terça-feira, dezembro 30, 2008

Torres News

No momento, estou na praia de Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul, aproveitando duas semanas de férias com minha família. O tempo, agora, está nublado, com temperatura amena. O mar está de acordo com o esperado: marrom e gelado, um legítimo "chocolatão". Espero que até domingo, quando volto para Porto Alegre, seja possível dar um mergulho.

De resto, Torres continua igual ao ano passado, fora velhas casas demolidas e novos prédios construídos, tomada por argentinos e caxienses (já cansei de ver pessoas com a camiseta do Juventude pelas ruas). O comércio vinha decaíndo ano após ano, com a migração dos veranistas de alta renda para os condomínios fechados de Atlântida, mas esse ano, pareceu melhorar. Abriu uma livraria "moderna", ao estilo Cultura e Saraiva, no centro da cidade, a Nobel. Uma boa opção de lazer nesses dias encobertos. Além disso, o restaurante a quilo no qual costumamos almoçar, no centro da cidade, está mais limpo e com menos moscas. Que bom.

Estou rodando os gráficos da estatística descritiva da minha dissertação aqui na praia. Mas, como anteontem comprei GTA Vice City para computador, acho que meu trabalho vai demorar um pouco mais do que o planejado...

terça-feira, dezembro 23, 2008

Reencontro

Domingo passado, participei de um churrasco com meus antigos amigos do Núcleo de Análise da Política Econômica (NAPE), os bolsistas de iniciação científica do curso de graduação em Economia da UFRGS. Conseguimos reunir cerca de 20 pessoas em um sítio localizado na cidade de Conceição, próxima a São Sebastião do Caí, a cerca de uma hora de Porto Alegre.

Boa parte do pessoal cursa, ou está ingressando em cursos de Mestrado. Estão espalhados por instituições como a UFRGS, a USP, a FGV-SP, a PUC-RJ, a UNB, a Universidade de Barcelona (Espanha) e eu, representando o Cedeplar-UFMG. Como a maior parte dos nossos assuntos foram acadêmicos, já que isso é o que todos temos em comum, posso concluir que realizamos, no final das contas, um mini congresso da ANPEC.

Mas o clima das conversas não foi de inteira alegria. Dos meus ex-colegas, só contei dois que realmente se motivaram com a complexidade matemática da teoria econômica e da análise real, e se encaminham para doutorado no Exterior. Os demais, como eu, sentiram que o buraco é mais embaixo, tomaram um choque de realidade no primeiro ano do Mestrado e pretendem seguir linhas mais softs no futuro, como a economia empírica (meu caso), o mercado de trabalho, ou a mudança de área acadêmica para a economia heterodoxa e a história.

Uma coisa em que quase todos concordamos, e isso é raríssimo entre economistas, em relação aos nossos cursos de Mestrado, é que o hábito de agregar enormes quantidades de matéria em cadeiras de curta duração acaba prejudicando o estudo e o aprendizado. Ao invés de sabermos bem determinados pontos, podemos, após um ou dois anos depois de termos cursado as cadeiras de teoria econômica e de matemática, nos lembrar do nome e de alguma idéia geral dos teoremas que deivávamos. Mas não recordamos exatamente o que aquilo queria dizer. Senti exatamente isso no término do primeiro semestre do Cedeplar, e me senti um pouco mais tranqüilo que estudantes de outros cursos pelo Brasil tenham a mesma impressão. Por outro lado, iniciativas como a do professor Jorge, da UFRGS, de ministrar aulas extras de análise real mesmo após o término do semestre, só para aliviar a carga de matéria, são muito bem vindas para o aprendizado.

Fora essas discussões acadêmicas, foi uma tarde muito agradável e relaxante (e nutritiva, pela quantidade de carne consumida). Apesar das variações no animal spirit de cada um em relação as suas pretenções acadêmicas, foi bom ver que todos continuamos os mesmos estudantes de sempre.

domingo, dezembro 21, 2008

Bingo para Seminários


Um bom jogo para os seminários que nós, alunos de pós-graduação, temos que assistir:

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Sobre o Concurso do IPEA

Domingo passado, fiz o concurso para o IPEA. Minha área é "Macroeconomia e Desenvolvimento". A prova consistia em 50 questões gerais, 70 questões específicas e duas redações.

De um modo geral, achei a prova fácil, com exigência de nível graduação. Principalmente as questões específicas de áreas, foram cobradas pontos específicos de teorias macroeconômicas e de determinados autores, sem exigências em termos de formalização. Ao contrário do que eu li em muitos blogs pela Internet, criticando viéses ideológicos nas provas de Relações Internacionais e de Sustentabilidade Ambiental, na minha área não vi isso. Houve, sim, questões referentes ao pensamento macroeconômico pós-keynesiano, aos ciclos financeiros de Minsky (muito em moda com a atual crise, diga-se de passagem) e a determinados pontos em HPE e teorias do desenvolvimento latino-americano. Mas já estava previsto no programa da prova. Nada que uma revisada nos manuais do Stanley Brue e do Nali de Jesus, e num artigo do Cardim de Carvalho, não resolva. O demais, foi macroeconomia tradicional de graduação.

As duas questões dissertativas foram, primeiro, uma comparação entre a visão de ciclos e desemprego nas teorias novo-clássica, novo-keynesiana e pós-keynesiana, e segundo, a relação entre taxa de câmbio e taxa de inflação na política econômica brasileira contemporânea. Na primeira questão, consegui explicar a estrutura teórica das três correntes. Na segunda questão, expliquei o mecanismo do modelo IS-LM-BP, em que a taxa de câmbio é endógena à política econômica de curto prazo, e, alternativamente, a tese do Yoshiaki Nakano (FGV-SP), para quem a taxa de câmbio é o principal determinante das acelerações inflacionárias domésticas no Brasil, pelo seu impacto sobre os custos dos insumos importados para as empresas. Espero que esteja certo...

Como críticas à prova, destaco a parte de "lógica", semelhante aos exercícios das revistas Coquetel. Acho que questões de matemática, mesmo de cálculo e álgebra de nível graduação, seriam mais apropriadas para economistas. Além disso, a facilidade da prova específica de área pode se tornar um problema, já que tende a criar um embolamento de candidatos nas primeiras posições do concurso. Só porque o conteúdo da prova é de nível graduação, não é por isso que os alunos de pós-graduação não vão fazê-la. Além disso, isso incentiva comportamentos de propensão ao risco, em níveis acima do recomendado para provas em que respostas incorretas contam pontos negativos, como esta.

Espero que tenha dado tudo certo. A prova oral, para os melhores classificados será no final de fevereiro, em Brasília.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Back Home

Ontem, às 18:30, cheguei em Porto Alegre. Vou passar as férias com minha família até o dia 17 de janeiro (talvez atraze mais, com a formatura de amigos da Economia - UFRGS).

Hora de matar a saudade do tempo e do vento dos Pampas. E do barulho de obras da biblioteca da FCE-UFRGS, é claro. Fui estudar hoje lá para o concurso do IPEA (que ocorrerá domingo), e foi um caos.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Relação entre Desenvolvimento Econômico e Altura da População no RIo Grande do Sul

Muito interessante o estudo elaborado pelo Leonardo Monastério (UFPel), junto com Mateus Signorini. Os autores utilizaram métodos econométricos para mensurar a altura média dos gaúchos no período de 1889 a 1920, encontrando relações com a dinâmica do desenvolvimento econômico.

Fiquei muito impressionado que a altura das pessoas, além de ter uma trajetória crescente no longo prazo (como eu já sabia), reage no curto prazo aos próprios ciclos econômicos. Além disso, os indivíduos mais pobres tendiam a ser menores que os mais ricos, em uma mesma época.

Deixo a apresentação de Power Point aqui:

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Educação para o Lazer

No meu aniversário de 23+1 anos de vida, ganhei do pessoal da minha república estudantil um livro chamado "A Economia do Ócio", de Domenico de Masi, incluindo textos de Paul Lafargue e Bertrand Russell. Bastante apropriado para meu monótono quarto semestre de Mestrado, aliás.

Já li cerca de metade do livro, e um capítulo me chamou muito a atenção. O título é "A Cultura do Ócio", escrito por Russell em 1932, e facilmente encontrado na Internet. Em resumo, o autor estabelece uma relação entre duas concepções para a importância do conhecimento (principalmente, da educação e do estudo) para as pessoas. De um lado, está o conhecimento utilitário, vigente desde meados do século XIX, com a segunda Revolução Industrial, baseado nas questões práticas e aplicadas, focando da qualificação profissional e técnica. De outro lado está o conhecimento como um fim em si mesmo, voltado unicamente para a satisfação da curiosidade humana e individual, predominante na Antiguidade Clássica e a partir do Renascimento.

Em relação ao conhecimento "utilitário", este é bastante conhecido entre a comunidade econômica. Relaciona-se diretamente ao que Gary Becker e Robert Lucas chamam de "capital humano", isto é, os investimentos que os indivíduos realizam na sua produtividade individual (ou familiar), ausentando-se do mercado de trabalho durante certo tempo para buscar qualificação. Assim, há uma redução de renda e bem-estar no curto prazo, em troca de maiores rendimentos no longo prazo. Explicitamente, esse modelo supõe que o ensino recebido é pró-trabalho, isto é, é qualificação profissional. Esse tipo de educação, de fato, melhora a qualidade da mão-de-obra, eleva a produtividade e permite que os indivíduos obtenham melhores salários. Por outro lado, uma população melhor qualificada está mais apta a trabalhar de acordo com inovações tecnológicas e organizações produtivas cientificamente modeladas, o que incentiva investimentos e acelera o crescimento econômico. Isso é empiricamente indubitável.

Por outro lado, como Russell expôs no seu livro, e como todos economistas já sabemos, o trabalho não é tudo na vida. A cultura do trabalho, para o autor, que vem crescendo sobre o mundo e as mentes das pessoas desde o Iluminismo (meados do século XVIII) não significa outra coisa além da submissão dos interesses, das ações e da própria felicidade dos indivíduos a objetivos coletivos. Em outras palavras, essa é uma cultura que impõe moralmente que a energia individual deve ser guiada para a contribuição econômica para a sociedade, e não para o bem-estar individual. Mas essa maneira de se ver o mundo é incompleta, e tende a criar massas de pessoas alienadas, neuróticas, rabugentas e, conclusivamente, infelizes. E isso que ele escreveu o livro em 1934, muito antes de inventarem o spam na caixa de e-mail, aulas ministradas por slides de Power Point e a lentidão da Internet.

Por isso, se os indivíduos têm curiosidade inata sobre o mundo e sobre si mesmos, não há porque criticar moralmente, ou mesmo impedir, que eles busquem educação para isso. Isso é o que Russell denominou de "educação para o lazer": a busca de conhecimento para a a formação de cultura, ou seja, para a felicidade imediata, incluindo assuntos como a linguística, as artes, a astronomia, a história, entre outras. Em termos econômicos, poderia se chamar de "bens humanos", em detrimento de "capital humano", ou mesmo de "capital do lazer". E além, de propiciar a busca da felicidade individual, a educação para o lazer tem virtudes coletivas, ou em termos econômicos, traz consigo externalidades positivas. Para Russell, pessoas instruídas aprendem a ter prazer na observação e admiração pelo mundo e pelas belas obras, e também na reflexão individual. Por outro lado, pessoas não-instruídas tendem a associar seu lazer a atividades auto-destrutivas e à violência em geral. Portanto, uma sociedade formada por indivíduos cultos tende a ser uma sociedade mais tolerante e menos violenta do que seria de outra forma. Citando o autor (RUSSELL, 1934):

"O mundo de hoje está cheio de grupos egocêntricos e radicais, incapazes de ver a vida humana como totalidade, e muito mais dispostos a destruir a civilização do que a ceder um milímetro em suas posições. Para esse tipo de estreiteza não há quantidade de instrução técnica que sirva de antídoto. Como se trata de uma questão de psicologia individual, o antídoto há de ser encontrado na história, na biologia, na astronomia e em todos os campos de estudo que, sem destruir o amor-próprio, permitem ao indivíduo ver a si mesmo numa perspectiva justa. O que se necessita não é de tal ou qual informação específica, mas do conhecimento que inspire uma concepção da finalidade da vida humana como um todo: arte e história, familiaridade com a vida das pessoas heróicas, além de um certo entendimento da posição estranhamente acidental e efêmera do homem no cosmos - tudo isso permeado do sentimento de orgulho daquilo que é distintivo do ser humano: o poder de ver e conhecer, de sentir com a magnanimidade e de pensar com entendimento. É da combinação do discernimento amplo com a emoção impessoal é que brota a sabedoria."


Enfim, o livro me deu uma coisa que há muito tempo vinha procurando. Há uma racionalidade econômica em estudar apenas pela curiosidade, como eu sempre fiz desde que iniciei minha vida acadêmica.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Não é Para Qualquer Um

Derrotar um time argentino na final de um torneio internacional fora de casa, com o estádio lotado e um jogador a menos desde os 25 minutos do primeiro tempo não é para qualquer um. É para quem tem "oevo", como o colorado dos Pampas.

Tirando o Verón, que exibe boa forma e excelente habilidade apesar de toda a sua experiência, todo o resto do time dos Estudiantes é pífio. E é impressão minha, ou o Jack Sperrow, o pirata interpretado por Johnny Depp no cinema, é o lateral direito deles, atandendo pelo nome de Marcos Angeleri?

quinta-feira, novembro 20, 2008

Por Que Me Procuram

Já faz mais de uma semana desde que instalei o add-on FEEDJIT no blog. Esse programa me permite conferir como que cada usuário da internet acessou o meu site, de onde ele acessou e, se foi pelo Google, o que ele digitou no botão de pesquisa.

Pelo que vi até agora, a maioria procura resumos dos livros que lia antes do mestrado, quando me metia a ser um crítico literário, ou então temas ligados à economia. Mas, uma vez por outra, encontro coisas mais divertidas.

Por exemplo, isso aqui (clique na imagem para ampliar):


Será que essa é a tese de doutorado desse carioca? Fiquei curioso com isso!

sexta-feira, novembro 14, 2008

Análise Econométrica do Resultado das Eleições Municipais

Os resultados das últimas eleições já são de conhecimento público, devido à ampla divulgação por parte dos meios de comunicação. No entanto, senti falta de um estudo mais aprofundado no que diz respeito à trajetória de longo prazo da dinâmica política municipalista brasileira. Assim, peguei dados em fontes da internet como o Terra.com e o TSE e tracei um gráfico indicando o número de prefeituras conquistadas pelos principais partidos políticos brasileiros, a partir das eleições de 1996 (não encontrei dados mais antigos). O resultado foi o seguinte:


A imprensa muito bem destacou a expansão do PMDB, a retração do PSDB e do DEM e a inflexão, com tendência à convergência assintótica, dos demais partidos da base aliada do governo (PT, PTB, PP). Contudo, em uma visão em um prazo mais longo, é possível tomar conclusões mais robustas. Em primeiro lugar, o crescimento do PMDB significou uma suavização da trajetória de queda que o partido mantinha desde 1996, mesmo se mantendo no topo do ranking de número de prefeituras. Em segundo lugar, a estabilização dos demais partidos aliados do governo federal revela uma tendência altista para o PT e o PR, e uma tendência de queda do PP, ao passo que o PTB mantém uma trajetória relativamente constante. Em relação ao PTB, sua estabilidade pode ser vista como negativa, já que o partido absorveu o PSD em 2003, sem que isso lhe acrescentasse novas prefeituras na eleição posterior.

Mas o fato que mais chama a atenção é a relação do desempenho nas eleições municipais com a posição de cada partido no governo federal. Como se pode ver, os partidos de oposição (PSDB, DEM, PPS) apresentaram os desempenhos mais negativos, sendo que os dois primeiros decaíram desde a primeira eleição sob o governo Lula (2004), enquanto que o último só perdeu espaço nessa última votação, em que já havia passado da posição de neutralidade para a oposição ao governo federal.

Para ter uma estimativa mais robusta sobre o impacto da participação no governo federal, tomei dados dos 14 partidos brasileiros com mais prefeituras, no que diz respeito à variação do número de eleitos em cada pleito como função da participação no governo federal e da sua posição ideológica. Escolhi apenas os partidos com mais de 40 prefeitos eleitos em 2008 porque sabe-se que os demais (a não ser os extremistas, que raramente elegem alguém) funcionam como siglas de aluguel, nascendo, crescendo, definhando e desaparecendo sem uma lógica econométrica aparente. As variáveis independentes são governo (participação no governo federal), com valor igual a um para os partidos da base aliada, e zero caso contrário; direita (ideologia direitista), com valor igual a um para os partidos identificados pelo eleitorado como de ideologia liberal (DEM, PSDB), conservadora (PP) ou religiosa (PR, PSC), e zero caso contrário; e esquerda (ideologia esquerdista), identificados pelo eleitorado como de ideologia social-democrata (PPS), trabalhista (PDT), socialista (PSB, PT, PMN), comunista (PC do B) ou ecologista (PV).



Adotei o método de regressão por dados em painel, que combina elementos de séries temporais com cross-section, isto é, as características de cada indivíduo (no caso, partido) ao longo do tempo, e estimei três modelos. O primeiro é o de mínimos quadrados ordinários empilhados, que considera cada partido em cada período como uma observação independente. O segundo é o de efeitos fixos, que controla as caracterísitcas individuais de cada partido pelas diferenças de sua média ao longo do tempo, mantendo um intercepto distinto para cada um. E o terceiro é o de efeitos aleatórios, que assume as características individuais como parâmetros a serem estimados mão-correlacionados com as outras variáveis independentes. O resultado encontra-se na tabela abaixo:


Devido à correlação entre os regressores e os efeitos fixos de cada partido, o teste de Hausman rejeitou a 5% o modelo de efeitos aleatórios. Como se pode ver, a participação do partido no governo federal contribui positivamente para o desempenho nas eleições municipais de maneira significativa nos três modelos.

Por outro lado, as questões ideológicas foram eliminadas do modelo de efeitos fixos, já que não mudaram ao longo do tempo estudado. Isto é, houve no período uma clara suavização dos discursos dos partidos de esquerda, assim como a transformação de um partido conservador (PFL) em um partido liberal (DEM), mas nada que indique uma mudança radical de posição ideológica. O que seria importante, nesse caso, seria a transformação do PSDB de um partido social-democrata em um partido liberal, mas isso ocorreu antes de 1996, e, portanto, não foi levado em conta neste estudo.

Por fim, foi percebida um crescimento dos partidos de esquerda nos governos municipais brasileiros, o que se manifestou no crescimento do PT, do PSB, do PC do B e até mesmo do PDT (que se supunha em processo de decomposição após o falecimento de seu líder histórico Leonel Brizola). Já o PPS perdeu muito espaço após se declarar de oposição ao governo federal. Parece que o eleitorado contrário ao governo Lula rejeita discursos esquerdistas, ainda que moderados. Portanto, espera-se que esse partido venha a perder importância no cenário político nacional, ao menos que mude radicalmente seu posicionamento, ou mesmo tente uma fusão com o PSDB, de ideologia mais próxima. O crescimento dos partidos de esquerda se manifestou, de acordo com que li em outras fontes, predominantemente nos municípios do interior dos estados, tradicionalmente governados por políticos conservadores. Por outro lado, isso foi acompanhado por uma relativa expansão do DEM sobre as regiões metropolitanas do país, especialmente na região Sudeste, tradicionais redutos da esquerda.

segunda-feira, novembro 10, 2008

A Polêmica sobre o Projeto do Pontal do Estaleiro

Uma das discussões mais polêmicas sobre o desenvolvimento urbano de Porto Alegre é sobre o projeto de revitalização do Estaleiro Só. A iniciativa privada pretendia construir uma série de edifícios residenciais no local (ver mapa abaixo, assinalado em amarelo), mas as obras dependem da aprovação da prefeitura, cujo processo está tumultuado por uma infinidade de recursos jurídicos.


A discussão sobre a relevância e os impactos da obra é complexa. Tanto as opiniões em seu favor como as contrárias têm uma certa medida de razão. Por um lado, construir prédios de 12 andares (que estão longe de ser considerados arranha-céus em qualquer metrópole brasileira que não Porto Alegre) em uma localidade na beira da lagoa exige cuidados técnicos de segurança e infra-estrutura. Além disso, certamente a obra afetará o urbanismo de sua região urbana, mas isso não me parece um problema, já que o projeto se localiza um uma região meio "morta" da orla do Guaíba, nas proximidades do morro Santa Tereza e do complexo de vilas Grande Cruzeiro. Por outro lado, a liberalização das obras significam mais investimentos, com a geração de empregos, rendas, e maior oferta de imóveis. Além disso, a ocupação privada da área contribuiria para maior segurança do local. Mesmo respeitando as preferências de muitas pessoas em favor da criação de um parque, é bom lembrar que, devido a sua localização, o Pontal do Estaleiro dificilmente seria acessado pela população que vive mais distante.

Por trás dessa discussão, é fácil de se identificar um trade-off entre rigidez de regras urbanísticas e disponibilidade de imóveis na cidade. Explicando melhor, ambos fatores são bens: as diretrizes urbanas previnem a cidade de se tornar caótica ao longo de seu desenvolvimento, ao passo que a maior disponibilidade de imóveis permite que a população consumidora tenha acesso a habitações de menor preço, de acordo com a lei da oferta e da demanda. Por outro lado, regras rígidas tendem a desestimular investimentos, de modo que, quanto mais a prefeitura valorizar o urbanismo, menor será a oferta de imóveis para os cidadãos. Portanto, deve-se explorar esse trade-off com cuidado, sem radicalismos para nenhum lado. Acho necessário que a cidade tenha regras para as construções, limitando os investimentos de acordo com as características e com a infra-estrutura disponível de cada bairro da cidade. Mas também considero importante o processo de verticalização de Porto Alegre como forma de se proporcionar moradias em maior qualidade e quantidade para sua população em crescimento, de modo a não ameaçar as reservas naturais da Zona Sul, e os baixos preços desestimular a expansão de sub-habitações para a população de menor renda.

Infelizmente, esse debate, pelo que li pela Internet, foi tomado por uma politicagem sectária. De um lado, a "direita" pró-prefeitura, defendendo a obra incondicionalmente. De outro lado, a "esquerda", contrária à obra somente para fazer oposição ao governo municipal, escondendo-se por trás de uma retórica vazia de "contrariar os interesses das grandes construtoras". Mesmo que tais posturas são condenadas por participantes sério dos dois pontos de vista do debate, dessa maneira, quem sai perdendo é o cidadão de Porto Alegre.

domingo, novembro 09, 2008

Lista das 200 Melhores Músicas de Todos os Tempos, Segundo a Revista Rolling Stone

Segundo recebi por e-mail, a revista Rolling Stone divulgou uma lista com as 200 melhores músicas "de todos os tempos". Nesse fim de semana, após cumprir minhas obrigações com a dissertação (diga-se de passagem), procurei informações sobre elas. Notei que a lista é viesada para músicas dos anos 50 e 60, particularmente focada no folk americano e no rock and roll.

Eis a lista, assinaladas as minhas favoritas:

1. Bob Dylan "Like a Rolling Stone" 1965
2. Rolling Stones "(I Can´t Get No) Satisfaction" 1965
3. John Lennon "Imagine" 1971
4. Marvin Gaye "What´s Going On" 1971
5. Aretha Franklin "Respect" 1967
6. Beach Boys "Good Vibrations" 1966
7. Chuck Berry "Johnny B. Goode" 1958
8. Beatles "Hey Jude" 1968
9. Nirvana "Smells Like Teen Spirit" 1991

10. Ray Charles "What´d I Say" 1959
11. The Who "My Generation" 1966
12. Sam Cooke "A Change Is Gonna Come" 1965
13. Beatles "Yesterday" 1965
14. Bob Dylan "Blowin´ in the Wind" 1963

15. The Clash "London Calling" 1980
16. Beatles "I Want to Hold Your Hand" 1964
17. Jimi Hendrix "Purple Haze" 1967
18. Chuck Berry "Maybellene" 1955
19. Elvis Presley "Hound Dog" 1956
20. Beatles "Let it Be" 1970

21. Bruce Springsteen "Born To Run" 1975
22. The Ronettes "Be My Baby" 1963
23. Beatles "In My Life" 1966
24. Impressions "People Get Ready" 1965
25. Beach Boys "God Only Knows" 1966
26. Beatles "A Day in the Life" 1967
27. Derek and the Dominos "Layla" 1971
28. Otis Redding "Sitting on the Dock of the Bay" 1968
29. Beatles "Help!" 1965
30. Johnny Cash "I Walk the Line" 1956
31. Led Zeppelin "Stairway To Heaven" 1971

32. Rolling Stones "Sympathy For The Devil" 1968
33. Ike and Tina Turner "River Deep, Mountain High" 1966
34. Righteous Brothers "You´ve Lost That Lovin´ Feelin´" 1964
35. The Doors "Light My Fire" 1967
36. U2 "One" 1991
37. Bob Marley and the Wailers "No Woman No Cry" 1974
38. Rolling Stones "Gimme Shelter" 1969
39. Buddy Holly and the Crickets "That´ll Be the Day" 1957
40. Martha and The Vandellas "Dancing In The Street" 1964
41. The Band "The Weight" 1968
42. The Kinks "Waterloo Sunset" 1967
43. Little Richard "Tutti Frutti" 1956
44. Ray Charles "Georgia On My Mind" 1960
45. Elvis Presley "Heartbreak Hotel" 1956
46. David Bowie "Heroes" 1977
47. Simon and Garfunkel "Bridge Over Troubled Water" 1969
48. Jimi Hendrix "All Along The Watchtower" 1968
49. The Eagles "Hotel California" 1977

50. Smokey Robinson and the Miracles "The Tracks Of My Tears" 1965
51. Grandmaster Flash and The Furious Five "The Message" 1982
52. Prince "When Doves Cry" 1984
53. Sex Pistols "Anarchy In The UK" 1977
54. Percy Sledge "When A Man Loves A Woman" 1966

55. The Kingsmen "Louie Louie" 1963
56. Little Richard "Long Tall Sally" 1956
57. Procol Harum "Whiter Shade Of Pale" 1967
58. Michael Jackson "Billie Jean" 1983
59. Bob Dylan "The Times They Are A-Changin´" 1963
60. Al Green "Let´s Stay Together" 1971
61. Jerry Lee Lewis "Whole Lotta Shakin´ Goin´ On" 1957
62. Bo Diddley "Bo Diddley" 1957
63. Buffalo Springfield "For What It´s Worth" 1968
64. The Beatles "She Loves You" 1964
65. Cream "Sunshine of Your Love" 1970
66. Bob Marley and the Wailers "Redemption Song" 1968
67. Elvis Presley "Jailhouse Rock" 1957
68. Bob Dylan "Tangled Up In Blue" 1975

69. Roy Orbison "Cryin´" 1961
70. Dionne Warwick "Walk On By" 1964
71. Beach Boys "California Girls" 1965
72. James Brown "Papa´s Got A Brand New Bag" 1965
73. Eddie Cochran "Summertime Blues" 1958
74. Stevie Wonder "Superstition" 1972
75. Led Zeppelin "Whole Lotta Love" 1969
76. Beatles "Strawberry Fields Forever" 1967

77. Elvis Presley "Mystery Train" 1956
78. James Brown "I Got You (I Feel Good)" 1965
79. The Byrds "Mr. Tambourine Man" 1968

80. Marvin Gaye "I Heard It Through The Grapevine" 1965
81. Fats Domino "Blueberry Hill" 1956
82. The Kinks "You Really Got Me" 1964
83 Beatles "Norwegian Wood" 1965
84. Police "Every Breath You Take" 1983

85. Patsy Cline "Crazy" 1961
86. Bruce Springsteen "Thunder Road" 1975
87. Johnny Cash "Ring of Fire" 1963
88. The Temptations "My Girl" 1965
89. Mamas And The Papas "California Dreamin´" 1966

90. Five Satins "In The Still Of The Nite" 1956
91. Elvis Presley "Suspicious Minds" 1969
92. Ramones "Blitzkrieg Bop" 1976
93. U2 "I Still Haven´t Found What I´m Looking For" 1987
94. Little Richard "Good Golly, Miss Molly" 1958
95. Carl Perkins "Blue Suede Shoes" 1956

96 Jerry Lee Lewis "Great Balls of Fire" 1957
97. Chuck Berry "Roll Over Beethoven" 1956
98. Al Green "Love and Happiness" 1972
99. Creedence Clearwater Revival "Fortunate Son" 1969
100. Rolling Stones "You Can´t Always Get What You Want" 1969
101. Jimi Hendrix "Voodoo Child (Slight Return)" 1968
102. Gene Vincent "Be-Bop-A-Lula" 1956
103. Donna Summer "Hot Stuff" 1979
104. Stevie Wonder "Living for the City" 1973
105. Simon and Garfunkel "The Boxer" 1969
106. Bob Dylan "Mr. Tambourine Man" 1965

107. Buddy Holly and the Crickets "Not Fade Away" 1957
108. Prince "Little Red Corvette" 1983
109. Van Morrison "Brown Eyed Girl" 1967
110. Otis Redding "I´ve Been Loving You Too Long" 1965
111. Hank Williams "I´m So Lonesome I Could Cry" 1949
112. Elvis Presley "That´s Alright (Mama)" 1954
113. The Drifters "Up On The Roof" 1962
114. Crystals "Da Doo Ron Ron (When He Walked Me Home)" 1963
115. Sam Cooke "You Send Me" 1957
116. Rolling Stones "Honky Tonk Women" 1969
117. Al Green "Take Me to the River" 1974
118. Isley Brothers "Shout - Pts 1 and 2" 1959
119. Fleetwood Mac "Go Your Own Way" 1977
120. Jackson 5, "I Want You Back" 1969
121. Ben E. King "Stand By Me" 1961 (mas prefiro na voz do John Lennon)
122. Animals "House of the Rising Sun" 1964
123. James Brown "It´s A Man´s, Man´s, Man´s, Man´s World" 1966
124. Rolling Stones "Jumpin´ Jack Flash" 1968
125. Shirelles "Will You Love Me Tomorrow" 1960
126. Big Joe Turner "Shake, Rattle And Roll" 1954
127. David Bowie "Changes" 1972
128. Chuck Berry "Rock & Roll Music" 1957
129. Steppenwolf "Born to Be Wild" 1968

130. Rod Stewart "Maggie May" 1971
131. U2 "With or Without You" 1987
132. Bo Diddley "Who Do You Love" 1957
133. The Who "Won´t Get Fooled Again" 1971
134. Wilson Pickett "In The Midnight Hour" 1965
135. Beatles "While My Guitar Gently Weeps" 1968
136. Elton John "Your Song" 1970
137. Beatles "Eleanor Rigby" 1966

138. Sly and the Family Stone "Family Affair" 1971
139. Beatles "I Saw Her Standing There" 1964
140. Led Zeppelin "Kashmir" 1975
141. Everly Brothers "All I Have to Do is Dream" 1958
142. James Brown "Please Please Please" 1956
143. Prince "Purple Rain" 1984
144. Ramones "I Wanna Be Sedated" 1978
145. Sly and the Family Stone "Every Day People" 1968
146. B-52´s "Rock Lobster" 1979
147. Iggy Pop "Lust for Life" 1977
148. Janis Joplin "Me and Bobby McGee" 1971
149. Everly Brothers "Cathy´s Clown" 1960
150. Byrds "Eight Miles High" 1966
151. Penguins "Earth Angel (Will You Be Mine)" 1954
152. Jimi Hendrix "Foxy Lady" 1967
153. Beatles "A Hard Day´s Night" 1965

154. Buddy Holly and the Crickets "Rave On" 1958
155. Creedence Clearwater Revival "Proud Mary" 1964
156. Simon and Garfunkel "The Sounds Of Silence" 1968
157. Flamingos "I Only Have Eyes For You" 1959
158. Bill Haley and His Comets "(We´re Gonna) Rock Around The Clock" 1954
159. Velvet Underground "I´m Waiting For My Man" 1967
160. Public Enemy "Bring the Noise" 1988
161. Ray Charles "I Can´t Stop Loving You" 1962
162. Sinead O´Connor "Nothing Compares 2 U" 1990
163. Queen "Bohemian Rhapsody" 1975
164. Johnny Cash "Folsom Prison Blues" 1956

165. Tracy Chapman "Fast Car" 1988
166. Eminem "Lose Yourself" 2002
167. Marvin Gaye "Let´s Get it On" 1973
168. Temptations "Papa Was A Rollin´ Stone" 1972
169. R.E.M. "Losing My Religion" 1991
170. Joni Mitchell "Both Sides Now" 1969
171. Abba "Dancing Queen" 1977
172. Aerosmith "Dream On" 1975
173. Sex Pistols "God Save the Queen" 1977
174. Rolling Stones "Paint it Black" 1966
175. Bobby Fuller Four "I Fought The Law" 1966
176. Beach Boys "Don´t Worry Baby" 1964
177. Tom Petty "Free Fallin´" 1989
178. Big Star "September Gurls" 1974
179. Joy Division "Love Will Tear Us Apart" 1980
180. Outkast "Hey Ya!" 2003
181. Booker T and the MG´s "Green Onions" 1969
182. The Drifters "Save the Last Dance for Me" 1960
183. BB King "The Thrill Is Gone" 1969
184. Beatles "Please Please Me" 1964
185. Bob Dylan "Desolation Row" 1965
186. Aretha Franklin "I Never Loved A Man (the Way I Love You)" 1965
187. AC/DC "Back In Black" 1980
188. Creedence Clearwater Revival "Who´ll Stop the Rain" 1970
189. Bee Gees "Stayin´ Alive" 1977
190. Bob Dylan "Knocking on Heaven´s Door" 1973

191. Lynyrd Skynyrd "Free Bird" 1974
192. Glen Campbell "Wichita Lineman" 1968
193. The Drifters "There Goes My Baby" 1959
194. Buddy Holly and the Crickets "Peggy Sue" 1957
195. Chantels "Maybe" 1958
196. Guns N Roses "Sweet Child O Mine" 1987
197. Elvis Presley "Don´t Be Cruel" 1956
198. Jimi Hendrix "Hey Joe" 1967

199. Parliament "Flash Light" 1978
200. Beck "Loser" 1994

quarta-feira, novembro 05, 2008

Barack Obama Wins!

Barack Obama ganhou a eleição para a Presidência Americana. É compreensível que muitos de nós fiquemos entusismados com a presença de um mulatinho sorridente, liberal e cosmopolita no cargo de maior poder do mundo, substituindo um cowboy conservador e nacionalista. Mas nos Estados Unidos, como em qualquer país desenvolvido, o poder está nas instituições, e não nas pessoas isoladamente. Não há porque ver o Obama como um "Messias Salvador" (como o Lula em 2002), a eleição dele pouco afetará a vida da grande maioria das pessoas do mundo (a menos que ele declare alguma guerra). Presidente ou não, mulato ou não, cosmopolita ou não, Obama não sairá distribuindo dinheiro pelo mundo, as armas não virarão flores, e ídem vale para as dívidas do sistema financeiro e do público americano.

Visita ao Zoológico

Sábado retrasado, visitamos o zoológico de Belo Horizonte. Não foi nada fácil chegar lá: desde a minha casa, foram dois ônibus e mais de uma hora de caminhada, subindo e descendo morros, até chegar no local, localizado a oeste da lagoa da Pampulha, um lugar pouco habitado.

O zoológico não é dos maiores que eu já vi (mas, como faz mais de dez anos que eu não vou num, minha impressão pode estar viesada pela variação da minha estatura), e também não é muito bem conservado:


Mas tem muitos animais interessantes de se ver, e muitos deles são exóticos, exclusivos de determinadas regiões geográficas (pricnipalmente da Amazõnia, da Mata Atlântica, e de algumas regiões da África).




Infleizmente para nós, naquele sábado muitas escolas também estavam visitando o zoológico, com suas hordas de criancinhas barulhentas e agressivas. Por isso, os animais de maior porte, com maior senso de segurança, estavam acuados, se enscondendo em suas jaulas e jardins. Como muito bem escreveu o Millôr Fernandes, certa vez, os zoológicos têm jaulas para protejer os animais da selvageria das crianças, e não o contrário!

Por isso, apenas o elefante, com sua paquidérmica paciência, deu as caras, ao ser chamado (Jorge!!!) pelo seu tratador para almoçar alguns quilos de mato.


Foi uma dia muito agradável para todos. Mas meu estômago ainda se recupera do almoço no "restaurante" de lá, um feijão-tropeiro com lingüiça e torresmo tamanho "lutador de sumô", mais gordo que o elefante Jorge, servido em um prato descartável...

segunda-feira, novembro 03, 2008

Fusão Itaú-Unibanco

Conforme li hoje, o Itaú e o Unibanco decidiram por fundir-se. Essa operação deverá criar o sexto maior banco das Américas.

Essa operação deverá ter um impacto importante sobre a economia brasileira. Por um lado, um sistema financeiro concentrado eleva a resistência e a confiança das instrtuições, tornando-as menos vulneráveis a crises. Por outro lado, como o mercado financeiro apresenta barreiras à entrada de novas firmas (tanto regulatórias como mercadológicas), a redução da competição deverá elevar o lucro extraordinário - isto é, o lucro acima da média das indústrias - das empresas. Em resumo, deveremos ver, a médio prazo, uma menor vulnerabilidade do mercado financeiro brasileiro à crise, em troca de um aumento no spread bancário, entendido como a diferença entre o que os bancos cobram de juros de seus devedores e o que pagam de juros aos seus credores (os poupadores e aplicadores em títulos).

domingo, novembro 02, 2008

Simulador Salarial

O pessoal da FGV desenvolveu um site que simula o nível salarial com base nas características individuais. Quem quiser arriscar a sorte, o endereço é http://www3.fgv.br/ibrecps/iv/SIM_EDUC/index.htm

O resultado para mim - homem, 23 anos, morador de Minas Gerais, não-favelado, 17 anos de estudo (8 de Ensino Fundamental, 3 de Ensino Médio, 4 de Ensino Superior, 2 de Mestrado) foi o seguinte:



Pena que minha bolsa de mestrado não chegue nem perto disso!

quinta-feira, outubro 30, 2008

Seminário de Filosofia da Ciência

Como consolo para o não-aceite do meu trabalho de macroeconomia internacional para o congresso nacional da ANPEC desse ano em Salvador (BA), o meu artigo dos programas de pesquisa lakatosianos não me deixou na mão. Vou apresentá-lo em um seminário de filosofia da ciência da UFMG.

*SEMINÁRIO DE ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE - FAFICH/UFMG*

A ser realizado em 19, 20 e 21 de novembro na FAFICH,UFMG.

Este evento pretende reunir, discutir e desenvolver trabalhos atuais nas
áreas de História da Ciência, Antropologia da Ciência, Sociologia da
Ciência e demais assuntos relacionados a CTS de forma geral.

Será um evento local (UFMG) com o objetivo de ampliar a comunicação
entre os diferentes pesquisadores (alunos e professores) da área na UFMG.

Cidades Brasileiras Campeãs de Desigualdade

Recebi um e-mail interessante do meu amigo Guilherme Risco. Traz uma reportagem da ONU com um gráfico sobre as cidades que apresentam os maiores coeficientes de Gini (medida de desigualdade) do mundo.

Eis que temos cinco metrópoles brasileiras entre as campeãs mundiais, mesmo com a contínua melhora da desigualdade no país como um todo a partir de 2001. As cidades mais desiguais do país são: Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza e São Paulo.

Para mim, as únicas surpresas são a liderança de Goiânia, um lugar pouco comentado quando se fala de indicadores de bem-estar do Brasil, e a ausência do Rio de Janeiro, metrópole que conseguiu transformar suas favelas em atrações turísticas para gringos. Brasília eu já tinha lido que era a cidade mais desigual do país, sobretudo por causa dos altos salários do funcionalismo federal, mas nunca visitei a cidade. Belo Horizonte tem suas favelas expostas nos morros, no meio dos bairros ricos, ainda que em menor quantidade que Rio e São Paulo. Fortaleza tem seu contraste social caracterizado pelas diferenças urbanísticas (e humanísticas) entre as três quadras mais próximas da orla marítima e a partir da quarta quadra do interior da cidade.

Eis o gráfico (clique para ampliar):

segunda-feira, outubro 27, 2008

Porto Alegre e a Pobreza Invisível

Meu mapa sobre a localização das favelas de Porto Alegre se espalhou pela Internet rapidamente. Li muitos comentários sobre por que não vemos, no nosso dia-a-dia, esses complexos de pobreza? Afinal, por que muitas pessoas, habitantes de Porto Alegre de longa data, continuam afirmando que a cidade "não tem favelas"?

Para responder essas perguntas, dei uma "enfeitada" no meu mapa (clique para ampliar):



Sublinhei em amarelo o Centro da cidade. Nele está localizada a Vila Chocolatão, uma pequena comunidade de carroceiros alojada em um terreno público não utilizado. Ao norte, está sublinhada em azul a chamada "Zona Norte", consistindo predominantemente de áreas comerciais e indistriais, assim como o aeroporto Salgado Filho. A pobreza nessa região está no seu noroeste, entre a Free-Way e a av. Voluntários da Pátria, o chamado "Núcleo Entrada da Cidade", e já abordado aqui no blog anteriormente.

Além disso, sublinhei em verde-limão os bairros residenciais mais tradicionais da cidade. Compreende duas áreas. A primeira, maior, está a leste do centro e ao sul da Zona Norte, sendo limitada pelos bairros do Jardim Lindóia, Passo da Areia, Jardim Europa, Chácara da Pedras, Jardim Botânico, a PUC, a av. Ipiranga e o Menino Deus. A outra, menor, conhecida como "Zona Sul", percorre o entorno do Lago Guaíba da Vila Assunção até o bairro Guarujá.

A maior parte das classes média e alta da cidade habitam essas áreas, e pouco conhecem sobre o que há entre elas. Por isso, as únicas vilas viséveis, para quem mora na Zona Leste são o beco Guaranha (uma comunidade quilombola na Cidade Baixa), a Vila Juliano (invasão no Jardim Botânico, meio escondida, difícil de ver), o quilombo da Família Silva, a vila Keddie (ambas no bairro Três Figueiras, um dos mais nobres da cidade), e a vila Cosme Galvão (no Passo da Areia). Na zona sul a pobreza é mais visível, ocupando o entorno dos bairros nobres e condomínios fechados.

O que essas vilas têm em comum, além da localização? Elas são pequenas, simples becos ou terrenos ocupados, sem proprietário definido. Os principais núcleos de pobreza da cidade estão em lugares onde poucas pessoas passam, mesmo de carro: a fronteira com Alvorada (vilas Santa Rosa e Safira), o morro Santana, a baixada entre a Protásio Alves e a Ipiranga, depois da Cristiano Fisher (vila Bom Jesus), o morro Santana (que, pelo mapa não tem NADA a dever para uma Rocinha-RJ ou para um Aglomerado da Serra-BH) e a região entre a av. Padre Cacique e a 3a Perimetral, próxima ao hipódromo e ao Estaleiro Só (vila Tronco, Cruzeiro e Foz Cavalhada).

A pobreza em Porto Alegre, como já se viu, está bem escondida. Mas deverá ser descoberta pela população e pela prefeitura aos poucos, conforme o mercado imobiliário for se expandindo para as periferias. Isso já está ocorrendo nos becos da Vila Jardim, no entorno do novo bairro Jardim Europa.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Meus Trabalhos na Internet

Os papers que eu apresentei pelo Brasil afora nesse ano não estão publicados em periódicos (apenas por enquanto, espero). Mas estão disponíveis no Google, nos anais dos eventos que participei.

Aí vão os links, para quem se interessar:

Os Programas de Pesquisa Lakatosianos e a Metodologia da Economia Neoclássica: Contribuições e Críticas - Paper escrito para a cadeira de Metodologia da Economia (2007/2), e apresentado no encontro da Anpec-Nordeste, em Fortaleza.

Crescimento Econômico e Restrições na Balança de Pagamentos: Uma Aplicação do Modelo de Thirwall para a América Latina e Caribe Utilizando Dados em Painel e Uma Aplicação do Modelo de Thirlwall-Mc Combie para a América Latina e Caribe Utilizando Dados em Painel - Paper escrito para a disciplina de Tópicos Especiais em Econometria - Dados em Painel (2007/2). A primeira versão apresentei no I Encontro da Associação Keynesiana Brasileira, em Campinas, e a segunda versão, melhorada, em um seminário interno do Cedeplar-UFMG. Infelizmente, não foi aceito no encontro da ANPEC nacional deste ano.

Já o mapa da pobreza em Porto Alegre, que fiz só de hobby e curiosidade, parece que já se espalhou pela Internet...

Sem Internet

Graças às tempestades que castigaram Belo Horizonte na semana passada, a placa de modem e o roteador da minha república queimaram. Enquanto não trocamos, estou sem internet em casa.

Agora não tenho mais desculpa para procrastinar minha dissertação.

quarta-feira, outubro 15, 2008

E o Nobel Vai para... Paul Krugman!

Paul Krugman levou o Prêmio Nobel de Economia este ano, graças a suas contribuições na teoria do Comércio Internacional e na Nova Geografia Econômica.

Krugman já estava sendo esperado para receber a láurea há algum tempo, mas graças a sua participação política ativa (pró Partido Democrata, dos Estados Unidos), acabou aguardando na fila durante anos.

Fiquei muito feliz pela indicação de Krugman, não apenas por seu trabalho nas pesquisas econômicas de ponta, como também com a didática com que escreve seus textos e livros, tornando a teoria econômica, mesmo avançada, de compreeensão acessível para quem ainda está estudando. Confesso que, de todos os manuais que estudei na graduação, o manual de Economia Internacional dele foi o que mais gostei, por combinar uma análise teórica em economia bastante consistente e completa com temas em fatos econômicos, história e política. Tudo em um texto muito agradável de se ler, além de útil para o aprendizado.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Para Entender a Crise Financeira

Recebi essa curiosa (e sincera) explicação sobre a crise financeira por e-mail. Essa historinha já está pipocando em vários blogs de economia pela Internet:

"O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça na caderneta aos seus leais fregueses, todos bebuns e quase todos desempregados.

Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito e o aumento da margem de lucro para compensar o risco).

O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível como chequinhos pré-datados, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia.

Uns zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO , CCD, PQP, TDA, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer. Ou seja, pegam mais dinheiro no mercado para financiar novos pinguços do seu Biu.

Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece, aliás nem querem saber (as tais cadernetas do seu Biu ).

Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.

Até que alguém descobre que os bêubo da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifu.

O pior é que a explicação é essa mesmo."

sábado, outubro 11, 2008

Mapa da Pobreza em Porto Alegre - Mapa Final

Após alguns meses pesquisando a localização das vilas e favelas de Porto Alegre, enfim consegui montar o mapa final da pobreza na cidade. Conforme extraí do Google Earth, tenho a seguinte imagem (as vilas estão destacadas em vermelho):



Como se pode ver, as princiais concentrações de pobreza na capital gaúcha estão nas ilhas do Guaíba (ainda que sejam favelas pequenas), no extremo norte da cidade, na fronteira com Alvorada, na encosta dos morros (morro Santana, morro da Cruz, morro da Polícia, morro Santa Tereza, morro do Sargento), e nas "baixadas", regiões de baixa altitude entre os bairros residenciais, que não são vistas das grandes avenidas de circulação (como a Vila Bom Jesus, a Vila Tronco e a Vila Cruzeiro). Além disso, a cidade conta com um bom número de vilinhas, isto é, pequenas favelas de dimensão inferior a uma quadra (e, que devido a problemas do Paint Brush, podem estar superdimensionadas no mapa). Essas vilinhas são mais comuns na região sul do que na zona leste, e nessa última, concentram-se ao longo da Avenida Ipiranga e no bairro Vila Jardim.

Pelo mapa, a maior favela da cidade é o complexo Partenon-Morro da Cruz, localizada na encosta norte do mesmo morro, e que circunda o presídio municipal.

No futuro, pretendo continuar publicando aqui no blog os mapas locais dos complexos de vilas.

As Causas da Pobreza - Simon Schwartzman

Comprei esse livro faz umas duas semanas, procurando um bom referencial teórico para o segundo capítulo da minha dissertação. Nessa obra, o sociólogo e cientista político Simon Schwartzman (FGV-RJ) faz uma síntese sobre os principais tópicos e hipóteses relacionadas à pobreza no Brasil.

No primeiro capítulo, o autor aborda as principais teorias sobre a pobreza, em nível nacional e internacional. A preocupação científica com a pobreza se iniciou no século XIX, como decorrência da Revolução Industrial. Antes disso, a pobreza era vista como uma situação natural da maior parte da humanidade, e tentativas de amenização, por obras de caridade, eram guiadas por princípios unicamente morais sobre a causa da pobreza de cada indivíduo. Assim, deveria-se priorizar a ajuda para os pobres dignos, incapacitados para o trabalho, e não para os indignos, vistos como vagabundos. Essa visão influenciou inclusive as primeiras teorias científicas sobre a pobreza no início do século XIX, como a de Malthus, para quem a pobreza era conseqüência da reprodução irresponsável das pessoas de menores dotações de recursos.

No Brasil, por outro lado, o pensamento social nacional só foi surgir no final do século XIX, com a criação das primeiras universidades no país. Em relação à pobreza, as teorias mais aceitas por aqui sempre tiveram um enfoque mais estruturalista sobre suas causas. O autor cita como exemplos as teorias racista, positivista, corporativista e marxista, que foram os principais paradigmas na academia brasileira. Por isso, o país sempre tentou combater a sua pobreza mediante políticas universais de acesso a bens e serviços públicos. No entanto, o autor defende que políticas focalizadas sobre a população mais sensível seriam mais eficientes, dada a limitação do orçamento do Estado.

No segundo capítulo, o autor diferencia (e relaciona) os conceitos de pobreza e de exclusão social. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental a sociedade industrial se desenvolveu pela rápida integração e polarização dos indivíduos entre capitalistas e trabalhadores, sendo esses últimos muito mais afetados pela situação de pobreza, ao passo que setores residuais da sociedade foram marginalizados, excluídos da nova situação sócio-econômica. Para o autor, no Brasil, ocorreu exatamente o oposto: até meados dos anos 30, capitalistas e trabalhadores assalariados eram residuais na sociedade, e o que predominava era uma minoria de grandes proprietários rurais e uma maioria de excluídos, tais como ex-escravos, trabalhadores rurais auto-empregados e imigrantes pobres. Esse fator foi decisivo para a composição dos problemas sociais no país, causados não por falta de "vontade política" para erradicar a pobreza, mas sim pela falta de acesso por muitas pessoas a serviços e direitos fundamentais para sua mobilidade e integração social, como a saúde, a educação, e o acesso à política.

Nos demais capítulos, o autor argumenta sobre as principais hipóteses a respeito das causas da pobreza no país. Segundo Schwartzman, a pobreza no Brasil contemporâneo, ao contrário do que muitos pensam, não está associada a discriminações de raça e de gênero, ou de exclusão política, ou de exploração no mercado de trabalho, mas sim às desigualdades de acesso e de qualidade da educação. Em um ponto polêmico do seu texto, o autor chega a afirmar que a baixa qualidade da educação pública no Brasil é o principal estímulo ao abandono à escola por parte de adolescentes de baixa renda, que decidem que o ingresso precoce no mercado de trabalho é mais favorável a sua situação econômica do que o estudo.

O autor conclui seu texto com um painel sobre entrevistas realizadas com especialistas da área de educação sobre o seu futuro na América Latina. Mostrou-se um consenso entre os entrevistados que o atual modelo educacional do continente é falho, e não se mostra capaz de reverter a situação social e econômica dos países. Além disso, ficou claro que a noção de que a profissão docente não tem conseguido acompanhar as crescentes exigências em termos de competência necessárias para ampliar a qualidade e a quantidade do ensino, e que os recursos do governo são restritos. Assim, políticas de melhorias do sistema educacional devem combianar, além de recursos financeiros públicos, recursos privados, recursos da comunidade, recursos tecnológicos, humanos, intelectuais e de informação, com o devido monitoramento técnico e estatístico sobre o impacto de cada tentativa de melhoria e a identificação das principais dificuldades.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Só para Lembrar

Hoje faz dois anos desde que fiz a prova da Anpec.

E faz um ano desde que relatei os fatídicos (e estressantes) dias.

domingo, outubro 05, 2008

O Trade-Off entre Quantidade e Qualidade da Educação, para as Famílias

Na Economia da Educação, há a teoria da existência de um trade-off entre quantidade e qualidade, para políticas educacionais. O mecanismo é o seguinte: se o governo investir na qualidade, as escolas exigirão mais tempo de estudo dos alunos, o que afastará os de menor dotação de tempo livre (ou os menos interessados no estudo). E, se o governo investir na quantidade de alunos matriculados, deverá baixar o nível de exigência no ensino de modo que a maioria dos alunos tenha condições de acompanhar o ritmo da escola.

Eric Hanushek (o bam-bam-bam da Economia da Educação) em um artifo de 1992, criou uma teoria segundo a qual fenômeno semelhante ocorre em nível familiar. Segundo essa teoria, as famílias maximizam uma função de utilidade envolvendo a quantidade e a qualidade do ensino dos filhos, sob a restrição da função de aprendizado de cada filho, uma restrição orçamentária e uma restrição temporal.

O trade-off entre quantidade e qualidade da educação das crianças decorre exatamente da limitação da dotação de tempo e de recursos pelos pais. O tempo dos pais pode ser dividido entre um "tempo público", em que atende todos os filhos ao mesmo tempo (como o ensino da linguagem, e de motivação aos estudos), e um "tempo privado", em que atende cada filho separadamente (como ajudar a fazer a lição de casa). Nesse caso, quanto maior for o número de filhos, menor será o "tempo privado" destinado a cada um, e, por isso, a qualidade da educação será menor para as famílias grandes.

Segundo o autor, os pais podem assumir três comportamentos distintos ao alocar seu "tempo privado" no estudo dos filhos:

1 - Alocação Não-Discriminatória: os pais dedicam a mesma quantidade de tempo ajudando o estudo de cada filho;

2 - Maximização do Ensino: os pais se preocupam que pelo menos um dos filhos tenha um ensino de qualidade, e, por isso, se dedicam mais aos filhos mais habilidosos (ou interessados) no aprendizado;

3 - Alocação Compensatória: os pais se preocupam tanto com a qualidade do ensino dos filhos como com a desigualdade entre eles. Por isso, acabam ajudando mais as crianças com maior dificuldade. Porém, em famílias muito grandes, isso acaba significando em uma menor ajuda para cada filho.

Testando empiricamente, Hanushek aceitou a hipótese de que os pais (em uma amostra norte-americana) têm um comportamento de Alocação Compensatória. Além disso, para dados níveis de renda permantente, o autor verificou que nem o trabalho das mães, e nem a estrutura familiar afetam a qualidade da educação dos filhos. Por fim, em famílias com poucos filhos (mais especificamente, até 4), a ordem do nascimento não afeta a qualidade da educação; por outro lado, em famílias grandes, os filhos mais jovens têm mais vantagem, já que tendem a receber maior atenção dos pais. Já os filhos mais velhos, recebem maior volume de atenção em seus primeiros anos de vida, porque a competição entre as crianças é menor. Por isso, os filhos de mais difícil aprendizado são os do meio.

Em resumo, é um paper muito interessante, e me ajudou muito no referencial teórico de demanda por educação, no meu artigo de Modelos Hierárquicos.

terça-feira, setembro 30, 2008

Porque Eu (ainda) Não Estou Preocupado com a Crise das Bolsas



E ainda, o Congresso americano recusou a colher de chá para os investidores falidos. Se por um lado, isso pode gerar uma crise de liquidez com impactos negativos de curto prazo sobre o crédito ao consumo e ao investimento produtivo, por outro lado, reduz o risco moral dos mercados financeiros americanos. Pois, a especulação de curto prazo no mercado financeiro é rentável exatamente porque é arriscada; se o governo assumir o risco dos agentes nas crises, espera-se que esses agentes realizem aplicações financeiras ainda mais arriscadas.

A bolha financeira estourou devido à valorização artificial das aplicações financeiras devido a pressões de demanda, pelos investidores. Porém, mesmo que a economia financeira internacional tenda a crescer mais do que a economia real devido ao aumento da velocidade de circulação da moeda, causado pelas inovações tecnológicas computacionais nesses mercados, ela não pode ficar eternamente descolada do seu equilíbrio, determinado pelos fundamentos reais da economia. Mais cedo ou mais tarde, era lógico que o mercado iria voltar para a sua trajetória.

Eu, que invisto em fundos de ações do Banco do Brasil, da Petróbrás e da Vale do Rio Doce, estou interessado no desempenho dessas empresas a um prazo de 10 ou 20 anos. Portanto, só me preocuparei com a crise financeira se ela afetar as decisões de investimento dessas empresas. Quem investe no curto prazo, esperando a valorização de ações em prazos de dias ou semanas, pode obter retornos maiores que os meus, se conhecer o comportamento do mercado. Mas deve assumir os riscos envolvidos nessas operações.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Pobreza, Exclusão Social e Modernidade - Simon Schwartzman

No momento, estou pesquisando sobre o conceito econômico de pobreza, formas de sua mensuração e seu comportamento contemporâneo no Brasil. Para isso, além de uma pilha de artigos, comprei dois livros do Simon Schwartzman, sociólogo e cientista político da FGV-RJ. O autor é especializado nas áreas de pobreza e desenvolvimento social, e faz uma boa ponte entre a economia e as demais ciências sociais nesses temas. Já tinha lido textos dele nas cadeiras de Política e Planejamento Econômico, na UFGRS, e Desigualdade e Pobreza, no Cedeplar-UFMG.

No livro "Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução ao Mundo COntemporâneo", Schwartzman faz uma boa discussão teórica e aplicada sobre os principais temas contemporâneos que relacionamos ao desenvolvimento social e à modernidade. O autor descreve as principais correntes de pensamento sobre o tema da evolução das sociedades humanas, passando por Adam Smith, Marx, Polanyi, Weber, Durkheim, Castel, entre outros, apontando os pontos fortes e as limitações de cada ponto de vista. Diversas interpretações sobre a existência de sociedades subdesenvolvidas são abordadas (e criticadas), como a escravidão, a teoria da dependência e o papel da cultura sobre as civilizações. Além disso, o autor aborda questões relacionadas com a educação, a tecnologia e os direitos humanos, os quais, no mundo moderno, são diretamente associados ao desenvolvimento sócio-econômico.

O autor, mesmo sendo caracteristicamente liberal, faz um bom diálogo com as correntes de pensamento social mais de cunho marxista, predominantes na academia brasileira. São usados argumentos sólidos para criticar a aplicação direta da teoria marxista da linearidade da história em relação ao caso brasileiro. Para o autor, o Brasil, assim como a maior parte dos países fora da Europa Ocidental e da América do Norte, nunca teve uma estrutura social dividida uma classe capitalista e uma classe operária. O que havia era alguns grandes proprietários de terras, escravos (reduzindo de magnitude a partir de meados de 1850), pequenos empresários urbanos e alguns trabalhadores livres assalariados. Mas a maior parte da população, desde o final do século XIX consistia de excluídos (o lumperproletariat, de Marx), tais como ex-escravos, agricultores familiares e imigrantes pobres, os quais não tinham nenhum papel na produção econômica central nacional (isto é, fazendas de cana-de-açúcar e café), e tampouco tinham lugar na política e nas instituições nacionais.

Por outro lado, o autor não definiu objetivamente nenhum conceito de pobreza, de exclusão social ou de subdesenvolvimento em seu livro. Apenas apresentou as idéias de outros autores e comparou com as suas próprias. Além disso, mesmo tirando conclusões práticas similares ao comum no mainstream econômico, Schwartzman se mostra muito relativista em relação aos aspectos mais teóricos e conceituais, como é comum em trabalhos contemporâneos de Sociologia e Ciência Política. Por isso, dificilmente essa obra terá espaço na minha dissertação. Mas como um livro para trabalhos de graduação, ou mesmo para o lazer, é uma leitura muito agradável e interessante.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Chuva de Granizo





Hoje, por volta das 3 e meia da tarde, caiu uma violenta chuva de granizo em Belo Horizonte. Pedras de gelo do tamanho de bolas de pingue-pongue caíram ininterruptamente do céu durante uns 15 minutos.

Para meu azar, estava na rua nesse momento, e fui metralhado até conseguir abrigo em uma loja.

E por ironia do destino, tinha saído de casa justamente para ir à farmácia comrpar Gelol.

terça-feira, setembro 16, 2008

Sobre "O Novo Plano de Defesa Nacional"

Novo Plano de Defesa Nacional Prevê Serviço Militar Obrigatório para Mulheres

Como amplamente divulgado na imprensa, o ministro Mangabeira Unger elaborou uma nova diretriz para a política de segurança nacional, que prevê o alistamento e o serviço militar de todos os cidadãos com idade apropriada, inspirado no modelo israelense de defesa militar. Segundo o ministro, o Exército deve ter um papel de "nivelar os brasileiros de diferentes classes sociais".

Contudo, ao meu ver, isso me parece mais uma proposta política dita "revolucionária", sem se preocupar com a gestão dos recursos públicos.

Em primeiro lugar, por que o modelo israelense deveria ser a inspiração da política militar brasileira, se o Brasil não tem inimigos no seu continente? Além disso, o único potencial adversário para um conflito armado envolvendo o Exército Nacional, as FARC colombianas, não tem tamanho e nem estrutura para enfrentar as forças militares brasileiras.

Em segundo lugar, o projeto político prevê que só serão aproveitados de fato no Exército os alistados que apresentam "boa forma física" e "bom conhecimento de asuntos militares", sendo o resto aproveitado para serviços mais rudimentares. Ora, veremos, portanto, mais um exemplo de regressividade do gasto público no Brasil, com o detalhe de que, nesse caso, os atingidos pela política serão compulsórios, isto é, não poderão nem mesmo ser considerados beneficiários.

Explico melhor, tomando o meu caso particular. Quando me alistei no Exército, no ano em que fiz 18 anos (2002), estava cursando o primeiro ano do curso de Economia na UFRGS. Sabia que eu não pretendia seguir carreira profissional no Exército, e, além disso, o serviço militar iria ocupar tempo necessário ao meu estudo, prejudicando minha atuação acadêmica. Então, pedi a dispensa, sendo, no momento da entrevista, sincero sobre meus motivos, e o oficial responsável foi naturalmente compreensivo. Assim, houve uma relação de duplo ganho entre o Exército e eu: o Exército não gasta seus recursos em quem não está interessado em seguir carreira, e eu não gasto tempo de estudo e trabalho em atividades nas quais não pretenderia progredir futuramente.

Por outro lado, para jovens pobres, muitas vezes desempregados (ou em empregos de baixa qualidade), de baixa instrução e poucas perspectivas na vida, o serviço militar é uma boa opção para o aprendizado de serviços técnicos (como mecânica, segurança, etc.), a certeza de uma boa experiência profissional, o recebimento de um soldo, e a esperança de seguir uma carreira. Por isso, o Exército tem mais vantagens em incorporar essas pessoas em seus quadros, e, para essas pessoas, o Exército serve como uma política social completa, que investe em seu capital humano e suas capacitações, além de proprocionar renda.

A proposta do ministro Mangabeira Unger significa, em resumo, na transferência de recursos públicos de pessoas pobres e interessadas para pessoas mais favorecidas economicamente e não-interessadas nos benefícios da política. Um retrocesso na gestão fiscal, em resumo.

É uma pena que a população brasileira, mesmo após vinte anos de regime democrático, continue refém de medidas arbitrárias e autoritárias de seus governantes.

quarta-feira, setembro 03, 2008

O Longo Amanhecer - Cinebiografia de Celso Furtado

O XIII Encontro de Economia Mineira, realizado na semana passada na cidade de Diamantina, se encerrou com a pré-estreia do filme "O Longo Amanhecer", uma cinebiografia de Celso Furtado. O documentário foi montado por trechos de vídeos históricos e pessoais da vida do célebre economista paraibano ao longo de toda sua trajetória, intercalados por depoimentos do próprio Furtado (no ano de seu falecimento, 2004) e de seus contemporâneos, como Maria da Conceição Tavares e Chico de Oliveira.

O documentário, mesmo elaborado antes do falecimento de Furtado, tem um tom muito melancólico. Os intelectuais entrevistados parecem estar o tempo todo se lamentando pelo fato de que seus ideais desenvolvimentistas dos anos 50 e 60 estão cada vez mais distantes dos projetos dos atuais governos brasileiros. O tom tristonho acompanha os depoimentos de Celso Furtado e de Chico de Oliveira em todo o filme, enquanto que a Conceição mantém seus tradicionais esbravejos raivosos. Seus alvos favoritos, culpados pela queda de seus ideais, não deixam de ser "as elites", "os interesses dos países centrais contra a periferia", "o sistema financeiro especulativo", etc.

Mas, pensando bem, será que o "nacional-desenvolvimentismo" deu tanto errado assim? Qual é o real motivo da aparente frustração desses pensadores? Ora, o regime de política econômica baseado no nacionalismo, na substituição de importações, no uso de políticas expansionistas, no apoio explícito à industrialização e na concentração espacial das atividades produtivas teve os resultados históricos que seriam esperados de acordo com a teoria econômica: estímulo aos investimentos, causando o crescimento econômico, mas com um grave custo social, em termos de desigualdade (pessoal e regional) e de pobreza acumulada na periferia das grandes cidades, provocadas pela emigração das regiões rurais estagnadas. A maior limitação desse modelo de política econômica de longo prazo, a meu ver, foi não ter dado a merecida atenção nas pessoas (assim como deu ao capital), em termos de capital humano, tal como investimentos em saúde, saneamento e, sobretudo, educação. Talvez dessa maneira os brasileiros poderiam desenvolver suas capacitações de modo a continuar o processo de desenvolvimento do país autonomamente, sem mais tanta necessidade do apoio governamental (tal como aconteceu nos Tigres Asiáticos) após a crise de seu endividamento.

No ano passado eu tinha escrito um post sobre a falta de novas idéias dos atuais pensadores brasileiros. Ao invés de procurar pensar o Brasil contemporâneo, urbano, prestador de serviços, globalizado e democrático, preferem remoer suas lembranças de sua juventude, e seus ideais sufocados pelo regime militar. E esse filme reforça ainda mais meu desapontamento. No caso de Furtado, Conceição e Chico de Oliveira, está tudo bem. Os "anos dourados" de sua atuação intelectual foram mesmo os anos do nacional-desenvolvimentismo. Mas em relação aos pensadores do Brasil atual, onde estão?

sexta-feira, agosto 22, 2008

Como Melhorar Seu Currículo

Recebi um e-mail muito divertido sobre técnicas para melhorar o currículo de quem está procurando emprego. O segredo é descrever as experiências de emprego anteriores utilizando um vocabulário pomposo.

Eis algumas dicas:

- Oficial Coordenador de Movimentação Noturna (Vigia)

- Distribuidor de Recursos Humanos (Motorista de ônibus)

- Distribuidor de Recursos Humanos VIP (Motorista de táxi)

- Distribuidor Interno de Recursos Humanos (Ascensorista)

- Diretora de Fluxos e Saneamento de Áreas (a tia que limpa o banheiro)

- Especialista em Logística de Energia Combustível (Frentista)

- Auxiliar de Serviços de Engenharia Civil (Operário de obra)

- Segundo Auxiliar de Serviços de Engenharia Civil (Servente)

- Especialista em Logística de Documentos (Office-boy)

- Especialista Avançado em Logística de Documentos (Moto boy)

- Consultor de Assuntos Gerais e Não Específicos (Vidente)

- Técnico de Marketing Direcionado (Distribuidor de santinho nas esquinas)

- Especialista em Logística de Alimentos (Garçom)

- Coordenador de Fluxo de Artigos Esportivos (Gandula)

- Distribuidor de Produtos Alternativos de Alta Rotatividade (Camelô)

- Técnico Saneador de Vias Públicas (Gari)

- Técnico responsável pela segurança de bens móveis (Guardador de carros -'Flanelinha')

- Especialista em Entretenimento Masculino (Prostituta)

- Especialista em Entretenimento Masculino Sênior (Acompanhante de luxo)

- Dublê de Especialista em Entretenimento Masculino (Travesti)

- Supervisor de Serviços de Entretenimento Masculino (Cafetão)

- Técnico em Redistribuição de Renda (Ladrão)

sexta-feira, agosto 15, 2008

A Seca na Paisagem de Belo Horizonte

Desde meados de abril, só vi um dia chuvoso em Belo Horizonte. A seca, como de costume, afetou a cor da paisagem da cidade. A cobertura vegetal, de cor verde-escura no úmido do verão, secou, tornando os morros que cercam a cidade, assim como as gramíneas, de uma cor vermelho-telha.

As fotos abaixo ilustram bem minha observação. A região é a Praça do Papa e a Serra do Curral, no limite sul da cidade (bairro das Mnagabeiras).

VERÃO (UMIDADE):

Praça do Papa

Serra do Curral

Serra do Curral



INVERNO (SECA):

Mangabeiras

Praça do Papa

Serra do Curral



Em resumo, uma boa sugestão aos paisagistas de plantão. Tirei as fotos em janeiro e em julho de 2008.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Impressões de Fortaleza

Este post está bem atrasado... Dediquei as minhas últimas semanas transformando meu antigo trabalho de modelos hierárquicos em um artigo, e deixei o blog às moscas.

Na semana em que fiquei em Fortaleza com meus colegas do Cedeplar, ocupamos três dias com o congresso regional da Anpec, e os outros quatro dias para conhecer a cidade, principalmente suas praias e sua vida noturna.

Em primeiro lugar, a impressão geral que tive da cidade é que é uma metrópole totalmente diferente de qualquer outra que visitei no período recente (como Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Campinas e Rio de Janeiro). Isso porque Fortaleza não parece ser uma metrópole (apesar de ter a quinta maior população do país), mas sim algo como uma aglomerado de pequenos balneários e cidadezinhas de aspecto interiorano, cada qual com sua dinâmica própria. O próprio centro da cidade parece mais um bairro histórico do que um Centro Comercial propriamente dito. Não se vêem os enormes prédios comerciais como os que têm nos centros de Belo Horizonte e de Porto Alegre, mas sim uma série de sobrados de arquitetura centenária, mas em mau estado de conservação. Além disso, o próprio comércio da cidade é mais disperso do que se esperaria em uma metrópole de seu porte, mesmo nos bairros mais nobres.

Por outro lado, as praias tem um visual muito bonito. Conheci as três praias que parecem ser as principais: Iracema, Ideal e praia do Futuro. Iracema, onde se localizavam os hotéis em que pousamos durante nossa estadia, é junto ao centro da cidade. O mar é quente, mas poucas pessoas se arriscam a tomar banho, devido à poluição. A areia é grossa, e relativamente mais escura do que as das praias do sul. A chamada praia Ideal é o bairro mais chique da cidade, pelo que percebi, e o seu urbanismo, em termos tanto de infra-estrutura, como de comércio, em nada tem a dever às praias nobres do Rio de Janeiro. A praia do Futuro é mais isolada da cidade, muitos de seus prédios são recentes, ou estão em construção. O mar lá é aberto (ao contrário das praias de dentro da cidade), de modo que é muito mais agitado, ainda que seja quente. Em geral, a água do mar é de um verde-claro, algo como um meio termo entre o azul do mar pernambucano e o verde do mar do litoral catarinense.

Um ponto de destaque nas minhas impressões sobre a cidade é a proximidade entre a pobreza e a riqueza no local. Lá, quase todas as quadras, mesmo as pertencentes aos bairros mais nobres, apresentam becos com mini-favelas. Isso se torna muito mais visível a partir da terceira quadra mais afastada da beira-mar. E ainda, no trajeto de Iracema para a praia do Futuro, o ônibus (de ótima qualidade, por sinal) atravessava uma enorme favela localizada no final da chamada "avenida da Abolição", próxima a praia Ideal. Nessa favela, não se via sinais de violência, mas o que mais chamava a atenção era o contaste entre os barracos de alvenaria simples e a magnitude das igrejas evangélicas, de arquitetura clássica, espalhadas pela comunidade.

A vida noturna de Fortaleza é muito intensa, e nos consumiu até as últimas energias (e também até os últimos centavos...). A cidade tem uma região chamada "Dragão do Mar", uma espécie de cluster de boates e barzinhos (algo como uma Savassi de BH, ou uma Lima e Silva de POA). E todas as boates e barzinhos que conheci eram muito agradáveis (minha favorita se cahamava "Orbit"), e de preços em conta para estudantes. As opções eram muito variadas, de modo a satisfazer até mesmo os visitantes menos fãs dos ritmos locais (como eu).

Combinamos, entre nossos colegas de Cedeplar-UFMG, que no ano que vem, para quem conseguir colocar artigos no congresso, de procurar conhecer as paradisíacas praias do litoral cearense no entorno de Fortaleza. Um bom incentivo a continuar pesquisando!

quarta-feira, julho 30, 2008

Arquivo X e Mario Quintana

Segunda-feira fui assistir ao novo filme do Arquivo X (Eu Quero Acreditar). De longe, foi o filme mais enfadonho que assisti nos últimos tempos. Conseguiram transformar uma consagrada série de mistério e suspense num dramalhão cheio de clichês existenciais.

Deixo para o Mario Quintana, em "Drácula e os Pesquisadores" (1988) a crítica fundamental ao filme:

"O que chateia nos filmes de vampiros não são os ditos vampiros - em geral uns verdadeiros amores no gênero - mas aqueles dois indefectíveis personagens: um que acredita em tudo e outro que não acredita em nada... Falta-lhes o espírito de disponibilidade - que talvez não seja apenas uma característica do homem moderno, e sim do homem eterno. Ou, no mínimo, do leitor inteligente."

No filme, os "vampiros" são trocados por um padre pedófilo com visões sobrenaturais e por um casal gay de cirurgiões russos psicopatas. Pior ainda!

sexta-feira, julho 11, 2008

Crescimento Econômico e Redução da Pobreza

Nas diversas disciplinas de Economia do Bem-Estar Social que venho cursando nesses últimos dois semestres, um dos temas mais interessantes é a relação entre o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida de uma população.

Até meados da década de 70, toda a economia do desenvolvimento supunha que um crescimento econômico elevado e sustentado era condição necessária e suficiente para que a pobreza fosse irradicada das economias. Por isso, suas discussões teóricas e empíricas se concentravam nos determinantes qualitativos do crescimento (como a indistrialização, o progresso tecnológico e a eliminação de gargalos de infra-estrutura), acreditando que o progresso humano viria como sua conseqüência natural.

Contudo, em testes empíricos e econométricos, a relação entre pobreza e crescimento é muito mais complexa do que se imagina. Um famoso estudo é o de Freeman (2001) para a economia norte-americana, utilizando dados de 1969 a 1999. O autor verificou que cerca de 7% da população do país apresentam características demográficas ou econômicas (como famílias chefiadas por mães solteiras, imigrantes de baixa qualificação, etc.) que a mantém abaixo da linha de pobreza mesmo nos períodos de elevado crescimento. Por isso, o autor afirma que o crescimento só consegue reduzir a pobreza no país se conseguir gerar empregos e elevação de salários reais de modo a incluir esses 7% da população. Contudo, a relação entre crescimento e salários reais vem se enfraquecendo muito a partir da década de oitenta.

Uma outra interpretação para esses mesmos fatos foi realizada por Hines et al. (2001). Os autores defendem que a pobreza é contra-cíclica, isto é, é amenizada pelo crescimento. Mas a extrema-pobreza, por envolver indivíduos menos integrados ao mercado de trabalho, é mais imune ao crescimento.

Outros autores vêem a relação entre pobreza e crescimento como simultânea. Isto é, o crescimento econômico cria os recursos para os investimentos no capital humano, e, ao mesmo tempo, depende da qualidade desse capital humano. Essa visão parece explicar as décadas de baixo crescimento dos países latino-americanos, após passarem por um modelo de desenvolvimento baseado na acumulação de capital físico e negligenciação dos determinantes de desenvolvimento humano da ótica das políticas públicas.

Por fim, é cada vez mais freqüente nas discussões sobre Economia do Bem-Estar e nas próprias teorias do crescimento a questão da direção do crescimento econômico. Segundo essa perspectiva, o impacto do crescimento sobre os indicadores sociais depende da sua própria natureza, que determina a sua direção entre os grupos de agentes econômicos. Por exemplo, se o crescimento for viesado para setores intensivos em capital e mão-de-obra qualificada em uma economia subdesenvolvida com alta concentração de renda, acabará beneficiando apenas os mais ricos, e a pobreza poderá até aumentar. Para que a pobreza ceda, é necessário que o crescimento atinja proporcionalmente todos os agentes da economia, ou então os mais pobres, configurando-se o crescimento pró-pobre.