O maior acontecimento nos últimos dias em relação à economia brasileira se refere à divulgação da retração de cerca de 1,5% no PIB nacional no último trimestre de 2005. Em primeira observação, pode-se facilmente acusar a política econômica do governo Lula como responsável pela queda, principalmente pelos desempenhos da política monetária (juros altos), fiscal (aumento do superávit primário) e cambial (câmbio valorizado, pró-importações). Contudo, em uma análise mais aprofundada, podemos ver que não é bem assim.
Em primeiro lugar, a taxa de juros brasileira, mesmo continuando a mais alta do mundo em termos reais, esteve em queda no último trimestre do ano passado, indicando assim uma expectativa de crescimento do crédito e da atividade econômica. O superávit primário encontra-se estável, não podendo se associar a atual recessão à política fiscal atual. E, apesar do câmbio valorizado, o Brasil continua batendo récordes de volumes exportados. Por isso, devemos buscar nos fundamentos da economia, principalmente na macroeconomia, outros fatores que possam justificar essa queda na atividade econômica brasileira.
Ora, como dizia nosso mestre John Maynard Keynes, fundador da macroeconomia, o nível de investimentos de uma economia (componente mais volátil no curto prazo na equação de demanda agregada) não pode ser entendido meramente como uma função linear da taxa de juros dessa economia. Os empresários decidem investir de acordo com suas expectativas de lucro, as quais são fundamentalmente psicológicas e voláteis, determinadas pelo "clima" da economia. Por isso, Keynes denomina as expectativas de lucros que levam os empresários a investir como "Animal Spirit" (estado de ânimo) dos mesmos.
Mas, no caso da economia brasileira, o que poderia ter derrubado o animal spirit geral no último trimestre desse ano, em que, além das taxas de juros em queda tivemos pressão sazonal da demanda por bens de consumo (por causa do Natal e do reveillon)? Será que não seria uma reação do setor produtivo nacional ao crescente descrédito do atual governo perante a sociedade, graças a confusão política decorrente das denúncias de corrupção e das operações de "abafa", de absolvições de envolvidos e de acordos escusos entre governo e oposição?
Minha análise pode parecer pessimista, mas quando o Ministro da Fazenda Antônio Palocci garante que a crise política não tem como afetar a economia brasileira, graças aos seus fundamentos fortes, ele parece estar se referindo ao lado monetário da economia. Porque o lado REAL da economia já está sofrendo os efeitos da perda de credibilidade do governo.
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Há 49 minutos
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