Dentre os estudos empíricos que buscam explicar as relações de desigualdade e de pobreza sobre determinados grupos demográficos, cabe destacar o trabalho de Dollar & Gatti (1999), do Banco Mundial. Os autores procuraram estudar as desigualdades econômicas por gênero, partindo da observação empírica de que, nos países mais pobres, as mulheres recebem menos investimento no seu capital humano do que os homens. Foram formuladas três hipóteses teóricas para procurar justificar esse fato:
a) O impacto da educação feminina sobre o bem-estar econômico das famílias e sobre o crescimento macroeconômico é inferior ao da educação masculina nos países em desenvolvimento, de modo que essa situação de desigualdade por gênero ao acesso a investimentos em capital humano é economicamente eficiente;
b) As desigualdades de gêneros nos diferentes países representam preferências culturais e religiosas de seus indivíduos residentes, que valorizam mais o conhecimento e o trabalho masculino do que o feminino;
c) Os menores investimentos no capital humano feminino representam falhas de mercado, que tendem a se reduzir conforme a economia do país cresce.
Essas três hipóteses apresentam importantes implicações em termos de políticas públicas. Se a desigualdade de investimentos no capital humano entre homens e mulheres é uma decisão econômica eficiente, qualquer política que altere essa situação será ineficiente. Se a desigualdade representa preferências culturais pela população, as políticas que forem de encontro a essas preferências reduzirão o bem-estar dos indivíduos. Porém, se a desigualdade meramente refletir conseqüências de falhas de mercado, nesse caso políticas de incentivo ao investimento no capital humano tornam-se não apenas desejáveis, mas também necessárias para o desenvolvimento econômico.
As evidências empíricas encontradas pelos autores apontam que o capital humano feminino é importante para o crescimento macroeconômico dos países, e, portanto, é um investimento economicamente eficiente. Por outro lado, as preferências culturais e religiosas são fundamentalmente importantes para explicar a desigualdade de gêneros, sendo, por exemplo, mais importantes em países muçulmanos e hindus do que em países cristãos protestantes. Por fim, o crescimento econômico contribui para reduzir a desigualdade de gêneros, sobretudo em países de nível de desenvolvimento econômico mediano. Isso indica que falhas de mercado podem ser importantes para determinar a desigualdade de gêneros. Contudo, os autores ressaltam que o seu estudo não permite que se tome conclusões a respeito de, mais especificamente quais falhas de mercado, no sentido microeconomômico do termo, causam essas desigualdades. Segundo Dollar & Gatti (1999, pg. 21):
“ … there is strong and consistent evidence that increases in per capita income lead to improvements in different measures of gender equality. To answer the question in our subtitle, apparently good times are good for women. The implication of this finding is not that growth is all that is needed to eliminate gender inequality. The findings on religious variables, regional effects, and civil liberties suggest that there is considerable scope for direct action on gender issues. However, it is important to know that the country-wide policies that support rapid growth are also indirectly contributing to gender equality.”
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