A crise política em que o atual governo federal se meteu nesse último ano certamente terá repercussões sobre a sociedade brasileira no longo prazo. E digo isso não do ponto de vista institucional, se os partidos e os candidatos associados ao presente governo terão algum futuro, mas sim na própria mentalidade do eleitorado, isto é, da própria sociedade brasileira, sobretudo sobre a população mais jovem.
É verdade que, com a crise, o eleitor brasileiro ficou mais cético - ou "menos otário", como disse o Arnaldo Jabor (ótimo orador, apesar de ser um dos piores escritores brasileiros da atualidade) - em relação às promessas e à aparente ética de determinados partidos e políticos identificados com a esquerda. Porém, ao mesmo tempo, a esperança, o entusiasmo do povo com a democracia e as suas atividades e instituições está sendo perversamente abalada.
Explicando melhor, em um contexto histórico sobre a política brasileira: depois de 20 anos de regime militar, que, apesar de não ter sido tão violento se comparado com os governos dos demais países latino-americanos, usou e abusou da censura e da manipulação eleitoral, sem contar políticas sociais concentradoras de renda e obras públicas faraônicas, certamente superfaturadas, o eleitorado brasileiro sempre buscou opções à esquerda, que simbolizassem uma oposição a tal regime. As forças de oposição contra o regime militar brasileiro eram compostas sobretudo por jovens, que são os pais e mães dos jovens de hoje.
Com a redemocratização, o PMDB, filhote direto do MDB, a principal força legal de oposição ao regime militar, tomou conta da cena política nacional, tornando-se o maior partido político brasileiro e ocupando a presidência da república, com Tancredo Neves. Contudo, com a morte prematura deste, o país foi (des)governado por José Sarney, responsável pelas políticas econômicas desastrosas que até hoje refletem na confiança internacional sobre as autoridades econômicas desastrosas. Após Sarney (que, infelizmente, continua no governo até hoje), o país sofreu o acidente político Fernando Collor de Mello, que não merece ser comentado em uma análise de longo prazo.
Após o período Collor/Itamar Franco, o governo federal passou para as mãos do PSDB, uma dissidência de esquerda do PMDB, que se formou logo após o fracasso do governo Sarney. FHC, Presidente da República apoiado pelo PSDB, era líder de movimento estudatil durante o regime militar, sempre exercendo feroz oposição a aquele governo. Nos seus oito anos de governo, FHC teve importantes méritos, principalmente em relação às reformas institucionais, às políticas sociais e à estabilidade macroeconômica do país. Contudo, o crescimento econômico e do emprego no período foi muito baixo, e apesar de nunca ter chegado a atingir diretamente o presidente, e nem as figuras mais importantes de seu governo, as denúncias de corrupção foram freqüentes (principalmente em relação ao escândalo na SUDAM, protagonizado pelo Presidente do Senado, apoiado por FHC, Jader Barbalho).
2002, nova eleição, e nova guinada à esquerda: o PT, oposição mais feroz a todos os governos desde a sua fundação, assume o governo federal. Para conseguir se firmar no governo, o PT teve que abandonar algumas bandeiras históricas absolutamente defasadas, como a ideologia socialista contrária à iniciativa privada e a ruptura internacional com as grandes potências (que possuem os maiores mercados consumidores do mundo). Salvo poucas pessoas, a mudança de rumos do PT foi amplamente aceita pela sociedade brasileira. Ou seja, a tendência esquerdista verificada pelo eleitorado brasileiro desde a redemocratização não significa que a sociedade busca o comunismo como sistema econômico/social, com a abolição da propriedade privada e tudo mais. O que o brasileiro quer é simples: transparência política, estabilidade de preços e geração de empregos.
Com a atual crise política que afundou o PT, principalmente o seu Campo Majoritário (que eu mesmo, confesso, era simpatizante), é esperada uma nova decepção da sociedade brasileira com seus representantes. Contudo, agora não existem novas opções para o governo federal. Qualquer que seja o resultado das eleições desse ano, é certo que pelo menos um dos partidos que governaram recentemente o Brasil - PT, PSDB, PMDB, PFL - deverá compor o novo governo. Contudo, tais partidos (talvez um pouco menos o PSDB) já estão com sua credibilidade abalada perante o eleitorado, retirando parte de seu entusiasmo com a política nacional.
Para os mais jovens, sobretudo, que não precisaram lutar contra o regime militar para assegurar os seus direitos políticos democráticos, o descompromisso com a política é mais evidente. Com o colapso do PT, a posição política da juventude começa a se polarizar de um modo preocupante. De um lado, os ditos "de esquerda", membros de partidecos comunistóides como PSOL, PSTU e PCO, entre outros, compondo misteriosos grupos políticos denominados por siglas, facções dentro de seus próprios partidos, aparelham todas as instituições de representação ao seu alcance (principalmente de representação estudantil), buscando atender os seus próprios objetivos de poder, isto é, aqueles que deveriam estar sendo representados - a sociedade jovem de hoje - que se danem. De outro lado, os ditos "de direita", reclamam de tudo o que pareça "petista", incluindo a opinião de seus pais e professores, idolatram "intelectuais" como Olavo de Carvalho, ignoram a importância da democracia (alguns chegam até mesmo a defender a volta do regime militar, como se algum país desenvolvido de hoje fosse governado por um) e bradam idéias metidas a reacionárias, do tipo "política social é coisa pra vagabundo", "pobre é tudo ladrão", "pena de morte = mais transplantes", etc. Porém, por trás da aparente "revolta" direitosa contra o atual sistema político, há uma verdadeira apatia, um desinteresse pelos problemas na sociedade brasileira, em favor unicamente de seus interesses pessoais (uma ideologia política de individualismo exarcebado). Felizmente, graças exatamente a esse individualismo exarbebado, tais jovens são incapazes de compôr grupos políticos para conquistar poder.
Ou seja, se a situação política brasileira é triste hoje, o que será no futuro, quando esses grupos descritos acima ocuparem a maioria do eleitorado brasileiro?
sexta-feira, janeiro 20, 2006
O Triste Futuro da Política Brasileira
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Um comentário:
te vi no orkut. tu é lindo e eu to apaixonada por ti
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