Em julho passado, passei uma semana de férias em Porto Alegre com minha família. Morei lá durante 22 anos de minha vida, de 1984 até janeiro de 2007, quando saí de casa para fazer mestrado na UFMG. Hoje, quase quatro anos depois, notei como a cidade mudou. Praticamente, me sinto um turista na minha cidade natal.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o aumento exponencial do número de carros nas ruas da capital gaúcha. Em conseqüência, o trânsito está belorizontino (mas ainda não deve estar paulistano), e procurar lugar para estacionar em supermercados e shoppings, assim como nas próprias calçadas fora da região central (dentro, sempre foi difícil), é um desafio para a paciência. A propriedade de carros está cada vez mais popular, de modo que os lugares mais movimentados fora da hora do rush são em frente às obras de prédios nos bairros Mont Serrat e Bela Vista. É isso mesmo: os trabalhadores da construção civil estão indo de carro para o trabalho. Muito provavelmente, isso se deve à falta de infra-estrutura de transporte público nos bairros da zona leste da cidade - onde se concentram boa parte dos bairros mais populares - e nas cidades periféricas de Viamão, Alvorada, Gravataí e Cachoeirinha. O metrô local, o Trensurb, serve como ligação do centro de Porto Alegre a algumas cidades ao norte, deixando a maior parte da população de trabalhadores descoberta.
Além disso, o tamanho dos carros aumentou. Agora, 1.0 é (mesmo) carro de operário da construção civil. Nos bairros de maior renda per capita, localizados ao redor do Centro, há uma grande frota de caminhonetões, que, pelo tamanho, ajudam a piorar o trânsito a o acesso a vagas de estacionamento. Por isso, o apelido do Rio Grande do Sul de "Texas Brasileiro" parece que deixou de valer apenas para as preferências políticas e está agora incluindo as preferências automotivas de sua população.
A cidade se verticalizou. A Bela Vista é um grande canteiro de obras. A Terceira Perimetral continua seu caminho de se tornar uma miniatura da Faria Lima (avenida de São Paulo). Sei que isso é uma conseqüência natural do crescimento econômico dos últimos anos e da expansão do crédito imobiliário às famílias. Contudo, isso está fazendo com que em Porto Alegre a noite chega mais cedo. Além disso, algumas partes da cidade, particularmente no bairro Três Figueiras perderam sua identidade bucólica. Por fim, algumas construções recentes me parecem muito feias, como é o caso daquele prédio branco que fizeram em cima da antiga sede do Yázigi na Nilo Peçanha (onde estudei inglês de 1993 até 1999).
O policiamento na cidade melhorou bastante, sobretudo no Centro. Agora, é possível tirar fotos na Praça da Alfândega (que está sendo reformada) com tranqüilidade, pela presença de brigadianos.
Destaco também que me sinto velho caminhando pela cidade. Isto é, não me identifico mais com os jovens portoalegrenses. No meu tempo de colégio e de graduação, havia uma distinção clara entre duas facções entre os adolescentes e jovens adultos na cidade: os "playboys surfistas", predominantes nos colégios particulares mais caros e habitantes do shopping Iguatemi, das casas noturnas do bairro Moinhos de Vento e da avenida Goethe; e os "rockeiros alternativos", muito comuns em vários cursos da UFRGS (todos menos Medicina, Direito, Administração e Relações Internacionais) e habitantes dos bares da Cidade Baixa, das casas de shows na Avenida Independência e do Shopping Total. Ambas facções eram rivais, ainda que choques de violência não eram muito comuns. Pelo que eu me lembre, até o nome da banda "Engenheiros do Hawaii" era uma provocção dos rockeiros contra os surfistas.
Hoje, caminhando pelos mesmos lugares que freqüentava até 2006, não vi indivíduos dessas tribos. O que vi são aqueles mesmos estilos que aparecem nos programas da MTV, e que são comuns na vida noturna da Rua Augusta, em São Paulo: "manos" fãs de hip-hop, emos e alguns tipos espalhafatosos coloridos de sexo indefinido. Quando saía de casa com alguma camiseta dos Ramones ou do AC/DC, me sentia meio "tiozão". Talvez, muito provavelmente, esteja ocorrendo uma convergência cultural do Rio Grande do Sul em relação à região Sudeste do país, iniciando-se pelas camadas mais jovens da população.
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2 comentários:
Ricardo, seu blog está bacana como sempre. Os posts recentes estão interessantes, inclusive o do comentário bacana aí de baixo.
Se tudo der certo, talvez eu visite POA novamente na primeira semana de novembro desse ano em um seminário de qualidade do Gasto Público promovido pela Secretaria da Fazenda e a FEE. Eles estão precisando de alguém para um curso de avaliação de projetos de infraestrutura. Alguma sugestão?! Você poderia?!
Convido também, você que é interessado em Lakatos, para ler meu último post no economia marginal. O primeiro que faço sobre metodologia, (em parte é uma resposta a uma discussão de economistas amigos da UnB).
http://aeconomiamarginal.blogspot.com/2010/09/ciencia-economica-em-seus-minimos.html
Abraços!
Vítor,
Valeu o comentário! Em breve vou comentar também o teu texto sobre a metodologia da economia.
Sobre o curso, acho que não sou a pessoa mais indicada. Para fazer análise de impacto de políticas de infra-estrutura, é melhor alguém que saiba mexer com equilíbrio geral computável. O professor Édson, do Cedeplar, pode indicar alguém (acho que o Admir Betarelli é o melhor do Cedeplar nessa área).
Sucesso em POA! Se quiser dicas de pontos turísticos, é só falar comigo.
Abraço
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