismo puro, a paz da não-presença do homem. E ainda em um lugar tão calmo, alegre e familiar como aquele! É como que se, ao percorrer Belo Horizonte de norte rumo ao sul, presenciasse uma verdadeira trajetória de desenvolvimento sócio-econômico, começando nas periferias do norte (União), os bairros comerciais mais pobres (Sagrada Família, Floresta), os bairros residenciais de classe média (Cidade Nova), o Centro, os bairros comerciais mais ricos (Savassi, Lourdes), e o sul, completamente desenvolvido (fora a favela da Serra, que fica à Sudeste).
Chegar á pé ao final da civilização pode parecer trivial para os habitantes da cidade, mas para mim, que vim de uma cidade com exato formato de semi-círculo (em que cada faixa ao redor do Centro tem algum significado urbanístico), e rodeada por um cinturão de pobreza que concentra a maior parte das favelas do estado inteiro, parecia impossível acontecer.
E o mirante, ao lado do super-protegido Palácio das Mangabeiras (tão fortificado que eu nem pude ver para dentro de seus muros), é um ponto turístico bastante conhecido, cheio de turistas e vendedores de pipoca e água de coco, e circundado de araucárias, que dão sombra aos observadores. Enfim, o horizonte de Belo Horizonte não é uma linha, como estamos acostumados no sul, mas é uma cadeia de montanhas mais altas que rodeiam toda a cidade ao norte, ao sul e ao leste. Do mirante, pode-se ver todo o relevo acidentado da cidade, é como se fosse um mar de prédios que formassem ondas estáticas. Bem legal de se ver.
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Há uma hora
6 comentários:
"uma cidade com exato formato de semi-círculo (em que cada faixa ao redor do Centro tem algum significado urbanístico), e rodeada por um cinturão de pobreza"
queria ter tanta noção de localização
heheheheheheheh
até hj não consigo perceber esse tipo de formato e tudo mais em porto alegre
hehehehehehe
Correção: foi na Praça do Papa, e não no parque das Mangabeiras, que eu visitei no sábado!
Adorei a descrição do passeio à praça do Papa! A primeira vez que fiu lá foi emocionante... mas nunca tinha pensado na disposição dos bairros de BH com essa análise econômica, achei interessante! E, parabéns pelo blog!!!
obrigado!
gostei muito do jeito que vc descreveu belo horizonte. eh assim mesmo...
estou na frança, numa casa de campanha entre nimes e avignon.
e vc?
novidades?
Sobre o Mirante das Mangabeiras, informo que se transformou em local desaconselhado para visitantes, especialmente nas noites de fim de semana. Virou local de realização de festas "rave", com carros de som clandestinos, ponto de distribuição de drogas pesadas.
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