Hoje, às 6 da manhã, voltei do Encontro de Economia Keynesiana, que ocorreu na Unicamp. Como foi a minha primeira apresentação de trabalho na pós-graduação, considero que foi uma experiência muito positiva.
Campinas é uma cidade praticamente de primeiro mundo. Do trajeto entre a rodoviária e a Unicamp (localizada no distrito de Barão Geraldo, praticamente uma sub-cidade dentro do município), não vi nenhum sinal de pobreza, pelo contrário. Casarões se misturavam a enormes prédios residenciais e a estabelecimentos comerciais, sem falar das inúmeras construções de novos empreendimentos imobiliários. E a paisagem se misturava a fazendas com plantações, nos terrenos próximos à rodovia, ainda não urbanizados. A Unicamp, por outro lado, é a universidade mais bucólica que eu já vi. Consiste em uma série de pequenas casas e prédios baixos espalhados por um grande campus. A população de estudantes não chega a formar multidões, tal como acontece no campus central da UFRGS, por exemplo. Além disso, existem muitas obras e construções de novos prédios dentro do campus, mas o espaço físico não-utilizado é abundante.
O hotel em que pousamos chamava-se "Casa do Professor Visitante", e fica no meio do campus. É um 3 estrelas muito confortável e limpo, e com restaurante. Uma estadia bastante agradável, enfim.
A organização do evento deixou a desejar em seu primeiro dia, devo ressaltar. Cheguei no hotel às 6 da manhã de quarta-feira, e tive que esperar até as 10 horas para conseguir um quarto, mesmo tendo reservado a muito tempo. Felizmente, consegui rachar uma suíte com outros convidados, e não tivemos novos problemas. E, além disso, não encontrei nenhuma referência no Instituto de Economia (IE) da Unicamp sobre o encontro até ele iniciar, no final da tarde.
Apresentei meu trabalho, uma estimação da lei de Thirlwall para a América Latina e o Caribe utilizando dados em painel, na quinta-feira pela amanhã. Confesso que acho que não agradei. Por estar na presença de pessoas totalmente desconhecidas, e por trabalhar com o tema a pouco tempo, fiquei nervoso na apresentação, e senti que poderia ter explicado melhor algumas partes. Por outro lado, ressaltei mais a parte empírica do que a parte teórica do meu trabalho, o que pareceu incomodar parte do público (professores e alunos da Unicamp, em grande maioria). Os cerca de 10 outros trabalhos que assisti em minha sessão procuraram mais discutir os pressupostos e as conseqüências da restrição na balança de pagamentos para o crescimento econômico do que rodar testes econométricos e discutir as conclusões mais quantitativas. Ou seja, senti um "viés cedeplariano" na minha apresentação.
Tive uma overdose de "lei de Thirwall" nesses três dias de encontro. Contei, além do meu trabalho, umas 10 apresentações sobre o tema, incluindo discussões teóricas, estimações empíricas, revisões bibliográficas, e decomposições de todos os tipos. Destaco para os trabalhos dos orientandos do Gilberto Tadeu Lima (USP), que estão procurando decompor os efeitos dessa teoria para cada item da pauta de importações e de exportações da economia brasileira.
As "atrações especiais", em seções extraordinárias, foram igualmente satisfatórias. O prof. Davidson (New School-US) explicou os principais axiomas da teoria pós-keynesiana, no primeiro dia. No segundo dia, tivemos Philip Arestis (Cambridge-UK), John McCombie (Cambridge-UK), Dominique Plihon (Paris-FRA), Edwin Le Heron (Dijón-FRA) discutindo os rumos atuais da teoria econômica pós-keynesiana. O Cardim de Carvalho (UFRJ) encerrou a noite com um "show de humor", graças ao seu carisma. No terceiro dia, o mexicano Júlio Lopez e o argentino Roberto Frenkel discutiram alternativas de políticas macroeconômicas keynesianas para a América Latina.
Os alunos da Unicamp, graduação e pós-graduação, sem mostraram presentes e interessados nas apresentações, seja dos trabalhos, seja das seções extraordinárias. Inclusive, eles não correspondem nem um pouco ao rótulo que recebem dos estudantes de outros centros, algo como de "xiitas heterodoxos", ou de "bixos-grilos". Pelo contrário, eles pareciam bem dedicados aos estudos e ao aprendizado, sem distinção de ideologia. E, além de tudo, a proporção feminina do curso de economia de lá era plenamente favorável, tanto em termos quantitativos, como em termos qualitativos.
Por fim, mesmo gostando da experiência do encontro, noto as limitações da teoria pós-keynesiana. Principalmente, a circularidade dos temas em discussão. Somando as apresentações sobre a lei de Thirlwall (como a minha), não-neutralidade da moeda e especulação financeira, isso cobriria mais de 80% de todos os trabalhos apresentados. Ou seja, mesmo sendo simpatizante, não me defino como um pós-keynesiano, e tampouco quis me filiar à associação.
Os livros de 2024
Há 17 horas
Um comentário:
Martini!
Passei aqui porque sabia que tu ia postar algo sobre o encontro de Campinas e tua apresentação. Tinha que saber como foi.
Aproveito para te dar os parabéns por essa estréia no "mundo acadêmico". Imagino que realmente deve ter ficado nervoso, afinal nesses grupos de trabalho normalmente somos os mais inexperientes. Eu apresentei duas vezes e na segunda me senti menos nervoso do que na estréia. Acho que só a repetição vai nos tirar esse nervosismo. Os primeiros 40 segundos são os mais críticos, na minha opinião. Acho que nesse período nossa adrenalina está lá em cima!
Grande Abraço!
Postar um comentário