A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou nesses últimos dias a pesquisa "Olhares sobre Educação 2010". Dentre os resultados obttidos, a partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) está a constatação contra-intuitiva de que a taxa de desemprego é maior para os trabalhadores com segundo grau completo (6,1%) do que para quem não chegou a esse nível (4,7%). O estudo apontou três fatores que justificam esses dados:
- A discriminação de gênero, de modo que a taxa de desemprego das mulheres mais escolarizadas puxa a média total da população para cima;
- A estrutura econômica brasileira, mais intensiva em mão-de-obra pouco qualificada;
- A maior proporção de trabalhadores com ensino médio completo na força de trabalho brasileira.
Eu ainda não tive acesso ao estudo, e não sei como os dados foram tratados. Mas acho que quaisquer conclusões a partir desses resultados tal como foram noticiados pela mídia devem ser tomadas com muita cautela. Na teoria econômica do mercado de trabalho, aprendemos que o desemprego não é um fenômeno uniforme, isto é, existem muitos fatores e motivações que fazem com que um trabalhador fique desempregado. Por exemplo, são relevantes o ciclo econômico (para o desemprego cíclico), a estação do ano (desemprego sazonal), as características do mercado de trabalho (desemprego friccional) e as características e incentivos dos próprios trabalhadores (desemprego estrutural e desemprego voluntário, ou inatividade). Por isso, os mercados de trabalho para trabalhadores com ensino médio e sem ensino médio são diferentes, e a maior taxa de desemprego de um grupo não é causada pela menor taxa referente ao outro.
Minha hipótese, tomada a partir da mera leitura da notícia a respeito do estudo, é a seguinte: ainda que menor, a taxa de desemprego dos trabalhadores sem ensino médio é predominantemente estrutural, e a taxa de desemprego dos mais qualificados é predominantemente friccional. Explicando melhor, acredito que os trabalhadores com mais educação estão procurando empregos com mais cautela, gastando mais tempo até decidirem ocupar alguma vaga disponível com salário e benefícios compatíveis com seus objetivos. Já os menos qualificados tendem a procurar por um longo tempo e aceitar a primeira oportunidade que surge, já que apresentam características de pouca empregabilidade. Nesse caso, o bem-estar dos desempregados com mais educação ainda é superior aos com menos educação.
Para testar essa hipótese, gostaria de ter acesso aos seguintes dados:
- Os trabalhadores desempregados com ensino médio completo apresentam fontes de renda alternativas a do trabalho em nível superior aos sem esse nível de educação? A resposta que espero é SIM.
- A proporção de trabalhadores desempregados com ensino médio completo cobertos por seguro-desemprego é maior do que a proporção de desempregados sem esse nível de ensino? A resposta que espero é SIM.
- Os trabalhadores de menor educação estão procurando emprego a mais tempo do que os com ensino médio completo. A resposta que espero é SIM.
A análise desses indicadores que levantei podem rechaçar minha hipótese, e estou plenamente consciente disso. Mas eu só espero que os economistas que não dão a importância que o capital humano merece para o crescimento de longo prazo e o bem-estar social no Brasil não usem esse estudo para despejar preconceitos pela mídia e pela academia.
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