Eu estava a muito tempo devendo comentários mais acadêmicos sobre o encontro. Já tinha gente achando que eu fui para lá só para farrear e beber.
Depois de escrever sobre os detalhes mais turísticos sobre minha viagem para Recife, com a caravana do Cedeplar, escrevo agora sobre os assuntos mais acadêmicos.
O encontro da ANPEC em Recife, realizado no luxuoso Mar Hotel, contou com a apresentação de um grande número de trabalhos, organizados em diversas seções. Como muitas das seções aconteceram nos mesmos horários, tive que escolher para comparecer naquelas que estavam mais de acordo com o meu tema de pesquisa (Economia Social voltada para desigualdade, pobreza e educação), e, nas horas vagas, pude comparecer nas minhas áreas de interesse por hobby (macroeconomia, HPE, história econômica).
No primeiro horário de apresentações, compareci na seção “Programas de Transferência de Renda e a Pobreza no Brasil”. Nessa seção, vi trabalhos muito interessantes. A Célia Kerstenetzky (UFF), apresentou um indicador de desevolvimento humano baseado nas teorias de pobreza de Amartya Sen. Esse indicador continha diversas variáveis dummy derivadas de “conjuntos fuzzy”, isto é, não apresentam apenas valores binários, mas sim qualquer valor dentro do intervalo entre 0 e 1. Segundo a pesquisadora, essa técnica permite a mensuração da pobreza relativa, e não meramente a pobreza absoluta, tal como é quantificada pelo IDH tradicional. Depois, o Euclides Pedrozo (FGV-SP) avaliou o impacto do Bolsa Família sobre o trabalho infantil no Brasil. O autor estimou um salário de reserva para as famílias, que, comparando esse salário com o montante recebido de transferência pelo governo, escolheriam mandar seus filhos para o trabalho ou para a escola. Contudo, essa metodologia individualista, de que as famílias escolhem racionalmente se seus filhos vão trabalhar precocemente ou não, acabou provocando polêmica e breve discussão com o pessoal da UFF, que defendia uma visão mais social para essa problemática. Pegando o gancho no Bolsa Família, o carismático professor Carlos Azzoni (FEA-USP) apresentou um estudo empírico que mostrava que esse programa, se por um lado ajudava na diminuição dos índices de desigualdade pessoal no Brasil, por outro lado, os indicadores de desigualdade regional não eram afetados. Todos os trabalhos, enfim foram muito esclarecedores e interessantes.
Depois, participei da seção de HPE. Nessa seção, meu amigo e colega de Cedeplar Carlos Eduardo Supriniak apresentou seu projeto de tese, que resgata as obras originais de autores mercantilistas britânicos do século XVII. O Carlos pretende, com sua pesquisa, bater contra o preconceito que os economistas clássicos e contemporâneos têm com os mercantilistas, de que esses últimos ignoram os mecanismos econômicos reais e detêm-se apenas nos monetários. Na verdade, os autores preocupavam-se com a esfera da produção - mas não com o consumo, visto como “destruidor de riqueza”. Daí a preocupação com o comércio internacional: seria melhor para a economia nacional produzir para que os estrangeiros consumissem, ou destruíssem a riqueza real depois de terem pago por ela. Depois do Carlos, o professor Mauro Boianovsky (UnB) apresentou um excelente trabalho sobre as origens intelectuais de Celso Furtado e a sua relação com a economia do desenvolviento, em nível internacional. Por fim, Rogério Arthmar (UFES) apresentou a obra de Sismondi como uma contraposição, em seu contexto, à economia política clássica ricardiana. Devido ao meu fraco conheceimento de Sismondi, acabei não conseguindo acompanhar muito bem a essa apresentação.
No terceiro período, acompanhei a palestra da(o) economista da University of Illinois at Chicago Deirdre McCloskey, falando sobre ética, virtudes pessoais e a microeconomia neoclássica. Muito interessante, e mercece um post só para comentar isso (fica para outra hora).
À noite, ocorreu a aula magna com o prof. Marcelo de Paiva Abreu (PUC-Rio), sobre a história recente da economia brasileira, identificando os principais problemas que ainda afetam o país, e possíveis soluções. Muito legal.
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