quarta-feira, dezembro 19, 2012

Terceira Publicação

Nessas últimas semanas, recebi a feliz notícia que meu primeiro artigo acadêmico, feito para a disciplina de modelos hierárquicos, no Mestrado, foi publicado na revista Planejamento e Políticas Públicas, do IPEA. O artigo foi escrito em co-autoria com a Helena Castanheira, que no momento está fazendo doutorado em demografia nos Estados Unidos.

Esse artigo, por ter circulado em várias revistas e sofrido ataques contribuições de muitos pareceristas, passou por muitas transformações nesses cinco anos. O referencial teórico foi totalmente reescrito. A bibliografia originalmente levantada, sobre gastos públicos sociais, foi substituída por uma de economia da educação. A apresentação e análise dos resultados dos modelos foram igualmente reestruturadas, ficando no formato padrão das revistas de economia. O que se manteve, de fato, foi o banco de dados, cuja construção seria impossível sem o esforço da Helena.

O que me satisfaz nesse artigo é ver como ele me fez aprender a fazer pesquisa acadêmica. A sua primeira versão é praticamente um TCC de graduação, cheia de explicações desencessárias, citações e verborragias procurando sinalizar ao professor que a bibliografia indicada foi lida. A última versão é totalmente diferente.

A versão on-line do trabalho encontra-se neste link.

BNDES News

Fiquei vários meses sem postar aqui no blog. O motivo é que, em setembro, meu departamento mudou de área aqui no banco. Saímos do Gabinete da Presidência e fomos para a Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico.

Depois de mais de um ano como responsável pelos relatórios de conjuntura macroeconômica do BNDES, agora estou envolvido em um projeto de pesquisa. Esse projeto procura comparar a atuação do BNDES com a de outros bancos de desenvolvimento pelo mundo. Para isso, nesses últimos meses, li cerca de 50 artigos acadêmicos sobre os temas de mercado de crédito, assimetrias de informação (com destaque para a vasta obra de Joseph Stiglitz), a institucionalidade dos bancos de desenvolvimento e avaliação econométrica da atuação de bancos públicos.

Confesso que o início foi bem difícil. Em toda minha carreira profissional, atuei nas áreas de economia brasileira, macroeconomia e economia do bem-estar social. Nunca havia estudado a fundo os mercados bancários e financeiros. E, em uma semana após minhas férias, fui comunicado que pesquisar sobre isso seria minha atribuição para os próximos anos...

Mas, nesses últimos meses, consegui aprender bastante. Já estou resenhando a maior parte da bibliografia levantada, enquanto que o resto da equipe está construindo um painel de dados de bancos de desenvolvimento em nível mundial. Os resultados são promissores.

quinta-feira, setembro 20, 2012

Calor

Ontem foi o dia mais quente no Rio de Janeiro desde que cheguei aqui. A temperatura quase chegou aos 42 graus em pleno inverno.

Seria um pouco menos insuportável e desagradável se minha dermatologista não tivesse marcado um exame de contato na sexta-feira, de modo que estou desde segunda impossibilitado de tomar um banho completo.

terça-feira, agosto 28, 2012

Mapa Mundi Virtual do IBGE

Para quem gosta de observar dados socioeconômicos internacionais e comparar o desempenho dos países, recomendo fortemente dar uma olhada no mapa mundi virtual do IBGE.

Para quem não gosta, ou não se interessa por isso, recomendo do mesmo jeito, pois o site é muito divertido.

quinta-feira, julho 26, 2012

Mudanças no Blog

Hoje, fiz uma coisa no blog que já deveria ter feito há muito tempo. Todos os meus posts sobre o cotidiano do mestrado no Cedeplar-UFMG foram passados para rascunho. Isto é, eles não foram apagados, mas apenas eu terei acesso a eles.

Tomei essa iniciativa quando, depois de muito, muito tempo, resolvi reler o que escrevi em 2006-2007. Ri bastante, mas vi que tudo aquilo já teve o seu tempo. Uma coisa é um estudante de 20 ou 22 anos escrever emotivamente sobre a dificuldade da última prova de econometria, ou sobre como aquele último modelo macroeconômico é complexo, e esses textos serem lido por outros estudantes. Mas quando se é um economista profissional próximo dos 30 anos, e seu blog é procurado por quem quer inofrmações sobre economia, e não sobre vida de estudante, essas histórias podem se tornar inconvenientes.

Aos poucos, vou ir repostando os textos mais técnicos - como resenhas de artigos - daquela época.

quarta-feira, julho 11, 2012

Calvin e a Intelectualidade

Todo acadêmico já deve ter pensado nisso por um dia. Existe um trade-off entre crescimento intelectual e felicidade?


quinta-feira, julho 05, 2012

Gráfico do Dia

Preços das commodities nos mercados internacionais e taxa de crescimento do PIB brasileiro.



Dica do Leonardo Monastério.

terça-feira, julho 03, 2012

Guerra na Blogosfera Econômica - O Desfecho

A guerra na blogosfera econômica esfriou poucos dias depois de iniciar. A tréplica do Reinaldo Azevedo ao professor João Manuel Pinho foi bastante pessoal e ofensiva, e o professor não se dispôs a responder. Mais alguns dias depois, e os últimos leitores anônimos do Reinaldo Azevedo pararam de postar mensagens ignorantes nos blogs de economia.

Mas a parte mais divertida de toda a guerra ficou com o blog econômico-humorístico-irônico Selva Brasilis, que caricaturizou o estilo Reinaldo Azevedo de debater aplicado ao futebol. Nocaute total!

quarta-feira, junho 20, 2012

Guerra na Blogosfera Econômica


Nessa semana, estourou a maior guerra na blogosfera brasileira dsde que eu a acompanho. Tudo começou quando o Reinaldo Azevedo, o mais polêmico colunista da VEJA, resolveu descer a lenha em uma pesquisa de um internacionalmente respeitado professor da PUC-RJ que procurava identificar efeitos do programa Bolsa-Família sobre a redução da criminalidade em São Paulo. Em resumo, o estudo conclui que o programa é responsável por 21% da redução dos índices de criminalidade da cidade. O jornalista, no entanto, não aceita que um estudo desse porte use como amostra apenas a cidade de São Paulo - já que no Nordeste está a maior parte dos beneficiados e lá a violência segue trajetória ascendente na última década - e que não tenha levado em consideração as políticas de segurança pública adotadas na capital paulista no período abordado.

Todavia, em sua crítica, Reinaldo Azevedo deixou claro que não leu o artigo científico em seu formato original, detendo-se nas conclusões apresentadas em uma reportagem de O Globo. Contudo, utilizou (ainda que implicitamente, é bom ressaltar) como estratégica de retórica a chamada "falácia do espantalho", que consiste em distorcer os argumentos do adversário no debate de forma a torná-los muito piores do que realmente são. Assim, o professor João Manuel Pinho de Mello não apenas teria se equivocado na escolha da base de dados e do método estatístico, ou que teria tirado conclusões mais ambiciosas do que as evidências empíricas encontradas permitiam, mas também teria o objetivo de favorecer politicamente o PT nas próximas eleições municipais, dando crédito a uma importante questão política da cidade (a segurança pública) a um programa do governo federal, e não às medidas dos governos estadual e municipal. Além disso, o jornalista utilizou uma linguagem ácida, que se considerada divertida quando direcionada a políticos e militantes, é tida como desrespeitosa na comunidade acadêmica. Resumindo, o problema não era que a pesquisa era falha, mas sim que o pesquisador era mal-intencionado. Tudo isso foi agravado pelos comentários (anônimos na maioria) dos leitores do Reinaldo Azevedo: demonstrando total ignorância sobre pesquisas científicas, passaram a atacar como "braços da agenda petista de dominação nacional" não apenas o estudo em questão e o seu autor, mas também a PUC-RJ como instituição e a própria academia brasileira, sem ressalvas a questões de vertentes teóricas e métodos.

O resultado não podia ser outro: um levante geral na blogosfera econômica em apoio ao professor da PUC-RJ. A única ressalva foi o "O Anônimo", do blog A Mão Visível, que se deteve em problemas técnicos da pesquisa em questãoO mais intereressante é que a maior parte dos "econoblogueiros" indignados com o comportamento do jornalista  não são os petistas, mas sim os liberais e ortodoxos, que não gostaram de ver o seu instrumento de trabalho - a econometria - ser atacado publicamente por um leigo. Além disso, o professor João Manuel Pinho de Mello publicou uma carta de resposta ao jornalista em que esclarece os detalhes de sua pesquisa. No entanto, no início desse documento o autor destaca a sua carreira acadêmica - títulos, pesquisas anteriores, artigos publicados, etc. - como forma de demonstrar sua superioridade intelectual em relação ao oponente, além de provar que não faz proselitismo ideológico petista. Sabe-se que, dentro de um ambiente acadêmico, tudo isso é fonte de respeito e consideração. Contudo, mesmo ponderando-se que o professor escreveu o documento de cabeça quente, para o público em geral, isso pode demonstrar pedância. Ou seja, tentou-se usar pólvora para apagar a fogueira.

O Drunkeynesian - o melhor blog de economia em português na minha opinião - descreve o dia-a-dia das batalhas aqui.

Mais tarde pretendo voltar a essa discussão.

segunda-feira, junho 18, 2012

Uma Partida de Civilization II de 10 Anos

Um dos maiores vícios da minha junventude é o jogo de computador Civilization II. Ganhei ele de Natal da minha avó em 1997, e ainda atualmente o jogo às vezes quando bate uma saudade. O software é, em resumo, um simulador da história mundial, em que o jogador lidera uma civilização do ano de 4.000 A.C. até o ano de 2.000 D.C., e, em sua trajetória, coopera e - principalmente - compete com outras civilizações controladas pelo computador. O vencedor do jogo é a civilização que dominar as demais, seja militarmente (pela conquista mundial), seja tecnologicamente (por ser a pioneira na exploração espacial). Além disso, é possível jogar cenários históricos, que são facilmente encontrados para download na internet, e é o que eu mais aprecio pessoalmente.

Hoje, li na internet que um outro viciado está jogando a mesma partida há 10 anos, e não pretende desistir tão cedo. Segundo o simulador, como seria o mundo no ano 4.000 D.C.? A resposta está no mapa abaixo:



Segundo o jogo, o futuro da humanidade não é nada animador. As características do mundo são as seguintes:

- Três civilizações dominam o mundo, e estão em eterna guerra entre si. Uma, a do jogador humano, é uma ditadura comunista. As demais, controladas por inteligência artificial, são teologias fundamentalistas. A guerra permanente inviabilizou governos mais abertos.

- As armas nucleares provocaram o derretimento das calotas polares, transformando o mundo em um grande pântano (com excessão das áreas montanhosas). A agricultura se tornou impraticável, 90% da população mundial morreu de fome, e as grandes cidades viraram coisa do passado.

- Toda a produção das cidades é voltada à guerra e à construção de estradas para as tropas passarem. Nenhuma melhoria de infra-estrutura é viável.

Contudo, para não deixar o post fatalista, faço duas observações pertinentes, relacionadas ao realismo do jogo.

Em primeiro lugar, no Civilization II original, tal como eu ganhei em 1997, a ênfase da competição entre as civilizações era o domínio tecnológico. As partidas eram mais pacíficas, e os protagonistas mais cooperavam   (via trocas de pesquisas, alianças, etc.) do que se enfrentavam em guerra. Na década seguinte, no entanto, os desenvolvedores do jogo criaram uma versão tida como mais "emocionante", em que a inteligência artificial do simulador se tornou extremamente hostil e belicosa. Tão logo atingem a Revolução Industrial, as civilizações controladas pelo computador tendem a adotar regimes fundamentalistas e atacar todos os demais adversários. Essa é a única versão do jogo compatível com Windows Vista e Windows 7, e a jogo desde 2007.

Em segundo lugar, o Civilization II se baseia no princípio que o "motor do desenvolvimento" é o crescimento populacional. Conforme a população de uma civilização cresce, ela aumenta a produção, cria trabalhadores, faz obras de infra-estrutura e pesquisa tecnologia de modo a aumentar a produtividade. Segue mais ou menos uma lógica marxista: o trabalho humano é o único fator de produção. E isso vale durante o jogo inteiro, com uma aceleração brusca da produtividade quando a população atinge a industrialização. Por isso, para uma civilização crescer, é necessária a contínua conquista de novas terras para a construção de novas cidades e a ocupação do solo para atividades agrícolas. Se o algoritmo do jogo fosse aberto para outros fatores de produção, como a acumulação de capital privado, o capital humano e o desenvolvimento endógeno de tecnologia, o resultado poderia ser bem diferente.

PS 1: Observo que na macroeconomia moderna, o modelo unificado de crescimento de Galor admite que a importância dos fatores de produção para o desenvolvimento das economias varia de acordo com o tamanho do produto. Assim, em sociedades primitivas, o crescimento populacional de fato é o motor do crescimento econômico. Contudo, quando o produto atinge um determinado patamar, o processo de acumulação de capital baseado em poupança e investimento assume o seu lugar, e, mais para a frente, o desenvolvimento tecnológico e a sua incorporação pelas pessoas se tornam mais relevantes. Por isso, o jogo pode ser resumido a uma simulação sobre o que aconteceria se bárbaros tivessem armas modernas.

PS 2: Durante um tempo, tentei jogar o Civilization Call to Power, uma continuação da série, que inclui aspectos mais complexos do desenvolvimento das sociedades. Mas achei tão complexo que ficou chato.


terça-feira, maio 29, 2012

Só para Constar

Hoje faz um ano que estou no Rio.

Nesse mesmo 29 de maio, no ano passado, cheguei no aeroporto Santos Dumont vindo de Brasília com 4 malas, 1 mochila nas costas e uma reserva de 1 mês em um flat na rua Pompeu Loureiro, em Copacabana. Me lembro de ouvir, no rádio do taxi, um comentarista esportivo reclamando do frio de 23 graus (?!) qua fazia naquela tarde de domingo. Quando cheguei no flat, sequer desarrumei as malas, e fui caminhar no calçadão da praia - entre os gringos - como não fazia a muito tempo.

quinta-feira, maio 24, 2012

Riqueza, Religião e Fertilidade

O Drunkeynesian divulgou mais um excelente gráfico hoje. A figura mostra a relação entre a religião, a renda per capita e a taxa de natalidade em uma grande amostra de países. O gráfico é dinâmico: também mostra a evolução desses indicadores desde 1800.

A conclusão é clara: altas taxas de fertilidade decorrem de baixa renda per capita. Ao contrário do que os cristãos radicais (e o senso comum) acreditam, os muçulmanos não estão a um passo de dominar o mundo.

terça-feira, maio 22, 2012

Sinopse Internacional - Abril de 2012

Foi publicada na internet a Sinopse Internacional n. 17, a carta de conjuntura macroeconômica semestral do BNDES. Ela é uma publicação conjunta entre a Assessoria Econômica da Presidência, a Área de Comércio Exterior e a Área Internacional do banco, e destaca os principais acontecimentos do panorama macroeconômico mundial, as tendências do investimento externo global e do comércio exterior.

A publicação pode ser conferida neste link.

Deu trabalho montar essa sinopse, principalmente de coletar os dados em várias fontes internacionais e comparar nossas interpretações com as de outras cartas de conjuntura divulgadas pelas demais instituições (como a do FMI, do IIF, do IPEA, etc.). Mas o resultado final ficou bom.

sexta-feira, maio 18, 2012

Quadrilha (Versão 2012)

João subornava Teresa que fraudava Raimundo
que extorquia Maria que achacava Joaquim que fazia lobby para Lili
que não sabia de nada nem de ninguém.
João foi para as Ilhas Cayman, Teresa para o Congresso,
Raimundo morreu de overdose, Maria concedeu CC para sua tia,
Joaquim foi suicidado e Lili montou sociedade escusa com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na esquema.

segunda-feira, maio 14, 2012

Os 10 Mandamentos do Ensino, por Bertrand Russel

Li um livro do Bertrand Russell, "A Economia do Ócio", em 2007 ou 2008, e achei muito bom. Na semana passada, encontrei na internet algumas idéias dele sobre educação, com destaque para os 10 mandamentos para o ensino. Eles estão abaixo, com o link para o site onde os encontrei.

1) Do not feel absolutely certain of anything. 

2) Do not think it worth while to proceed by concealing evidence, for the evidence is sure to come to light. 

3) Never try to discourage thinking for you are sure to succeed. 

4) When you meet with opposition, even if it should be from your husband or your children, endeavor to overcome it by argument and not by authority, for a victory dependent upon authority is unreal and illusory. 

5) Have no respect for the authority of others, for there are always contrary authorities to be found. 

6) Do not use power to suppress opinions you think pernicious, for if you do the opinions will suppress you. 

7) Do not fear to be eccentric in opinion, for every opinion now accepted was once eccentric. 

8) Find more pleasure in intelligent dissent than in passive agreement, for, if you value intelligence as you should, the former implies a deeper agreement than the latter. 

9) Be scrupulously truthful, even if the truth is inconvenient, for it is more inconvenient when you try to conceal it. 

10) Do not feel envious of the happiness of those who live in a fool’s paradise, for only a fool will think that it is happiness.

quarta-feira, maio 09, 2012

Entrevista com Amartya Sen

A revista Veja (azar o meu, para a galera à esquerda) entrevistou o economista indiano Amartya Sen nessas últimas semanas. O link esta aqui.
É um erro buscar o crescimento pelo crescimento, sem levar em conta os seus efeitos mais amplos e as suas consequências. É preciso ponderar, entre outros fatores, o impacto ambiental. É fundamental também usar os frutos do crescimento para aprimorar a qualidade de vida da população de maneira abrangente, e não apenas favorecendo certos grupos. A Índia teve uma expansão econômica, nas duas últimas décadas, mais elevada do que a de Bangladesh. A renda per capita indiana é hoje equivalente ao dobro da de Bangladesh. Porém, apesar de ter crescido menos, Bangladesh ultrapassou a Índia em diversos indicadores de desenvolvimento social. Precisamos prestar atenção em como tirar o melhor proveito do enriquecimento do país. O crescimento é um meio extraordinário de alcançar avanços sociais e beneficiar a população em geral, como já apontara Adam Smith (filósofo escocês, 1723-1790).

Amartya Sen é um dos economistas que mais influenciaram minha carreira. Desde que li o livro "Desenvolvimento como Liberdade", no segundo semestre da graduação, me interessei em trabalhar com desenvolvimento econômico e indicadores sociais, temas que me são caros ainda hoje. Incluí algumas das principais idéias dele no artigo "Um Ensaio sobre os Aspectos Teóricos e Metodológicos da Economia da Pobreza", publicado na Revista Economia Ensaios (REE) no ano passado.

terça-feira, maio 08, 2012

Sorria... O Mundo já Foi Pior

Para todos (como eu) que são avessos a qualquer forma de modismos, a Wikipedia apresenta a arquitetura brutalista, "hit" dos anos 50-70, e que muito contribuiu com a degradação das regiões centrais das metrópoles brasileiras. (dica do Leonardo Monastério)

A Revolução dos Juros Baixos no Brasil

O Drunkeynesian publicou um excelente post sobre a nova realidade das taxas de juros no Brasil. Vale MUITO a pena conferir.
A tendência que parece estar se desenhando é: dinheiro deixando de financiar o setor público para investir no setor privado. No melhor dos casos, finalmente o Brasil conseguirá dar um grande passo no desenvolvimento do mercado de capitais (ações, dívida corporativa, dívida imobiliária, etc), o financiamento da atividade econômica passará a depender menos do governo e a remuneração dos investimentos refletirá uma taxa de mercado, proporcional ao risco tomado; no pior, como no mundo desenvolvido, as más decisões de investimento não serão punidas (investidores salvos pelo governo) e o custo do dinheiro ficará distorcido de outra maneira. Esse, porém, será assunto para daqui a alguns bons anos (mas meu lado Cassandra não pode deixar de achar que cairemos nesse pior caso).

segunda-feira, abril 16, 2012

Gráfico do Dia (da Semana, do Mês, do Ano, etc...)

Dica do The Drunkeynesian.

Coisas Estranhas de Brasília - por Adolfo

Me lembro dos meus posts de 2010 e 2011 sobre as coisas estranhas que ia percebendo na rotina de Brasília. Pois o Adolfo Sachsida, economista do IPEA, faz uma contribuição de grande valor à coleção:Brasília tem as crianças mais manhosas do mundo. Ir a um shopping, ou mesmo a um hipermercado, pode ser um grande peso para os ouvidos. A criançada, desde os primeiros anos de vida, chora o tempo inteiro nos ouvidos dos pais querendo presentes. Inclusive, já vi algumas mais velhas (de oito a dez anos) agredir com tapas seus responsáveis.

Quando via essas cenas, nunca deixei de pensar "bom... estão aí os políticos do futuro!".

quarta-feira, março 28, 2012

Repolítica

Conheci um site que procura identificar quais são os políticos brasileiros mais de acordo com as preferências do internauta, o Repolítica. Pode ser de interesse público para as eleições municipais deste ano.

Minhas preferências pessoais são:

Qual a posição econômica do seu candidato? Centro.

Que tipo de valores tem seu candidato? Liberal e modernizador.

Qual prioridade é mais importante para você? Educação.

Alguma outra prioridade? Infraestrutura.

O que é mais importante pra você? Ética.

O que você mais detesta num político? Ter ocorrências na justiça.

Os políticos que o site indicou para cada um dos estados que eu já morei são:

RS - Alexandre Lindenmeyer

MG - Rogerio Correia

DF - Cristovam Buarque

RJ - Fernando Gabeira

PS: Desconheço os candidatos de RS e MG, mas me pareceram radicais demais.

Porto Alegre 360 Graus (2)

O site da Zero Hora divulgou várias fotos muito legais de Porto Alegre, vista de 360 graus. Boa oportunidade para conhecer a praia do Lami, o lugar mais remoto da cidade.

As fotos estão AQUI.

quarta-feira, março 07, 2012

É Isso que Eu Chamo de Virar a Casa de Pernas pro Ar


Pitoresca casa de festas na zona rural de Ribeirão das Neves (MG). Bela surpresa a caminho do sítio onde foi comemorado o aniversário de 5 anos da turma de pós-graduação em economia do Cedeplar-UFMG.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Complexo do Alemão - 360 Graus

Uma gigafoto do O Dia Online mostra com detalhes incríveis esse mar de casebres espremido na zona norte do Rio de Janeiro.

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Debate sobre a Política Fiscal Norte-Americana

O Mansueto Almeida, especialisa em política fiscal, faz uma excelente resenha sobre uma entrevista do Paul Krugman sobre a crise econômica nos Estados Unidos e as alternativas fiscais para o estímulo à demanda agregada. Vale a pena conferir.


A defesa que Krugman faz do aumento dos gastos públicos pelo governo norte-americano para mitigar os efeitos da desaceleração da economia nos últimos trimestres chega a ser assustador para uma parte dos economistas brasileiros. Mas é bom destacar que os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, é um país de instituições fortes. A regra macroeconômica dos manuais de graduação, de que o governo deve elevar seus gastos quando as despesas privadas estiverem deprimidas e reduzir os mesmos quando as despesas privadas estiverem aquecidas, pode ser seguida pelos governantes de lá. Aqui nos trópicos, infelizmente, a política fiscal é rígida para baixo. Elevar os gastos públicos sempre é fácil, mas raramente os governos têm força o suficiente para manter seus gastos sob controle durante longos períodos, pois sofre pressão dos partidos políticos e de grupos de interesse. E, para não alimentar (mais) a inflação e o endividamento, acaba recorrendo ao aumento da arrecadação, via elevação dos impostos.

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

A Química dos Metais

Dica dos meus ex-colegas da UFMG.

Não, ao contrário do que suspeitaram, a prova não é minha.

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

As Causas dos Altos Juros de Mercado no Brasil

O Cristiano Costa publicou um excelente post explicando por que os juros bancários são tão altos no Brasil. De todo o spread bancário apropriado pelos bancos públicos e privados (que é a diferença entre os juros que cobram dos consumidores e a taxa básica de juros da economia), dois terços cobrem os seus custos administrativos e operacionais e os impostos. A margem líquida dos bancos equivale a, portanto, um terço do spread, o que, nos cálculos do autor, dá cerca de 12% ao ano. Essa é uma taxa relativamente elevada frente aos demais setores da economia, e é explicada, dentre outros fatores, pela elevada concentração do mercado de bancos comerciais no Brasil e pela inadimplência do devedor.

No post original, tem tabelas bastante demonstrativas.

Essa Tal de Concorrência...

... é assim mesmo que funciona. Exemplo pedagógico aos consumidores brasileiros.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Do-File do Stata do Primeiro Semestre do Mestrado no Cedeplar

Dica de um amigo no Facebook. Pior que era assim mesmo que eu me sentia.

set time 1 year

use "C:\Mestrado\ano1.dta"

drop life
(1 observation deleted)

tab fun

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r(111)

collapse aluno

.

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quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Balança Comercial Fecha Janeiro em Déficit

Hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou a balança comercial brasileira referente ao mês de janeiro. Nesse mês, o saldo fechou em déficit de 1,3 bilhão, o primeiro resultado negativo em dois anos. As exportações tiveram queda de 27% em relação a dezembro, enquanto que as importações tiveram queda de 4,8% na mesma base de comparação. Os gráficos abaixo ilustram os resultados comerciais do país em dois horizontes de tempo diferentes:



O resultado negativo foi conseqüência da queda das exportações para a União Européia (-25,2%), consequëncia da crise econômica na região, da queda de 31,1% da exportação de minério de ferro (principal produto da pauta nacional), da elevação de 54,7% da importação de combustíveis e derivados de petróleo (sobretudo do Oriente Médio), além de um efeito sazonal específico para o mês de janeiro. Por outro lado, contrabalancearam esses fatores o bom desempenho das exportações de soja e de veículos, assim como das exportações para o mercado norte-americano.

Esse resultado pode estar confirmando uma hipótese que levantei a alguns posts passados, em um entre muitos clippings. A atual política econômica pode estar provocando efeitos adversos sobre as contas externas do país. Desde a metade de 2011, com a explosão da crise na Europa, a política monetária mudou de foco: ao invés de buscar atingir a inflação no centro da meta (4,5% ao ano), passou a buscar atingir o limite superior da meta (6,5%) e tentar mitigar possíveis transbordamentos da crise externa sobre a economia nacional. As autoridades monetárias esperavam que a própria crise fosse desacelerar a inflação, pelo seu efeito sobre os preços das commodities nos mercados mundiais. O resultado foi claro: apesar da desaceleração, sobretudo da produção industrial, a economia certamente fechou o ano em um ritmo superior ao que teria fechado se a taxa de juros não tivesse sido afetada, e o IPCA ficou exatamente em 6,5% no acumulado de 2011. A crise desaqueceu os mercados de commodities, e os efeitos sobre a inflação já estão sendo vistos pelos últimos resultados do IGP-M, de deflação de preços ao produtor.

Contudo, houve um efeito, que aparentemente foi inesperado, sobre as contas externas. Com a economia interna relativamente mais aquecida que a economia externa, é natural que se espere que as importações crescam em ritmo superior às exportações. Além disso, a queda dos preços das commodities certamente reduz o valor das exportações brasileiras, sobretudo pela importância do minério de ferro na pauta nacional. Seria esperado que a política monetária expansionista desvalorizasse o câmbio, pois os juros mais baixos desincentivariam investimentos em títulos brasileiros, provocando a saída de capitais. Contudo, provavelmente como outra conseqüência da crise externa, o país está recebendo poupança externa sob a forma de investimentos estrangeiros diretos (IEDs), mantendo positivo o resultado do balanço de pagamentos. Portanto, o resultado do somatório de todos esses fatores - economia interna mais aquecida do que a externa, preço das exportações em queda e câmbio estável - não poderia ser outro senão o déficit comercial.

Se o Brasil entrar estruturalmente em uma fase de déficits comerciais, isso seria perigoso para a vulnerabilidade do país em relação às crises externas. O déficit em conta corrente está elevado, e não vejo perspectivas de redução em um futuro próximo. Seu financiamento até agora está mais do que compensado pela entrada de IEDs, mas é impossível saber até quando isso vai durar.

Melhor esperar que o resultado da balança comercial de janeiro seja apenas uma sazonalidade. Ou então que a economia norte-americana se recupere mais rapidamente nos próximos meses.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Sobre os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil

Segundo os dados do balanço de pagamentos brasileiro, divulgado pelo Banco Central na terça-feira, em 2011 o país acumulou déficit em conta corrente (saldo das transações de bens, serviços, rendas e transferências unilaterais entre o Brasil e o resto do mundo) de US$ 52,6 bilhões, o maior da história. Por outro lado, esse déficit foi mais do que coberto pela maciça entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, que acumularam ingressos líquidos de US$ 66,7 bilhões no ano. O ingresso de IEDs no país se acelerou a partir de agosto de 2010, conforme pode ser visto nos gráficos abaixo, e seguem um fluxo jamais visto anteriormente, certamente influenciado pela crise nos países desenvolvidos, que exportam seus capitais para economias com retorno mais promissor.



A entrada de IEDs para financiar o déficit no saldo em conta corrente significa que o país está crescendo pela captação de poupança externa. Explicando melhor, imaginemos que na economia a produção (Y) é direcionada para o consumo das famílias (C), o investimento das empresas (I), os gastos do governo (G) e as exportações (X), descontadas das importações (IM), que é a produção estrangeira consumida no país. Por outro lado, as famílias, unidades básicas da economia, utilizam sua renda (Y, pois, no agregado, é igual à produção) para o consumo (Y), poupança (S) e pagamento de impostos (T). Ou seja, dadas as seguintes equações:

Y = C + I + G + (X - IM)
Y = C + S + T

Para se identificar as fontes de recursos para os investimentos, causas do crescimento econômico a médio prazo, basta igualar as duas equações e isolar o termo I. Portanto:

C + S + T = C + I + G + (X - IM)
I = S + (T - G) + (IM - X)

Ou seja, o investimento pode ser financiado pela poupança doméstica privada, poupança doméstica pública ou poupança externa. No Brasil, segundo os últimos dados de que disponho, a poupança privada é de 18,8% do PIB (lembro que na China, é de cerca de 50% do PIB) e o setor público opera com um déficit nominal de cercade 100 bilhões de reais ao ano, e se financia com poupança privada pela venda de títulos públicos. Portanto, para o país conseguir crescer a taxas expressivas, acaba recorrendo à poupança externa, captada pelo déficit em conta-corrente (IM - X). Dentro das categorias de capitais externos, os investimentos diretos têm a vantagem de se tratarem de capitais de longo prazo, voltados diretamente ao investimento produtivo, ao contrário dos investimentos em carteira, por exemplo, que são voltados ao curto prazo, isto é, a investimentos no mercado financeiro.

Tenho lido algumas críticas pela internet a esse modelo de crescimento que o país vem adotando desde a recuperação após a crise de 2010. Investimentos estrangeiros, por se traduzirem em ingresso de capitais ao país, apreciariam o câmbio, o que prejudica a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, prejudicando as exportações. Além disso, poderiam piorar a situação da conta-corrente do país por causa das remessas de lucro aos países de origem, que deterioram o saldo da balança de renda.

Independentemente do mérito dessas críticas, questiono qual seria uma possível alternativa. A poupança privada depende, dentre outras coisas, das preferências de consumo das famílias brasileiras, em relação às quais a política econômica tem pouca influência. O déficit público, apesar de não ser grande o suficiente para provocar uma crise de insolvência do setor público brasileiro, é persistente mesmo com toda a elevação da carga tributária que se viu por aqui nos últimos anos, e isso reflete a dificuldade do processo político do governo federal. E simplesmente interromper o processo de crescimento com geração de renda e empregos no país teria um custo de oportunidade em termos de bem-estar social politicamente insustentável.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Salário dos Professores - Comentário

O Thomas Kang publicou em seu blog uma crítica ao economista Gustavo Ioschpe (aquele da VEJA) sobre o papel dos salários dos professores sobre a qualidade do ensino do Brasil. Ioschpe afirmou que "o salário do professor não é uma variável estatisticamente significativa ou relevante na determinação do aprendizado dos alunos". Por isso, investimentos na qualidade da educação básica não deveriam ser direcionados na valorização da remuneração dos docentes.

Neste ponto contribuo com uma observação: até que ponto a baixa significância da variável "salário do professor" sobre os indicadores de "aprendizado do aluno" reflete uma relação de (não) causalidade tão forte como o autor sugere? Acho mais provável que as escolas que melhor remuneram seus professores sejam exatamente aquelas com melhor infra-estrutura física, ou que se localizam nos melhores bairros das grandes cidades, onde moram as famílias de alta renda, provocando uma colinearidade no modelo econométrico que faz com que a elasticidade da variável de interesse seja capturada em parte pelas variáveis de controle. Uma outra hipótese é a de que a variabilidade dos salários dos professores nas escolas públicas é baixa demais para que seus efeitos sobre outras variáveis sejam estatisticamente observáveis.

Estudar microeconometria aplicada ajuda a abrir os olhos para as propriedades das amostras dos modelos, antes de achar que o resultado de um único estudo pode resolver os mistérios do mundo.

De minha parte, minha opinião de que os salários dos professores do ensino básico deveriam ser maiores (evidentemente seguindo critérios meritocráticos) reflete antes de mais nada uma observação pessoal minha. Já vi muitos casos de professoras da rede de ensino público básico abandonar a carreira docente para estudar para concursos públicos de nível técnico-administrativo, em que o trabalho é menos perigoso (já ouvi estórias assustadoras sobre o que acontece nas ecolas das periferias das grandes cidades) e melhor remunerado. Eu sinceramente gostaria de saber se em algum outro país do mundo a carreira de professor é inteiramente dominada pela carreira de burocrata.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Filme do Tintim

Na sexta-feira passada foi feriado aqui no Rio, o dia de São Sebastião. Fui com minha namorada assisitir o filme do Tintim em 3D no cinema Unibanco Arteplex, na prai de Botafogo.

O filme é muito bem produzido. A computação gráfica conseguiu fielmente transformar atores reais nos personagens criados originalmente por Hergé, o criador da famosa série em quadrinhos. Os efeitos especiais são impressionantes, talvez os melhores que tenha visto recentemente.

Contudo, a velha máxima "o filme é sempre pior do que o livro" também valeu para esse filme. Sou fã dos livros do Tintim desde 1996, quando tinha 11 anos, e achei a história muito diferente do retratado nos quadrinhos. O filme resume três livros, "O Segredo do Licorne", "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e "O Tesouro de Rackham O Terrível", mas destaca muito (mais muito!) mais a ação do que o mistério, usando e abusando da destruição material. Tintim deixa de ser "o jovem Sherlock Holmes" e vira "o jovem Indiana Jones". Assim, o filme é divertido para os mais jovens, mais acaba ficando meio cansativo para mim e para a maior parte do público com mais de 20 e poucos anos.

Uma curiosidade é que o livro "O Segredo do Licorne" foi exatamente o primeiro da série que li, em 1996, quando o recebi de presente da minha madrinha. Já "O Tesouro de Rackham o Terrível", sua continuação, só o li aqui no Rio de Janeiro, quando o encontrei em um sebo no Catete em setembro do ano passado. Foram 15 anos de curiosidade reprimida sobre como acabava a história, e eu nunca procurei na internet nenhum spoiler, porque fazia questão de ver o mistério solucionado nas minhas mãos (ainda que o final fosse meio previsível, mas ok).

Momento clipping: o Victor Senna, economista cedeplariano e cartunista, fez uma resenha mais profissional do filme no seu blog.

Blog de Volta às Origens

Os gatos-pingados leitores do blog reclamaram, e decidi abandonar o estilo "clipping macroeconômico" que mantive nas últimas semanas. Mas foi bom ter demonstrado a todos uma pequena amostra do que venho fazendo aqui no BNDES desde julho de 2011. Quem desejar receber as relatórios de conjuntura por e-mail pode entrar em contato comigo.

Daqui para frente, meu blog voltará a ser de opiniões aleatórias e de fotos paisagísticas.

Me lembro que, em 2005, quando resolvi iniciar o blog, escolhi o nome "Essa Metamorfose Ambulante" porque estava ouvindo na hora a música honônima, e nada mais. Felizmente, agora posso usar esse nome para justificar as mudanças repentinas de rumo que o blog toma, ao invés de ficar apagando e criando outros blogs, como outras pessoas fazem.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Clipping Internacional - 19/01/2012

* Nos Estados Unidos, o índice de preços ao produtor (IPP) registrou deflação de 0,1% em dezembro, puxado pelos ítens alimentos e energia (ambos -0,8%). No ano, o índice acumulou alta de 4,8%.

A inflação ao consumidor (IPC) ficou estável no mês, e fechou o ano com alta de 3,0%. Ao longo do ano, o índice foi bastante influenciado pelo preço da energia, que, embora tenha registrado queda nos três últimos meses, acumulou alta de 10,6% em 2011.

A produção industrial registrou alta de 0,4% em dezembro na comparação com novembro. Em relação a dezembro de 2010, o crescimento foi de 2,9%.

O setor imobiliário do país teve resultados negativos em dezembro. As permissões para novas construções tiveram queda de 0,1%, e o início de novas construções, de -4,1%. No ano, contudo, ambos indicadores tiveram variações positivas de, respectivamente, 7,8% e 24,9%.

* Na Zona do Euro, o saldo em conta corrente fechou em déficit de 1,8 bilhão de euros em novembro. O principal fator que contribuiu com esse resultado foi o déficit de 11,4 bilhões de euros das transferências correntes, apenas parcialmente coberto pelos superávits nas contas de bens, serviços e rendas.

Indústria Interrompe Queda, segundo CNI

De acordo com os Indicadores Industriais da CNI, a indústria brasileira interrompeu em novembro a trajetória de queda verificada nos meses anteriores. Destaque para as altas, no acumulado do ano, tanto do faturamento real (5,2%) como da massa salarial real (5,1%), acima do crescimento do emprego no setor. Certamente, sinais de mudanças tecnológicas e do aperto no mercado de trabalho especializado no setor.

2a Prévia IGP-M Registra Variação de 0,22%

A segunda prévia do IGP-M (a "inflação do aluguel") em janeiro registrou alta de 0,22%. No mês anterior, a segunda prévia do índice fora de -0,07%. O principal determinante da aceleração do índice foi a queda da deflação do índice de preços ao produtor (-0,04% ante -0,38%), provocado, por sua vez pela queda da deflação das matérias-primas brutas (-0,45% ante -1,81%).

Para o consumidor, o índice de preços registrou variação de 0,81%, ante 0,59% registrados no mesmo período do mês anterior. A maior aceleração veio do grupo Educação, Leitura e Recreação (0,38% para 1,88%). Comportamento semelhante foi registrado pelo índice IPC-FIPE para a inflação de São Paulo.

Continuo de olho na variação de preços das matérias-primas brutas e em sua relação com a balança comercial brasileira.

Copom Reduz a taxa Selic para 10,50% ao Ano

Ontem, o Banco Central baixou a taxa Selic para 10,50% ao ano. Essa é a taxa mais baixa desde julho de 2010. A explicação divulgada pelo banco foi a mesma das decisões anteriores: o ambiente mundial recessivo e a desaceleração da inflação doméstica nos últimos 12 meses são compatíveis com uma taxa básica de juros menor no Brasil. O banco fala em uma convergência para a meta de inflação (4,5%) ainda nesse ano.


Contudo, não parece ser o que vai realmente acontecer. O último boletim Focus divulgado pelo próprio banco já aponta expectativas de inflação acima da meta tanto em 2012 como em 2013. Nesse ano, o mercado espera um IPCA de 5,3%. No ano que vem, a inflação esperada é de 5,0%. Como as expectativas dos agentes interferem nos contratos, e os contratos interferem na inflação, essas profecias do mercado podem se tornar auto-realizáveis. E as expectativas dos agentes tendem a ser menos otimistas quanto menos credibilidade tiver a autoridade monetária, o que, por sua vez, depende de seus erros passados. Portanto, o Banco Central deveria ter mais cuidado em manifestar sua previsão de convergência inflacionária para este ano, se optar por continuar reduzindo os juros.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Clipping Internacional - 18/01/2012

* A taxa de de desemprego do Reino Unido subiu para 8,4% da população economicamente ativa no trimestre encerrado em novembro. Essa é a maior taxa desde 1995. O número total de desempregados - 2,68 milhões - é o maior desde 1994.

* O Escritório Nacional de Estatísticas da China divulgou uma série de dados na madrugada de ontem. Os números são, como não poderiam deixar de ser, impressionantes. O crescimento anual dos investimentos em ativos fixos foi de 23,8%. A produção industrial fechou dezembro com crescimento anual de 12,8%. O crescimento do PIB fechou o ano em 8,9%, mesmo com a desaceleração.

Amanhã devo postar alguns gráficos ou tabelas sobre a economia chinesa.

Tentando prever se o crescimento chinês é sustentável a longo prazo, uma das informações contidas no relatório divulgado me pareceu fundamental. Em 2011, cerca de 15 milhões de chineses trocaram o campo pela cidade. A população rural total é de 656,56 milhões, e a urbana, de 690,79 milhões (pela primeira vez na história do país a população das cidades superou a do campo). Considerando que o combustível do crescimento chinês é a oferta de mão-de-obra barata para a indústria, até o país atingir uma população rural de 20% da população mantendo o ritmo atual da migração, teremos pelo menos mais 25 anos de crescimento. Ou seja, mesmo com a desaceleração prevista pelo próprio governo, o país continuará liderando o crescimento mundial nos próximos anos.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Clipping Internacional - 17/01/2012

Esses são os eventos macroeconômicos mais importantes do dia:

* Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (IPC) fechou o ano em 2,7%. Em relação ao mês anterior, a alta dos preços foi de 0,3%. A inflação foi mais elevada nos países periféricos do que nas economias centrais da região.

* No Reino Unido, o IPC fechou o ano em 4,2%. Em relação ao mês anterior, verificou-se desaceleração (a inflação anual registrada em novembro foi de 4,8%), graças a queda dos preços dos combustíveis, que eram os principais fatores que provocaram a alta do índice ao longo do ano.



No ano, ambos os índices mantiveram tendências paralelas, e influenciados pelo mesmo grupo de bens - os combustíveis. Desde setembro verificou-se tendência de queda da inflação acumulada no ano; todavia, em ambas regiões o IPC fechou o ano acima da meta de 2,0% estabelecida pelos seus bancos centrais.

* No Japão, o índice de confiança do consumidor subiu para 38,9 em dezembro.

* A encomenda de máquinas à indústria teve alta de 14,7% em novembro na comparação com outubro. Contudo, antes de se fazer qualquer previsão sobre a recuperação da economia japonesa, é importante esperar o resultado da produção industrial. A encomenda de máquinas no país tem se mostrado muito volátil ao longo do ano.

História da Divisão Territorial Brasileira

Para quem (como eu) gosta de ver mapas antigos, o IBGE divulgou nessa semana um estudo sobre a história da divisão territorial brasileira (estados e municípios) de 1872 a 2010. Os mapas estão divididos por década.

Apenas um comentário para quem abrir os mapas: a explosão municipalista do país nas décadas de 80 e 90, que criou muitos municípios sem capacidade de geração própria de renda para se manter, ficando dependentes dos repasses da União, não parece uma rubéola tomando conta do país?

IGP-10 Varia 0,08% em Janeiro

O IGP-10, mensurado pela FGV, registrou uma pequena desaceleração em janeiro. Variou 0,08%, em comparação com a taxa de 0,19% verificada em dezembro. A desaceleração foi provocada pela deflação do IPA (preços ao produtor) de -0,27%, sobretudo do ítem matérias-primas brutas (-1,23%). Do lado do IPC (preços ao consumidor), verificou-se alta de 0,92%, puxada pelo grupo Educação, tal como já verificado nos índices semanais anteriores.

É bom tomar cuidado que, dentro do índice de matérias-primas brutas, a variação de preço do minério de ferro caiu de -4,62% em dezembro para -6,04% em janeiro. Se esse bem continuar depreciando, poderemos ter um efeito inesperado na balança comercial do Brasil nos próximos meses. Lembro que a variação da quantidade exportada pelo país foi muito pequena em 2011; o saldo comercial positivo foi provocado exatamente pela alta do preço das commodities nos mercados mundiais.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

IPC-S Acelera na Segunda Semana de Janeiro

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), de FGV, registrou alta de 0,97% na segunda semana de janeiro. Essa é a maior taxa desde maio de 2011. Contudo, por estar influenciada pela alta de ítens cujos preços são fixos por contratos reajustados neste mês, como Educação (1,38% para 2,37%) e Transportes (0,61% para 0,72%), não se pode dizer se é uma evidência de aceleração da inflação brasileira para o ano que começa.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Clipping Internacional - 13/01/2012

Os principais eventos macroeconômicos do dia foram:

* Nos Estados Unidos, a balança comercial de bens registrou aumento do déficit para US$ 63,2 bilhões em novembro, 4,6 bilhões a mais do que em outubro. Incluindo bens e serviços, o déficit ficou em US$ 47,8 bilhões, acima dos 43,3 bilhões de outubro. O país registrou redução da exportação de bens, sobretudo de materiais para a indústria.

* Na Zona do Euro, a balança comercial registrou superávit de 6,9 bilhões de euros em novembro. Esse foi o terceiro resultado mensal positivo consecutivo no ano. Em relação a novembro de 2010, as exportações cresceram 10,0%, e as importações, 4,0%. No entanto, esse resultado foi regionalmente concentrado, já que apenas a Alemanha a França e a Irlanda registraram, individualmente, superávits comerciais acima de 2 bilhões de euros.

* No Reino Unido, a inflação ao produtor caiu 0,2% em dezembro em comparação com novembro. O acumulado do ano é de alta de 4,8%.

* O superávit comercial da China ficou em 155 bilhões de dólares em 2011. Esse valor é 14,5% inferior ao registrado em 2010. No ano, as importações chinesas aumentaram 24,9%, enquanto que as exportações aumentaram 20,3%. Esses números refletem a iniciativa do governo do país de procurar um modelo de crescimento menos dependente dos mercados internacionais, isto é, mais centrado no consumo e investimento doméstico do que nas exportações.

Emprego Industrial Recua 0,1% em Novembro

Segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (PIMES) do IBGE referente ao mês de novembro, o emprego na indústria teve a queda de 0,1% em comparação com o mês anterior, a terceira taxa negativa consecutiva.


Os indicadores acumulados, no ano e em 12 meses, continuam positivos, ainda refletindo o aquecimento da economia brasileira após o ano eleitoral, sobretudo em termos de folha de pagamento real.

A série histórica do emprego industrial em números índices com ajuste sazonal mostra que o indicador encontra-se praticamente estagnado desde meados de 2010, em um patamar inferior ao da crise de 2008-2009.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Clipping Internacional - 12/01/2012

Estou sem tempo para fazer maiores comentários. Vou publicar diretamente o link dos principais assuntos macroeconômicos do dia.

* Nos Estados Unidos, o comércio varejista cresceu 0,1% em dezembro em comparação com outubro, e 6,5% na comparação com novembro de 2010. Esse resultado indica desaceleração em comparação com os últimos meses, e está abaixo das expectativas do mercado.

* Na Zona do Euro, a produção industrial caiu 0,1% em novembro na comparação com outubro e 0,3% em comparação com novembro de 2010. É a terceira queda mensal consecutiva do indicador.

* A taxa básica de juros na região foi mantida em 1,0% ao ano, de acordo com decisão do Banco Central Europeu.

* Na Alemanha, a inflação ao consumidor ficou em 0,7% em dezembro. O valor é maior do que a média dos últimos meses devido a efeitos sazonais (Natal e Ano Novo). O acumulado de 12 meses registra alta de 2,1% no mês, a terceira desaceleração consecutiva. O destaque é o preço da energia, com alta anual de 8,0%.

* Na Inglaterra, a produção industrial caiu 0,6% em novembro em comparação com outubro, e 3,1% em comparação com novembro de 2010. Desde março do ano passado o indicador vem apresentando taxas anuais negativas.

* O Banco da Inglaterra manteve a política monetária atual, com taxa básica de juros de 0,5% ao ano.

* Na China, a inflação mostra tendência de desaceleração. O índice de preços ao produtor (IPP) apresentou deflação de 0,3% em dezembro em relação a novembro. No ano, o indicador acumulou alta de 1,7%. Para efeitos de comparação, em julho, o IPP acumulava alta de 7,5%. A inflação ao consumidor apresentou alta mensal de 0,3%, e acumula alta de 4,1% no ano, com destaque para a alta de 9,1% no preço da alimentação.

Comércio Varejista Cresce 1,3% em Novembro

De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), publicada pelo IBGE, o comércio varejista brasileiro continua crescendo, a despeito da desaceleração econômica. Em relação ao mês anterior, a alta foi de 1,3% do comércio varejista e de 1,5% do comércio varejista ampliado (que inclui veículos e materiais de construção).


Dentre os setores, os que apresentam maior crescimento no ano são o de equipamentos de informática (+28,8%), móveis e eletrodomésticos (+12,3%) e artigos de saúde (+8,6%), de acordo com a tabela acima. Esse comportamento muito acima da média dos três grupos reflete não apenas as condições de renda, emprego e crédito da economia brasileira, mas também de mudanças dos próprios hábitos de consumo da população brasileira.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Déficit Comercial do Reino Unido Sobe para 8,6 Bilhões de Libras

A balança comercial do Reino Unido fechou em déficit de 8,6 bilhões de libras em novembro, segundo relatório divulgado pelo Departamento Nacional de Estatísticas do país. No mês passado, o déficit tinha sido de 7,9 bilhões. Em novembro, as exportações somaram 25,7 bilhões de libras (+10,1% ante novembro de 2010), e as importações, 34,3 bilhões de libras (+6,9% na mesma base de comparação).

PIB Alemão Cresce 3,0% em 2011

De acordo com dados divulgados hoje pela agência Destatis, o PIB da Alemanha cresceu 3,0% em 2011. Dentre os seus componentes pelo lado da demanda, o destaque foram os gastos com formação bruta de capital fixo (+8,3%) e em construção (+5,4%).


O crescimento dos indicadores de investimento em capital fixo sugerem uma expansão do PIB potencial do país para os próximos períodos. Contudo, os últimos dados trimestrais mostram uma tendência de desaceleração do PIB alemão desde o primeiro trimestre de 2011. A produção industrial também está se desacelerando desde julho, e as encomendas da indústria têm apresentado taxas negativas nos últimos meses. Os indicadores mais favoráveis do país em 2011 se concentraram nos primeiros meses do ano. Tudo isso são fortes sinais de que a crise econômica que começou nos países da periferia da Zona do Euro, aos poucos, vão contagiando a sua maior economia.

Inflação do Aluguel Desacelera

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), também conhecido como "inflação do aluguel" por servir como indexador para contratos, desacelerou na primeira prévia de janeiro na comparação com o mês anterior. Ficou em -0,01%, ante 0,04% no mesmo período do mês anterior. Pesou a deflação do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que ficou em -0,23%.

Em São Paulo, o Índice de Preços ao Consumidor medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) ficou em 0,75% na primeira semana de janeiro, puxado pela alta de 0,92% no ítem Educação.

Novos Rumos para o Blog

Como os leitores do blog já sabem (ou não, já que tenho escrito cada vez menos sobre minha vida pessoal por aqui), deixei de vez a vida acadêmica. Troquei a vida de profesor universitário em Brasília para assumir uma vaga no BNDES, no Rio de Janeiro, em junho do ano passado. No momento, estou alocado no Departamento de Assessoria Econômica, e sou responsável pelas cartas de conjuntura macroeconômica internas ao banco e pela construção e manutenção dos bancos de dados macroeconômicos do departamento.

Por isso, o blog terá uma virada radical a partir de hoje. Vou falar (ainda) menos sobre pesquisas acadêmicas, e mais sobre informações sobre conjuntura macroeconômica. Optarei por textos simplificados, diretos ao assunto, com links para as fontes oficiais dos dados. De vez em quando vou publicar alguns gráficos e tabelas feitos por mim para ilustração.

Espero que assim eu consiga voltar a ter uma rotina de publicação nesse blog, que andou muito cíclico desde que terminei o mestrado, em 2009.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Mapa da Pobreza em Porto Alegre - Oficial

Segundo o blog Porto Imagem, o IBGE divulgou um mapa identificando as regiões censitárias consideradas favelas em Porto Alegre. O mapa não é muito diferente do que eu tinha divulgado aqui no blog em 2008.



O mapa oficial, por ser baseado em um critério diferente do meu (tinha considerado as regiões com ruas não pavimentadas e casas pequenas sem telhado), mostrou as favelas na zona norte maiores do que realmente são e ignorou as pequenas vilas espalhadas pela cidade.

Veraneio Gaúcho (por Paulo Wainberg)

Um texto que lamento que não tenha sido escrito por mim. Recebi por e-mail.

Está chegando o verão e com ele o veraneio, como chamamos aqui no Sul.
Não sei se vocês, de outros Estados, sabem, mas temos o mais fantástico litoral do País: de Torres ao Chuí, uma linha reta, sem enseadas, baias, morros, reentrâncias ou recortes. Nada! Apenas uma linha reta, areia de um lado, o mar do outro.
Torres, aliás, é um equívoco geográfico, contrário às nossas raízes farroupilhas e devia estar em Santa Catarina. Característica nossa, não gostamos de intermediários.

Nosso veraneio consiste em pisar na areia, entrar no mar, sair do mar e pisar na areia. Nada de vistas deslumbrantes, vegetações verdejantes, montanhas e falésias, prainhas paradisíacas e outras frescuras cultivadas aí para cima.
O mar gaúcho não é verde, não é azul, não é turquesa.

É marrom!

Cor de barro iodado é excelente para a saúde e para a pele! E nossas ondas são constantes, nem pequenas nem gigantes, não servem para pegar jacaré ou furar onda. O solo do nosso mar é escorregadio, irregular, rico em buracos. Quem entra nele tem que se garantir.

Não vou falar em inconvenientes como as estradas engarrafadas, balneários hiper-lotados, supermercados abarrotados, falta de produtos, buzinaços de manhã de tarde e de noite, areia fervendo, crianças berrando, ruas esburacadas, tempestades e pele ardendo, porque protetor solar é coisa de fresco e em praia de gaúcho não tem sombra. Nem nos dias de chuva, quase sempre nos fins-de-semana, provocando o alegre, intermitente, reincidente e recorrente coaxar dos sapos e assustadoras revoadas de mariposas.

Dois ventos predominam, em nosso veraneio: o nordeste – também chamado de nordestão – e o sul, cuja origem é a Antártida.

O nordestão é vento com grife e estilo... estilo vendaval. Chega levantando areia fina que bate em nosso corpo como milhões de mosquitos a nos pinicar. Quem entra no mar, ao sair rapidamente se transforma no – como chamamos com bom-humor – veranista à milanesa. A propósito, provoca um fenômeno único no universo, fazendo com que o oceano se coloque em posição diagonal à areia: você entra na água bem aqui e quando sai, está a quase um quilômetro para sul. Essa distância é variável, relativa ao tempo que você permanecer dentro da água. Outra coisa: nosso mar é pra macho! Água gelada vai congelando seus pés e termina nos cabelos. Se você prefere sofrer tudo de uma vez, mergulhe e erga-se, sabendo que nos próximos quinze minutos sua respiração voltará ao normal: é o tempo que leva para recuperar-se do choque térmico.

Noventa por cento do nosso veraneio é agraciado pelo nordestão que, entre outras coisas, promove uma atividade esportiva praiana, inusitada e exclusiva do Sul: Caça ao guarda-sol. Guarda-sol, você sabe, é o antigo guarda-sol, espécie de guarda-chuva de lona, colorida de amarelo, verde, vermelho, cores de verão, enfim, cujo cabo tem uma ponta que você enterra na areia e depois senta embaixo, em pequenas cadeiras de alumínio que não aguentam seu peso e se enterram na areia.

Chega o nordestão e... lá se vai o guarda-sol, voando alegremente pela orla e você correndo atrás. Ganha quem consegue pegá-lo antes de ele se cravar na perna de alguém ou desmanchar o castelo de areia que, há três horas, você está construindo com seu filho de cinco anos.

O vento sul, por sua vez, é menos espalhafatoso. Se você for para a praia de sobretudo, cachecol e meias de lã, mal perceberá que ele está soprando. É o vento ideal para se comprar milho verde e deixar a água fervente escorrer em suas mãos, para aquecê-las.

Raramente, mas acontece, somos brindados com o vento leste, aquele que vem diretamente do mar para a terra. Aqui no Sul, chamamos o vento leste de ‘vento cultural’, porque quando ele sopra, apreendemos cientificamente como se sentem os camarões cozinhados ao bafo.

E, em todos os veraneios, acontece aquele dia perfeito: nenhum vento, mar tranquilo e transparente, o comentário geral é: “foi um dia de Santa Catarina, de Maceió, de Salvador” e outras bichices. Esse dia perfeito quase sempre acontece no meio da semana, quando quase ninguém está lá para aproveitar. Mas fala-se dele pelo resto do veraneio, pelo resto do ano, até o próximo verão.

Morram de inveja, esta é outra das coisas de gaúcho!

Atenta a essas questões, nossa indústria da construção civil, conhecida mundialmente por suas soluções criativas e inéditas, inventou um sistema maravilhoso que nos permite veranear no litoral a uma distância não inferior a um quilômetro da areia e, na maioria dos casos, jamais ver o mar: os famosos condomínios fechados. A coisa funciona assim: a construtora adquire uma imensa área de terra (areia), em geral a preço barato porque fica longe do mar, cerca tudo com um muro e, mal começa a primavera, gasta milhares de reais em anúncios na mídia, comunicando que, finalmente agora você tem ao seu dispor o melhor estilo de veranear na praia: longe dela. Oferece terrenos de ponta a ponta, quanto mais longe da praia, mais caro é o terreno. Você vai lá e compra um.

Enquanto isso a construtora urbaniza o lugar: faz ruas, obras de saneamento, hidráulica, elétrica, salão de festas comunitário, piscina comunitária com águas térmicas, jardins e até lagos e lagoas artificiais onde coloca peixes para você pescar. Sem falar no ginásio de esportes, quadras de tênis, futebol, futebol-sete, se o lago for grande, uma lancha e um professor para você esquiar na água e todos os demais confortos de um condomínio fechado de Porto Alegre, além de um sistema de segurança quase, repito, quase invulnerável.

Feliz proprietário de um terreno, você agora tem que construir sua casa, obedecendo é claro ao plano-diretor do condomínio que abrange desde a altura do imóvel até o seu estilo.

O que fazemos nós, gaúchos, diante dessa fabulosa novidade? Aderimos, é claro. Construímos as nossas casas que, de modo algum, podem ser inferiores as dos vizinhos, colocamos piscinas térmicas nos nossos terrenos para não precisar usar a comunitária, mobiliamos e equipamos a casa com o que tem de melhor, sobretudo na questão da tecnologia: internet, TV à cabo, plasma ou LSD, linhas telefônicas, enfim, veraneamos no litoral como se não tivéssemos saído da nossa casa na cidade.
Nossos veraneios costumam começar aí pela metade de janeiro e terminar aí pela metade de fevereiro, depende de quando cai o Carnaval. Somos um povo trabalhador, não costumamos ficar parados nas nossas praias. Vamos para lá nas sextas-feiras de tarde e voltamos de lá nos domingos à noite. Quase todos na mesma hora, ida e volta.
É assim que, na sexta-feira, pelas quatro ou cinco da tarde, entramos no engarrafamento. Chegamos ao nosso condomínio lá pelas nove ou dez da noite. Usufruímos nosso novo estilo de veranear no sábado – manhã, tarde e noite – e no domingo, quando fechamos a casa.

Adoramos o trabalhão que dá para abrir, arrumar e prover a casa na sexta de noite, e o mesmo trabalhão que dá no domingo de noite. E nem vou contar quando, ao chegarmos, a geladeira estragou, o sistema elétrico pifou ou a empregada contratada para o fim-de-semana não veio.

Temos, aqui no Sul, uma expressão regional que vou revelar ao resto do mundo: Graças a Deus que terminou esta bosta de veraneio!