O Thomas Kang publicou em seu blog uma crítica ao economista Gustavo Ioschpe (aquele da VEJA) sobre o papel dos salários dos professores sobre a qualidade do ensino do Brasil. Ioschpe afirmou que "o salário do professor não é uma variável estatisticamente significativa ou relevante na determinação do aprendizado dos alunos". Por isso, investimentos na qualidade da educação básica não deveriam ser direcionados na valorização da remuneração dos docentes.
Neste ponto contribuo com uma observação: até que ponto a baixa significância da variável "salário do professor" sobre os indicadores de "aprendizado do aluno" reflete uma relação de (não) causalidade tão forte como o autor sugere? Acho mais provável que as escolas que melhor remuneram seus professores sejam exatamente aquelas com melhor infra-estrutura física, ou que se localizam nos melhores bairros das grandes cidades, onde moram as famílias de alta renda, provocando uma colinearidade no modelo econométrico que faz com que a elasticidade da variável de interesse seja capturada em parte pelas variáveis de controle. Uma outra hipótese é a de que a variabilidade dos salários dos professores nas escolas públicas é baixa demais para que seus efeitos sobre outras variáveis sejam estatisticamente observáveis.
Estudar microeconometria aplicada ajuda a abrir os olhos para as propriedades das amostras dos modelos, antes de achar que o resultado de um único estudo pode resolver os mistérios do mundo.
De minha parte, minha opinião de que os salários dos professores do ensino básico deveriam ser maiores (evidentemente seguindo critérios meritocráticos) reflete antes de mais nada uma observação pessoal minha. Já vi muitos casos de professoras da rede de ensino público básico abandonar a carreira docente para estudar para concursos públicos de nível técnico-administrativo, em que o trabalho é menos perigoso (já ouvi estórias assustadoras sobre o que acontece nas ecolas das periferias das grandes cidades) e melhor remunerado. Eu sinceramente gostaria de saber se em algum outro país do mundo a carreira de professor é inteiramente dominada pela carreira de burocrata.
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Um comentário:
Boa, Martini. Tava pensando nessa da variabilidade nesse dias. Até porque nas escolas particulares, salário de professor é variável significativa segundo o Naércio.
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